quinta-feira, 1 de junho de 2023

Os heróis da Guerra Colonial!

 Só quem por lá passou sabe o que foi aquilo. Mortos, feridos e estropiados, ora física ora moralmente. A cambada que nos governa, hoje, já nasceu depois do 25 de Abril e não sabe o que isso representou nas nossas vidas. Muitos aleijados continuam vivos e ninguém os vê como heróis, só os mortos têm direito a uma lembrança, uma estátua ou um mural, onde o seu nome foi cravado na pedra.



No meu último post falei do Zé Gato (José Augusto Tavares da Silva) que foi evacuado para a Metrópole com 5 buracos de bala no corpo. Esse ainda teve direito a um louvor e um prémio atribuido pelo governador de Moçambique, mas herói não é, porque teve a sorte de não morrer.

Não sabia nada deste amigo e camarada que vi pela última vez por volta do Natal de 1966 e, ontem, gastei o meu tempo a investigar até descobrir a que batalhão ele pertenceu e a sua identicação completa. Não foi muito difícil lá chegar, até o compadre Eduardo ajudou com um comentário em que confirmou que foi o Batalhão de Cavalaria 1879 que foi substituir o seu, em Metangula. O Zé ficou lá para o que desse e viesse e o meu compadre veio-se embora satisfeito da vida por se ter safado daquela enrascada sem mal de maior.

Ainda não descobri se o meu camarada do Exército é vivo ou morto, mas descobri a pessoa que tem organizado, ano após ano, o convívio do Batalhão e vou tentar o contacto com ela para saber o resto da história.

O Ministério da Defesa devia mandar compilar uma lista de todos os combatentes que entraram nesta guerra e guardá-la como coisa importante na Torre do Tombo. Se o não fizerem, dentro de alguns anos ninguém mais se lembrará disso, será uma memória distante, como a Batalha de La Lys, em que morreram milhares de portugueses, em defesa de uma causa que não era nossa.

Nota-se que o Exército tinha uma orgânica montada e as unidades mobilizadas estavam muito bem documentadas, algumas até com foto de perfil de cada membro. Ao contrário, na Marinha nem sabem por onde a gente andou. Saía à Ordem do Dia que íamos destacados para o Corpo de Marinheiros do Alfeite e daí desaparecíamos a caminho de África. O comandante Sanches de Baena quis publicar um livro com esses dados e os erros são aos montes, assim como as omissões. Há camaradas meus que passaram anos em África e segundo esse livro nunca saíram de Lisboa.

A esquadrilha de lanchas do Lago Niassa viu por lá passar centenas de filhos da escola, mas saber quem e quantos foram só o diabo é que sabe. E sem essas lanchas a vida dos soldados que fizeram serviço naquela área teria sido um inferno muito pior do que já foi. Sem transportes, sem mantimentos e perdidos a mil quilómetros do Oceano Índico, acontecer-lhe-ia o mesmo que a David Livingston, morreriam no caminho.

Talvez ainda volte a este assunto de novo, dependente daquilo que descobrir sobre o herói aqui referenciado!

3 comentários:

  1. Não me lembrei de acrescentar que o Batalhão 1879 regressou a Portugal no paquete Vera Cruz, em fim de Fevereiro de 68, na mesma viagem em que regressou também a minha Companhia de Fuzileiros Nº 8.

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  2. Sobre o Volume I dos 4 livros publicados do Comandante Sanches de Baena... Sempre pensei que pelo menos os nomes/números de todo o pessoal da classe de Fuzileiros e respectivas Companhias/Destacamentos estava correcto.

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    1. Está muito incompleto e os que foram destacados para o Comando Naval nem sequer constam. Tenho alguns filhos da escola que estiveram comigo em Moçambique, na primeira comissão, e depois regressaram para o Comando Naval. Foram distribuídos por Porto Amélia, Metangula e Beira e já não aparecem no tal livro.. Os que foram em Pelotões de Reforço ainda contam, mas nem todos. Na minha Companhia e na CF3 faltam muitos nomes. Nas outras nem sei, pois não me dizem respeito e nem conferi.

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