Pedi informações deste camarada a todo bicho careta que andou pelo Niassa nos anos de 1966 e 1967, mas ninguém soube dizer-me o que fora feito dele, depois de evacuado para o hospital de Nampula (suponho).
Quando regressei de Nampula, onde tinha passado dois meses em tratamento, disseram-me que tinha levado 5 tiros e fora evacuado. Mas ninguém sabia dizer-me se tinha sobrevivido ou morrera.
Agora, de surpresa, encontrei esta foto no Facebook que, pelo menos, me garante que daqueles tiros se safou.
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O Zé Gato com quem estabeleci uma relação de amizade pertencia à CCS (Companhia de Comando e Serviços) do Batalhão 1891 (salvo erro) que ficou estacionada em Metangula, enquanto que as companhias operacionais foram distribuidas por Maniamba, Nova Coimbra, Lunho, Cobué, etc.. Como o Exército não tinha instalações na povoação, os soldados montaram as suas tendas de campanha contra o muro da nossa Base (um muro em blocos de cimento com cerca de 1,70 m de altura) e ali permaneceram enquanto durou a comissão. A fila de tendas vinha do topo norte, em frente ao Bar do Neves, até ao portão da Base Naval.
Essa proximidade fez com que se estabelecessem relações de amizade entre soldados e marinheiros e , às vezes, convidávamos algum a jantar connosco o que era um acontecimento para eles, visto não terem instalações para dormir ou tomar as refeições, viviam como cães ao relento. Foi assim que conheci o Zé Gato, no último trimestre de 1966, e nos fizemos amigos. Depois eu adoeci, com paludismo e mais algumas complicações à mistura (acrescidas de uma boa dose de malandrice) e obriguei (?) o nosso médico a mandar-me para Nampula. Quando regressei, em Abril de 67, já tinha acontecido a emboscada em que o Zé foi ferido e evacuado para o hospital.
Normalmente, iam para o hospital de Vila Cabral, mas depois da triagem os mais graves seguiam para Nampula ou Lourenço Marques. Ele pode ter estado em Nampula ao mesmo tempo que eu e a dois passos da minha pessoa, mas não tendo conhecimento da sua chegada era impossível encontrarmo-nos. Aliás, nessa época era um entra e sai de feridos provocados pelo rebentamento de minas o que valeu ao Niassa o nome de Estado de Minas Gerais. Houve mais mortos e, especialmente, feridos nas minas que a tiro. Para os turras era mais fácil enterrar as minas e porem-se a salvo, do que enfrentar a nossa tropa a tiro em que eles saíam sempre a perder. Por piada, eu costumava dizer que eles não acertavam um tiro porque já iam a fugir quando puxavam o gatilho. A correr para um lado e disparar para o outro não é fácil afinar a pontaria.
O Zé Gato foi ferido com uma rajada de metralhadora e ficou com 5 buracos de bala (segundo me contaram os seus camaradas) e não na emboscada que deu origem ao louvor recebido que podem ler acima e que saiu publicado, em Fevereiro de 1968, no Jornal do Exército. Depois de passar pelo hospital moçambicano deve ter sido evacuado para a Metrópole e acabado a sua comissão um ano mais cedo que o previsto.
A estes esforços eu chamaria uma grande capacidade de desvendar os mistérios da vida, aliada a uma vontade férrea de reviver o passado e os amigos dos bons e maus momentos já vividos...
ResponderEliminarAdmiro-o (também) por isso, caro Tintinaine.
E afinal, o Zé Gato ainda é vivo ou também já recebeu a guia de marcha lá pra cima?
Não sei, ainda não encontrei ninguém que me possa informar. Mas lá irei.
EliminarEsta história veio-me lembrar que também estive no Hospital de Nampula com uma polipose intestinal que quase me ia levando para o manêta...
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