Só na Marinha se usa a expressão «Filho da Escola» e isso tem uma explicação simples. Antes de abrir a Escola de Fuzileiros, em 1961, em Vale de Zebro, havia apenas uma escola por onde passava todo e qualquer marinheiro que se alistava na Armada. Era a Escola de Alunos Marinheiros, em Vila Franca de Xira. À beira-rio, como convinha a quem tinha que se formar nas artes nauticas. Portanto, e muito simplesmente, filho da escola queria dizer marinheiro e é assim que continua a ser entendido. É ou foi marinheiro? É um «Filho da Escola».
Pensei nisto ao ver esta fotografia que me fez lembrar uma visita que fiz à cidade de Alpalhão (Alto Alentejo), no ano de 2013. Terminado o convívio que organizei e se realizou em Pernes, Santarém, parti rumo ao Alentejo para matar saudades. Alpalhão não era o meu destino, mas ao passar por lá lembrei-me de um filho da escola que lá reside e não pôde ir ao convívio por razões de saúde. Quis visitá-lo para dar-lhe um abraço e desejar-lhe as melhoras.
Saquei da lista que trago sempre comigo (quando ando nessas organizações), verifiquei a morada e para lá me dirigi. Bati à porta e apareceram-me duas mulheres, a esposa e a filha do fuzileiro que eu procurava.
- Então, o Jaquim não está em casa?
- Não, foi dar a voltinha do costume.
- E vai demorar muito?
- E vai demorar muito?
- Pelo costume deve demorar aí uma horinha.
- Oh, diabo, e eu que vim de tão longe para o ver.
- Se quiser encontrá-lo não é difícil.
- Então diga-me lá onde devo procurar.
- Ele faz sempre o mesmo trajecto. Vai pela estrada de Castelo de Vide até ultrapassar o cemitério, dá meia-volta e regressa a casa. Basta meter por essa estrada que o encontra de certeza, ele ainda não deve ter chegado ao cemitério.
Permitam-me interromper aqui este diálogo para lhes contar outra coisa que a senhora mais velha me confidenciou. Disse-me ela que o marido sofria de um cancro na próstata, já tinha sido operado duas vezes, não conseguia reter as urinas e andava muito desanimado. Mais uma razão para eu o ver, pensei eu, e abalei a caminho cemitério de Alpalhão.
A imagem que vos mostro acima dá uma ideia do que eu vi quando o avistei, naquele dia. E ao pensar nisto veio-me à ideia que ele bem pode ter já partido a caminho do cemitério, naquela viagem em que vamos deitados e com os pés para a frente. Com a doença que o afligia pode muito bem ter acontecido!
Pois, é a vida o destino de cada um e o fim de todos nós.
ResponderEliminarBom domingo vota bem, vota mamocas!
Não tenho dúvidas de que és dotado de valores que importa preservar, uma vez que sabes distinguir o que é importante do acessório e, porque assim é, a fotografia do nosso filho da escola demonstra o quanto não és indiferente à fragilidade de outros . Sim, procuraste alguém que, infelizmente, face ao retrato, se encontrava numa situação que dá que pensar ... . Pelo nome, não faço a mínima ideia de quem se trata, mas, seja como for, a atitude em questão não deixa de ser louvável . Quadros destes deviam ornamentar espaços de lazer e de meditação, se é que ela existe, dos bandidos que, a vários níveis, por aí andam à solta . Olhar quem fomos e ao que podemos chegar, é mais do que suficiente para que possamos pensar mais no comum e não no individualismo selvagem em que vivemos . Espero que votes ou tenhas votado em quem merece, visto que eu penso ter feito o mesmo ; sim, como podes calcular, não é fácil darem-me a volta . Um abraço .
ResponderEliminarA imagem mostra na realidade, como é a vida actual de quem caminha para o fim da vida. Cujo o destino é o cemitério. Nas mulheres é o cancro da mama, nos homens é o cancro da próstata! Não há quem nos livra da morte. Haja ao menos quem nos livre do sofrimento enquanto vida!
ResponderEliminarPara tudo há explicação, e foi isso que tu fizeste para justificares as palavras que bem escreveste!
Mais cedo ou mais tarde, todos lá vamos ter. E eu penso que quanto mais tarde melhor.
ResponderEliminarAbraço