quarta-feira, 14 de julho de 2021

Os jardins de Paris e o piri-piri de Bombaim!

 Podem perguntar o que tem a ver uma coisa com a outra, pois nada parece relacioná-las, mas já vão ver como saber as coisas muda a nossa perspectiva sobre o assunto.


 Nos velhos tempos não existiam as facilidades que a vida moderna nos oferece agora. Uma das mais marcantes é a água canalizada. O simples gesto de rodar uma torneira ou premir um botão para vê-la correr faz com que nos esqueçamos das dificuldades de antigamente. A falta de água e a quantidade e tamanho da roupa que as senhoras usavam antigamente criavam um ambiente irrespirável nos salões de festas em que se reuniam grandes multidões.

E assim nasceram os grandes jardins, junto aos palácios, onde as figuras da realeza desfilavam em dias de festa. Os grandes salões enchiam-se e os perfumes eram usados em doses industriais para disfarçar o cheiro a mijo e traques que se soltavam daqueles intestinos ao som de valsas e outras danças mais remexidas, depois de um jantar bem comido e bem regado. Ao fim de algum tempo tornava-se necessário ir dar uma volta pelo jardim para respirar ar puro e deixar que o odor natural das flores apagasse outros odores menos agradáveis.


Outra das coisas que faltava, nesse tempo, era electricidade e sem electricidade não era possível a refrigeração e conservação dos alimentos. As carnes e peixes eram secos ao sol, salgados ou defumados para que se conservassem por algum tempo. Nos países mais frios do hemisfério norte - já tinham reparado que praticamente não vive ninguém nas zonas mais frias do hemisfério sul? - a vida era mais fácil, pois recorriam à neve para enterrar os alimentos, durante meses, mas nos países mais próximos do Equador o problema era coisa séria.

Uma peça de caça trazida para casa ou uma rês abatida para o consumo humano tinham que ser consumidas quase de imediato, pois a putrefação da carne começava logo após a morte do animal por força do calor. É claro que nem tudo se consumia no imediato e aquilo que ficava para os dias seguintes começava a ganhar um cheiro que só com uma mola no nariz se conseguia meter à boca.

E foi aí que surgiram as especiarias, na Índia e países do Oriente Médio, onde o calor era maior e o problema se agravava significativamente. Cozinhar com excesso de especiarias faz com que nem se saiba o que estamos a comer. Um frango ou um borrego morto há três dias, carregado de pimenta, caril e outras especiarias semelhantes come-se bem e não sabe nem cheira a nada a não ser a especiarias.


Eu já tinha ouvido falar nisso, mas só quando cheguei a Bombaim e fui a um restaurante local almoçar é que senti o que era comida picante. Ao fim de umas quantas garfadas, fica-se com os lábios como que anestesiados e não mais se sente a comida. O objectivo é comer para viver e nada mais, pouco prazer se tira da comida. Cheiro de carne podre, mesmo que ela esteja quase nesse estado, é impossível sentir na Índia. Eu que o diga!

3 comentários:

  1. Bom dia
    Isto até tira a vontade de comer !!

    JR

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  2. Mesmo comendo em hoteís de 5* é quase impossível visitar a India sem a costumada kaganeira mas normalmente duas/tres puxadas no autoclismo resolve o problema.

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  3. Essa do cheiro a mijo e dos traques fez-me lembrar um conto do Bocage que ouvi contar. O Bocage foi convidado para assistir a uma festa da alta roda. Às paginas tantas estavam duas senhoras a falar e uma delas deu um traque. Muito envergonhada sem saber como fazer. Tendo a outra dito para ela. Vai falar com o Bocage, que ele não tem vergonha e diz que foi ele. Então, ela lá foi falar com o Bocage. Contou-lhe o que tinha acontecido. Pois, não se preocupe minha senhora que eu resolvo isso. O Bocage sobe para o palco pega no microfone e sem papas na língua diz. Atenção muita atenção minhas senhoras e meus senhores, o peido que aquela senhora deu não foi ela fui eu!

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