Só vim aqui para vos dizer que a crise está quase debelada. A mão já reduziu de tamanho uns tantos por cento e já estou a teclar com mais facilidade. Só agora descobri quantas vezes se usa o "ç" na escrita em português, assim como o acento circunflexo, sem a mão direita para ajudar é quase impossível usar estas teclas. Neste momento, estou a teclar com as duas mãos e já tenho esse problema resolvido.
Mesmo assim, tenho que continuar com o braço na tipoia para evitar que a mão volte a inchar como estava há 3 ou 4 dias atrás, mais parecia um presunto alentejano!
Queria muito ir ao Porto ver o desfile do Dia da Marinha, mas é um sonho que será difícil, para não dizer impossível, de realizar. Conduzir não posso, mas mesmo com um chauffeur às ordens será difícil. As ruas vão estar todas fechadas com cancelas de ferro e a polícia a vigiar para ninguém as ultrapassar, ou seja, é preciso ter pernas para andar quilómetros. E isso é o meu maior handicap, há anos que não consigo andar mais de 500 metros de cada vez e descansar horas pelo meio.
E depois há outra coisa que me irrita nestas cerimónias, passam-se horas à espera que "as altas individualidades" cheguem e depois muito tempo para ouvir os discursos vazios com que nos presenteiam. Chega a hora do almoço e a gente com o sol a fazer-lhes ferver os miolos continua impávida e serena, à espera que Suas Excelências de dignem mandar avançar as tropas. E essas tropas sofrem tanto como eu, desde manhã cedo armadas e vestidas nas suas melhores roupagens estão ali, debaixo do sol inclemente que as vai assando sem piedade. Enquanto estive no activo, sempre me consegui safar dessas enrascadas, só em 1963 participei para recebermos o Américo Tomás, em Lourenço Marques. Só passei, em Lisboa, dois Dias de Portugal, num deles não fui destacado para essa cerimónia, em Belém, e na outra houve um cromo que me pediu para ir em meu lugar. Só tive que lhe dizer obrigado e fui passar o dia para outras latitudes.
Visitar a Sagres também gostava, uma vez que ela faz parte da minha história. Em 1962, veio ela do Brasil e foi preciso transformá-la para substituir a velha Sagres que estava amarrada ao cais da Base Naval para não ir na corrente do Tejo para fora da barra. E parte dessa tarefa calhou aos grumetes filhos da minha escola. A mim e mais uma dúzia de camaradas calhou-nos a parte de retirar o lastro do navio que é constituido por areão e tijolos burros ensopados em óleo queimado e água salgada que tinham acumulado no porão da quilha ao longo de muitos anos e em muitos mares. Dormíamos na velha Sagres e dávamos o corpo ao manifesto na Guanabara, assim se chamava o navio oferecido pelo Brasil, durante o dia. O trabalho era muito e as alegrias eram poucas.
É desta pequenas coisas que se faz a nossa História e assim quem entrar a bordo para visitar o lindo Navio Escola deve saber que aqui o marinheiro Carlos foi um dos andou a preparar a noiva para a poderem apreciar. Devia mandar gravar o meu nome na amura de estibordo para não passar ao esquecimento, o que é mais que normal neste mundo que vive a 100 à hora. Afinal já passaram 61 anos e morreu muita gente que passou pela Sagres e deu o seu contributo para a manter a navegar.
Outra coisa que queria mencionar aqui é o número de fuzileiros que juraram bandeira, há alguns dias. Foram 40 (?), apenas 40 o que compara com a minha escola que formou 300 (ou perto disso). E nos anos mais quentes da Guerra Colonial andava na ordem dos 600 fuzos formados em cada uma das duas incorporações. A partir de 65 passaram a ser 3 incorporações e mais tarde ainda foram 4 por ano, havia necessidade de formar muitos combatentes para ir para África.
Com nítidas melhoras à vista, convém não abusar, não lhe vá a mão ficar, não como um presunto, mas do tamanho do porco perto alentejano...
ResponderEliminarÉ o meu caro com a mão e a tipóia e eu com a perna esquerda e a meia elástica que já hoje voltei a calçar. Isto, se quisesse andar. E pronto. Foi remédio santo, até parece que me puseram uma perna nova.
Como vê todos temos as nossas mazelas, a idade não perdoa e os medicamentos que curam uns males, mas provocam outros, ajudam à festa.
Não tenha pena de não vir ao Porto! Eu, que estou perto de tudo, não me irei meter no mio da multidão. Vejo nas TVs e já me basta. O tempo em que corria Seca e Meca e o Vale de Santarém, já lá vai. Há que ter consciência das nossas limitações.
E pronto! Desejo-lhe a continuação de melhoras.
* porco preto, óbvio!!
ResponderEliminarBom dia amigo
ResponderEliminarRecordar também é viver e quando já não se pode viver a 100%, temos pelo menos a possibilidade de recordar.
Abraço e continuação das melhoras .
JR
Também dormi umas quantas noites na antiga Sagres e este post veio lembrar-me os ratos que por lá circulavam... A última vez que entrei no NRP Sagres foi em 2010 durante a Word Expo em Xangai.
ResponderEliminarNo fim do dia, passei por aqui para agradecer os vossos comentários!
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