O meu pai era agricultor, quem fazia a horta, na casa onde nasci, eram duas mulheres, a minha mãe para as tarefas mais pesadas e a minha avó para as mais leves, pois a idade já lhe pesava nos ombros. Os homens daquele tempo tinham trabalhos mais importantes para fazer e consideravam os cuidados a ter com a horta coisa de mulher. Não acho que esteja bem ou mal, é uma questão de repartir as tarefas por quem pode e tem tempo para as executar. Os homens do Minho, nesse tempo em que a agricultura - a que chamavam lavoura - constava de cultivar pão (milho) e vinho (verdinho daquele que a gente gosta), tinham o ano todo ocupado. Na Primavera as sementeiras, no Outono as colheitas. Durante o inverno as terras davam erva para alimentar vacas e bois que eram verdadeiras máquinas agrícolas. E as videiras, logo que caia a folha, era preciso podá-las, amarrá-las, preparando-as para o abrolhamento que pouco depois de aparecer já requeria tratamentos à base de sulfato de cobre, cal e enxofre.. Depois era esperar que as uvas começassem a pintar, enquanto se lavrava a terra para as grandes sementeiras de milho que era a base da alimentação das pessoas do Minho.
Na horta semeavam-se ou plantavam-se hortaliças, cebolas e alhos e em entrando Março havia que semear a batata que alimentaria a família durante todo o ano. Não era nada complicado, batatas e hortaliças cozidas e pão de milho para atestar o estômago. Era assim, antigamente, a pobreza era a moeda corrente e o conduto sá aparecia na mesa do rico. O pobre tinha direito a um frango ou um coelho, em dia de festa e pouco mais. Quando o mar se mostrava nosso amigo e deixava os pescadores encher o barco até à borda, ainda chegavam à aldeia sardinhas a «3 à croa» ou carapaus a menos de 1 escudo cada e nessas alturas havia festa em casa. Meia sardinha em cima de uma fatia de broa era comum em casa de pobre. Era comum salgar sardinhas, quando elas estão bem gordas, no fim do Outono, para servir de merenda a quem trabalha no campo, nos dias de inverno. Broa, sardinhas e vinho à discrição eram o luxo que se podia permitir, uma vez por outra, q quem se esfalfava a trabalhar a terra.
Mas, na prática não foi disso que eu vim aqui falar. Plantar árvores, de fruto e não só, está mais no meu modo de ver a coisa. Tal como o meu pai, acho que a horta devia ser feita pela minha mulher, mas ela não é de sujar as mãos e sobra tudo para mim. Ainda lhe fiz uma proposta de dividir o terreno em parcelas e, enquanto eu tratava da horticultura, ela trataria do jardim, mas ela disse logo que era muito melhor a colher as flores do que tratar das plantas que as dão. De rosas não gosta, porque têm espinhos, há dias encontrei-a a combinar com a minha filha arrancar as roseiras todas para poderem mexer no jardim sem picarem os dedos. Oh, minha Nossa Senhora! Acabou por ficar tudo para mim que tenho que cavar, amanhar a terra semear e plantar se quero ter algo para colher.
Gostava de ter mais terra para plantar mais árvores de fruto. Com macieiras e pereiras não tenho tido sorte nenhuma, ando nisto, há 20 anos, desde que me reformei e passo a vida a arrancar umas para plantar outras e todos os anos fico com o mesmo problema, se quero comer peras e maçãs tenho que ir comprá-las à frutaria ou ao mercado. Pinheiros e eucaliptos ocupam muito espaço e demoram muitos anos a crescer. Diz-se por aqui que madeira plantada por nós só será cortada pelos netos, por isso não me meto por esse caminho. Grandes árvores como castanheiros ou cerejeiras poderiam ser uma boa aposta.
Há pouco, estava ali deitado de papo para o ar, a fazer a digestão da posta de bacalhau que me saiu na rifa para o almoço e ia pensando que logo que venha o Outubro quero plantar alguma coisa. Nem que seja apenas para não estar parado e suar um pouco para libertar as toxinas do nosso corpo. mas no meu quintal não cabe mais nada, tenho que procurar algum terreno que haja por aí abandonado para dar largas ao meu espírito de fruticultor.
Ao pensar nisto deu-me vontade de rir! Tenho meu quintal dividido em 4 partes, topo norte, topo sul, centro esquerda e centro direita. O topo norte está reservado para as habilidades jardineiras da minha mulher (tesourinha na mão para cortar as flores que lhe agradam). O topo sul é só meu, onde tenho uma pequena horta e crio umas quantas galinhas. o centro esquerda é um pomar de laranjeiras e limoeiros por baixo dos quais o meu cãozarrão vai largando uns presentes. O centro direita está vedado ao cão para me permitir ter alguns feijões verdes, uns morangos, uns tomates (alfaces não que os caracóis comem tudo) e milho no pico do verão quando a terra não dá mais nada. O milho está caro p'ra burro e as galinhas precisam dele para pôr uns ovinhos que prestem.
Ás tantas, o que vai acontecer é ficar quietinho a gozar os dias que me restam, pois se plantar um pomar, agora, o mais certo é morrer antes que as árvores comecem a dar fruto!
A agricultura esta mal : cada vez ha mais nabos e os grelos estao murchos .
ResponderEliminarBoa semana a todos ...
Bom dia
ResponderEliminarEnquanto miúdo e adolescente ainda trabalhei nas terras, pois a minha mãe tinha algumas arrendadas e eu tinha de cegar a erva para alguns animais que tínhamos em casa para além de semear e colher batatas e milho e tudo o que diz respeito à agricultura .
Atualmente não tenho terra nenhuma, e também não sei se me queria dedicar a isso .
JR
Quem não gosta da terra merece morrer à fome!
EliminarSol na eira e chuva no nabal / Seria uma delícia para todos.
ResponderEliminarMas como está, não está mal / Aceitamos o que há e haja saúde a rodos.
🐔 🎃
Que remédio! Não temos a quem reclamar!
Eliminarkuşadası transfer
ResponderEliminarfoça transfer
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