domingo, 26 de dezembro de 2021

Uma prenda amarga!


António era um menino feliz. Tinha feito 7 anos em Fevereiro e, há pouco mais de um mês tinha entrado para a Escola Primária. A casa dos seus pais era pobre, tinham pouco mais que nada para viver, mas o ter conseguido convencer o Professor Sousa a deixá-lo entrar na escola trazia-lhe toda a felicidade que ele necessitava. Uma ardósia e um lápis feito do mesmo material eram as suas ferramentas de aprendizagem, isso e a enorme vontade que tinha de aprender a escrever as primeiras letras.

Nesse Natal de 1919, as duas crianças da casa, ele e a sua irmã, dois anos mais velha que ele, não tiveram direito a presentes, como aliás nunca tinham tido no passado nem teriam no futuro. Os pais eram muito pobres e mal ganhavam para garantir o pão de cada dia, mas para o António nada disso contava, o sonho dele era aperfeiçoar a arte de rabiscar o A,E,I,O,U na sua lousa, coisa que ainda não conseguia fazer muito bem. O Professor Sousa morava perto de sua casa e procurava acompanhá-lo sempre nas idas e vindas da escola. E contava com ele para conseguir ensinar-lhe tudo aquilo que ambicionava aprender.

No Natal comemora-se o nascimento de Jesus e na Páscoa a sua morte. Nunca poderia imaginar o herói desta nossa curta história que a morte de Jesus, na Páscoa desse longínquo ano de 1920, pouco depois de ele ter festejado o seu 8º aniversário, coincidiria com a morte de seu pai Francisco. Nem tão pouco adivinhar como isso afectaria a sua vida e mudaria o seu futuro.

A morte traz com ela uma série de más notícias, a primeira das quais é o funeral do falecido e as despesas que isso acarreta. A mãe do António se era pobre de casada, mais pobre ficou de viúva e não encontrou melhor maneira de custear o enterro do falecido marido que vender o seu filho varão (como escravo) a um rico lavrador da freguesia que acordou em pagar adiantado dois anos do seu salário para pagar a despesa do funeral. Quando o miúdo completasse os 10 anos de idade, combinariam o pagamento de um salário que ele ganharia daí em diante.

O António transformou-se no «Moço do Gado» daquela casa de lavoura. Levantava-se às 6 da manhã, todos os dias fosse verão, inverno, domingo ou qualquer outro dia da semana. Mas não lhe custava muito fazer isso, depressa se habituou à rotina. O que mais lhe custou foi ver o Professor Sousa passar a caminho da escola e não poder ir atrás dele, como fizera nos últimos seis meses. E mais ainda dizer adeus ao seu sonho de aprender a guiar aquele lápis através da sua lousa e desenhar números e letras que lhe abririam as portas do conhecimento 

2 comentários:

  1. Uma história arrepiante vivida no passado que muito boa gente tenta desmentir ao dizer que no passado em Portugal tudo foi melhor do que está sendo agora.
    Agora em Portugal só não frequenta a escola e aprende a ler e escrever quem não quer. Por aqui nesse sentido não há motivo para que alguém se deva queixar!

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  2. Uma historia emocionante mas que esta incompleta !
    Antonio fez-se um trabalhados e dirigente de primeira ; em todos os montes ao redor nao havia como ele e vinham mesmo lhe pedir dicas para varios afazeres agricolas.
    Acontece que seu memtor tinha uma filha de sua idade e ao pensar que Antonio podia dar a sola, pois ja era um homem feito : com medo de o perder arranjou o casamento com a filha . A partir deste dia o Antonio nao parecia o mesmo : ia pro cafe , metia-se na borga e o trabalho esperava .
    Ao observar esta atitude ,a mulher um dia fez-lhe uma observaçao : Antonio o meu pai nao esta contente , diz que nao pareces o mesmo e nao sabe porque ! Olha diz-lhe que eu casei rico e nao preciso trabalhar , trabalha tu que casas-te pobre !
    Boas festas de Fim d'Ano e pensem que Infelizmente ha muita gente na rua que gostariam de apanhar o que voces deixam no prato !

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