China e Índia, dois países vizinhos duas realidades diferentes. Nesta coisa da pandemia actual nunca poderiam ser muito diferentes se não houvesse tantos factores que os diferenciam. O primeiro de todos eles é o clima e o vírus gosta do clima da China e não se dá muito bem com o da Índia. Do lado contrário está a pobreza e o controlo estatal, em que uma é maior de um lado e o outro é, como todos sabemos, o «modus vivendi» na China maoista.
Como não poderia deixar de ser, o vírus também chegou à Índia e usou essas duas características para lhe servirem de muletas e se espalhar entre os indianos. A pobreza, por um lado, e a total falta de controlo sobre a imensa população, por outro, podem fazer da Índia um alvo fácil para o bichinho que ataca os pulmões e deixa as pessoas sem fôlego para continuar a viver. Só espero que o clima quente deste país venha em sua ajuda e não deixe o bicho espalhar-se, como fez nos Estados Unidos ou na Europa. No entanto tem vindo a crescer e já ultrapassou a China em número de infectados.
Esta reflexão fez-me recordar a viagem que fiz à Índia, em 1999. Fui directo a Bombaim (Mumbai na actual designação) e fiquei instalado no hotel mais caro da cidade, o Taj Mahal, que a minha agência de viagens tinha aproveitado por metade do preço numa campanha especial de promoção turística.
Descrever este país ou o que ali se passa é pouco menos que impossível. É preciso ir lá e mergulhar no meio do caos citadino, no comércio de rua e na miséria que envolve toda a cidade que tem mais habitantes que Portugal inteiro, para ficar a conhecer um pouco do que ali se vive. Uma coisa que me atingiu de repente foi a quantidade de crianças que andavam pelas ruas de Bombaim e se penduravam nos braços dos turistas pedinchando uma moedinha.
O meu segundo dia na cidade foi um domingo e, depois de ter engolido o pequeno almoço, resolvi ir até ao paredão da baía, em frente ao hotel e dar umas esmolas à criançada. Troquei uma nota de 10 dólares em notas de 10 rupias (que nem chegava para tomar um café), metias num bolso das calças e aí vou eu armado em Padre Américo. Dei uma nota à primeira criança que se aproximou e outra logo de seguida a uma mão que se estendia para mim. Depois disso, foi um reboliço total, fez-me lembrar das pombas que vivem na Praça do Almada, aqui na minha terra de acolhimento, quando alguém lhe atira um punhado de milho e elas mergulham todas ao mesmo tempo, batendo as asas em redor, mais para afastar as concorrentes do que para se equilibrar. Assim aconteceu comigo, uma miudita pendurou-se no meu braço direito e deixou-me sem acesso ao cofre das notas de 10 rupias.
Vi-me rodado de umas dezenas de crianças de braço estendido, algumas das quais se agarravam às minhas roupas para eu não lhes fugir. A muito custo consegui retroceder até ao hotel e o porteiro veio em meu auxílio, afugentando os meus perseguidores. Depois de ter corrido com a criançada para longe, veio ter comigo e avisou-me para nunca dar esmola na rua, pois me arriscava a ser assaltado, roubado e maltratado pelas crianças mais crescidas e até adultos que andam sempre por perto. Como resultado fiquei com a maior parte das notas de 10 no bolso e vi-me grego para me libertar delas.
O Taj Mahal Hotel foi alvo de um ataque terrorista em 2000 e qualquer coisa (?!) e embora tenha perdido o brilho da clientela continua a ser uma referência na antiga cidade portuguesa de Bombaim (Boa Baia)… Na India-hindu dar dinheiro aos pobres Dalits é um convite para problemas. O melhor da India na minha opinião (e na do Vasco da Gama) encontra-se no Estado de Kerala.
ResponderEliminarGosto destes seus post de recordações.
ResponderEliminarEm género de crónicas de viagens, davam um bom livro.
Abraço, saúde e bom fds
Ao ler esse texto, recueio ao ano de 1968. mês de Maio, quando a caminho de Angola passei por Cabo Verde. Ilha de São Vicente, cidade do Mindelo. Nunca, em toda a minha vida, tinha visto tantos miúdos a pedir, deixa tirar a poeira dos sapatos, em troca de 5 tostões.
ResponderEliminarA China segundo oiço dizer, não conheço, de que é um pais, fortemente, industrializado. Poderá ter muita riqueza, mas também estará inundado de pobreza. A riqueza gera pobreza e à conta da pobreza vivem os calhordas com tudo do bom e do melhor!
Bom fim de Semana.
Corrijo: Recuei.
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