Ao longo da vida conhecemos pessoas de todo o tipo. Algumas cultas, com quem vale a pena trocar dois dedos de prosa, outras engraçadas, com quem é certo e seguro dar uma boa gargalhada, e ainda outras que seria melhor nunca se terem cruzado connosco.
Na minha tarefa profissional, como responsável pela gestão e aprovisionamento de matérias primas, conheci centenas de pessoas de todos os credos, cores, Línguas e raças. Com todas tive que me entender, umas com prazer e outras com grande sacrifício. E havia uma pessoa, em particular, de quem me lembro muitas vezes. Era um homem, ligeiramente mais velho que eu, e desempenhava as funções de vendedor, numa das maiores fábricas de tecidos do Vale do Ave.
Ele chegava, estendia-me a mão e depois do forte e bem abanado aperto, me perguntava de imediato:
- Queres saber a última?
E lá contava a anedota que trazia engatilhada, talvez ouvida de algum cliente anterior, e a seguir a essa vinham outras, fazendo do primeiro quarto de hora da entrevista um momento de alegria e boa disposição. O que era bem preciso, pois chatices não faltariam a seguir, porque muitas das suas visitas eram para discutir, reclamações e devoluções dos tecidos que me vendia.
Um dia, ainda com a mão apertada na minha, disparou:
- Sabes a diferença entre medo, pânico e terror?
Sabendo que vinha aí malandrice, respondi-lhe logo que não. Enquanto o conduzia à sala e à mesa, à volta da qual nos sentávamos, ele foi começando.
- Medo é quando decides saltar nos figos da tua namorada e tens medo da sua reacção. Pânico é quando, uns tempos depois de casado com ela, pela primeira vez, tentas dar a segunda e o pau não se levanta. E terror é quando, depois de passados mais uns bons anos, tentas, pela segunda vez, dar a primeira e o teu "amigo", com quem nasceste e hás-de morrer, te deixa ficar mal.
Lembrei-me disto, hoje, ao ver o medo da minha mulher que disse que vai ficar em casa, não vai até ao café tomar o pequeno almoço com as amigas, não vai às compras, nem deixa os netos chegar-se ao pé dela para lhe dar um beijo. Ela tem tanto medo de morrer que já deve estar na fase do terror com o famoso vírus dos olhos em bico.
O problema é que ninguém gosta da morte e ela anda livremente a circular. De tal maneira que a maior rede de viagens que há por aqui 'a Flight Centre' vai fechar 100 lojas… Ninguém neste momento quer expor-se a um vírus que mata que se farta.
ResponderEliminarOs alarmistas se aproveitam do que de menos bom está acontecendo. Para lançarem o pânico no seio da população, sem que isso os incomode. Todavia, não será motivo, para se perder o animo e a vontade de conviver com os amigos. Não se ignorando, no entanto, as medidas de prevenção.
ResponderEliminarBoa Sexta-feira 13.
Engraçado, que pode não ter graça nenhuma . Também a minha " patroa " que, normalmente, tem razão em muito do que me observa, está com alguma resistência e pessimismo para sair de casa ; isto é, condicionou o menos possível as suas saídas/deslocações . Já quanto a mim, que sou um pouco baldas e muito menos disposto a cumprir regras impostas ou recomendáveis, desde que contrariem os meus pontos de vista, não sirvo de exemplo para ninguém ; tanto assim que, durante dúzias de anos, tive responsabilidades profissionais de grande exigência e sempre dotei o mesmo comportamento perante muitos daqueles que dependiam de mim, permitindo-lhes a maior liberdade e exigindo-lhes a máxima responsabilidade e, vejam bem, pude concluir que me aproximei do que estava certo . Agora, com tanta confusão, parece que ando um pouco perdido e cheguei à conclusão que, reformado/aposentado, é quase igual a morto ; seja como for, estou-me nas tintas para a morte e não quero sofrer por antecipação ; tentando, isso sim, tirar partido do que está ao meu alcance, enquanto puder e, depois, logo se vê . Atento a esta teimosia, lá vou continuando nas andanças habituais, embora a ficar surpreendido com o que vou constatando, na medida em que o Covid - 19 se tornou uma realidade e, nesta altura, é imprevisível a dimensão das suas consequências ; portanto, vale mais prevenir do que remediar . Por mim, que gosto de boa mesa e, sobretudo, do bom vinho, vou insistido em hábitos adquiridos ; todavia, o restaurante em que vou com alguma frequência, mesmo hoje, estava reduzido a cerca de 20 % do seu habitual, o que não pode deixar de ser um alerta digno de registo e que vai ao encontro de muitas restrições a vários níveis da sociedade portuguesa . Assim, creio que chegou a hora de se encarar o problema de forma séria e sem demagogias ou especulações, uma vez que o mal é global e não acontece só aos outros ... Um abraço .
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