Os falantes de inglês têm uma palavra - ver título desta publicação - que define uma situação que é difícil ultrapassar. O termo que lhe corresponde, em Português, parece ser "engarrafamento", por exemplo, no trânsito, mas não tem mesmo nada a ver com o significado natural da palavra que traduz o acto de engarrafar. Bem, como hoje escolhi falar da situação que se viverá, a partir de hoje, em Portugal, o chamar-lhe engarrafamento, confusão ou obstáculo impossível de ultrapassar vem a dar no mesmo, na minha cabeça, enquanto vou teclando estas linhas será o "bottle neck".
A normalidade a que o país tenta regressar, depois do confinamento de 60 dias, vai esbarrar em várias impossibilidades que levarão ao tal bottle neck que deixará toda a gente à beira de um ataque de nervos. Pensei nisto ao ler vários trabalhos literários acerca do futebol e aos problemas que isso levanta. É natural considerar que o futebol, como grande indústria do entretenimento que é, não poderá sobreviver sem público e sem as fenomenais receitas de publicidade que ele potencia. Aguentar 6 semanas para acabar a presente época talvez consiga, mas depois disso vai ser preciso abrir as portas e confiar no bom senso do pessoal.
Isso é no futebol que não é, chamemos-lhe assim, um bem de primeira necessidade, mas se pensarmos no trabalho, em geral, que nos fornece os meios de sobrevivência, a coisa muda de figura. Ao trabalho (emprego) todos temos que regressar, sob pena de não termos com que sobreviver. Ganhar o pão-nosso-de-cada-dia é, será sempre a primeira propriedade de todas a que é impossível fugir. E é isso que vai criar o tal bottle neck que é impossível de evitar. Regressar ao trabalho significa pôr os transporte públicos a funcionar a todo o gás, o mesmo acontecendo à restauração, pois quem trabalha também precisa de se alimentar. Não estou a ver os portugueses regressarem ao velho hábito de levar a marmita com o almoço.
E não é com as medidas, pormenorizadamente, explicadas pelo nosso PM, sobre a disposição das mesas no restaurante, ou dos assentos no comboio, metro e autocarros que lá vamos. Acredito que dentro de uma semana vai ser "tudo ao molho e fé em Deus". Chegar atrasado ao posto de trabalho não será opção para empregados e empregadores e ter duas ou três horas para almoçar também não me parece exequível, portanto ... vai ser uma corrida e o resto logo se vê. Com sorte o vírus não é tão mau como o pintam e vai deixar o mundo rolar.
Para o fim deixei o caso mais flagrante de todos, a ida à praia. Aí é que a porca vai torcer o rabo, alguém imagina uma praia com uma caixinha de senhas na entrada para cada um marcar a sua vez? Esperar que um cliente saia para entrar outro? Limitar a 4 horas a permanência de cada grupo na areia da Costa da Caparica para dar uma chance a todos de se bronzearem? Nem pensem nisso, quando abrirem as portas entra tudo, e se não houver porta saltam a cerca. Tal como acontece com um rebanho de ovelhas, quando avistam um prado de erva verde, desatam a correr, umas atrás as outras e não há forma de as conter.
Eu não sou fã de praia, prefiro as montanhas e os vales verdejantes do interior, as sombras aconchegantes que nos protegem do sol abrasador de Julho e Agosto, a gastronomia e outras coisas boas que Portugal tem, por isso não entendo o frenesim que os citadinos sentem pela praia. A mim só me faz dor de cabeça e, com toda a certeza, não vou contribuir para o aumento do bottle neck. Mas vou rir-me muito dos esforços que as autoridades vão fazer para controlar « as ovelhas».
As pessoas é que têm que se adaptar ao meio ambiente em que vivem. Não é o meio ambiente que tem que se adaptar às pessoas. Enquanto as pessoas não se convencerem de que a força da natureza é invensível, a vida neste mundo continuará a ser de mal para pior. Eu também gosto de ir à praia, mas este ano por motivos de força maior não estou pensando em lá pôr os pés. O direito à vida está primeiro do que todos os vicios que não me conseguem controlar, porquanto eu é que os consigo vencer. Por causa de muitas pessoas não se saberem controlar, é que só se lembram de Santa Bárbara quando troveja. Para controlar um rebanho de ovelhas de quatro patas, como esse que se vê na imagem, basta um maioral/pastor e um cão!
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