terça-feira, 13 de junho de 2023

O pássaro, a pássara e a passarada!

 Pois é, há dias para tudo! Hoje, que é o dia de Santo António, padroeiro de Lisboa, eu devia falar dele ou das marchas que o PR foi ver e achou muito bonitas. Eu também achei, não sei explicar porquê, mas pareceram-me mais bonitas que em outros anos, mas posso ter estado desatentos no passado. Em vez disso resolvi falar da passarada que anda doida a fazer o ninho, pôr os ovos ou tratar dos pequenotes já nascidos e de bico aberto à espera de qualquer coisa que se engula.

Não liguem muito ao título que escolhi, pois, por momentos, fugiram.me os pensamentos para outro lado e escrevi algo que, talvez, nem todos compreendam.

Este passarito que vêem na imagem é um rabo queimado. Aparecem alguns aqui no meu quintal, embora haja mais melros, rolas e tarrotes (pardais do telhado), além de gaivotas que sobrevoam a horta, durante todo o dia, de olhos bem abertos, para ver se avistam qualquer coisa que lhes agrade. E aliviam a tripa, enquanto voam, pintando tudo de branco por onde passam.

Como todos os rapazes em idade escolar, eu também andei à procura de ninhos e fiz alguns esforços para conseguir chegar a alguns que eram quase inacessíveis. Rolas, gaios, pegas e corvos eram os mais raros e mais difíceis de encontrar e quando se encontravam, estavam em lugares, praticamente, inacessíveis, tipo, na crista dos pinheiros mais altos. Diziam que era possível pôr um corvo ou uma pega a dizer algumas palavras e andava tudo louco para tentar apanhar um ainda no ninho, pois a voar nunca os conseguiriam apanhar. No colégio de Coimbra, onde passei quatro anos da minha vida, havia uma mata como eu nunca tinha visto. Não havia pinheiros nem eucaliptos, como havia na minha terra natal, nem mato, daquele que pica as pernas a quem se mete pelo meio dele. Nessa mata do colégio era uma alegria ir aos ninhos, as árvores tinham ramos até ao chão e eram facílimas de trepar. Uma festa para este rapaz que nada o fazia desistir de qualquer empreitada por mais encrencada que parecesse.

Mas também não foi para descrever isso que aqui vim. Estou a olhar pela minha janela e vejo um passarinho, pousado no galho de uma árvore que me parece um «Chasco». Nunca ouviram esse nome? É natural, cada terra tem seu uso, cada roca tem seu fuso e até os nomes da passarada variam de terra para terra. O nome deste pássaro advém da sua forma de cantar, se se pode chamar cantar ao som que ele emite pelo bico fora. Um som que é mais ou menos assim - unchachacha, unchachacha - e enquanto emite esse som flete as perninhas até chegar com o peito ao chão. Na minha interpretação aquilo quer dizer - estouaqui, estouaqui - diz ele para avisar a fêmea que deve andar por perto. Se alguém conhecer e souber o nome científico deste pássaro, agradeço que mo digam.

Este pássaro faz o ninho no chão, entre tojos de mato, o que é uma alegria para as cobras que andam por ali à procura de alimento. Não era ninho que nós gostássemos de procurar, andar a remexer o mato picava os dedos e era preferível evitar. Os melros e as serezinas faziam os ninhos nos ramos das videiras e eram muito mais fáceis de abordar. E os melros eram pássaros muito finos, se a gente mexesse nos ovos que estavam a chocar, nunca mais lá voltavam. Abandonavam aquele e iam fazer outro ninho mais bem escondido.

E a chincharabelha alguém conhece? É um passarinho pequeno que tem as penas numa linda combinação de preto e branco a fazer lembrar as camisolas do Boavista, embora não seja aos quadradinhos, é mais às riscas. Na minha terra havia uma cantilena que as crianças cantavam, quando as viam aparecer na Primavera e que rezava assim: - Chincharabelha em cima do muro, treme-lhe o cu como um figo maduro!

Tudo isto era num tempo em que não havia Costa nem Marcelo, Galamba ou Medina. Se os políticos já eram malandros e ladrões não sei, mas pelo menos ninguém falava nisso, havia muito respeitinho. Na escola tínhamos o Salazar e o Carmona por cima do quadro negro e aprendíamos a cantar o Hino Nacional e também o da Mocidade Portuguesa. Era melhor, era pior? Sei lá, eu ia aos ninhos e o resto não me preocupava!

6 comentários:

  1. Bom dia
    Quando vi o título pensei que ia aparecer por aí uma passarinha (se é que me faço entender).
    A Chincharavelha posso até conhecer mas por esse nome não vou lá.

    JR

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    1. Hei-de fazer uma pesquisa e ver se encontro fotos desses passarecos para publicar aqui. Passarinhas não que é proibido!!!

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  2. Passarada é o que mais tenho mais por aqui. Alguns como o Megpie tem por desporto atacar os carteiros. Outros como o Myna andam em pares e cagam tudo... Mas há ainda uns malukos que roubam tudo o que seja de cor azul. Molas da roupa azuis desaparem como por milagre.

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    1. Aqui no meu burgo são as gaivotas que roubam e cagam tudo, um terror!

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  3. Mal encetei a leitura deste texto, quiçá de duplo sentido, mas que no início me deixou boquiaberta pela estranha coincidência, no que às Marchas de Santo António respeita.
    É incrível...comigo passou-se rigorosamente o mesmo. Em anos anteriores achava qua as Marchas eram mais do mesmo e pouco via. Pois a noite passada comecei por ver as Marchinhas da criançada e fui noite adentro a gostar de as ver. O que eu gostei do Bairro da Penha de França! Lindíssima nos volteios e nos arquinhos.
    Com tanto benfiquista em Lisboa sempre pensei que a vencedora fosse a de Benfica, mas não, ganhou a do miúdo da Bica, ou seja, a do Bairro da Bica.
    E, por falar em Bica, bico e bicadas, por aqui vejo logo pela manhã melros de bico amarelo:
    "O melro, eu conheci-o
    Era negro, vibrante, luzidio
    Madrugador, jovial"

    Não sei se sabe do que falo, mas também não interessa nada.
    Gosto das pequeninas lavandiscas, sempre aos saltinhos.
    Agora essas tais chincharabelhas, não faço a menor ideia do que seja.
    Se calhar são as tais passarinhas. São?

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    1. O melro de Guerra Junqueiro. Não conhecia, mas fui dar uma espreitadela com a ajuda do Sr. Google. As chincharabelhas são uus passarinhos engraçados que gostam de andar nas figueiras saltitando de ramo em ramo. As lavandiscas são muito ariscas, não há quem as apanhe!

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