A minha atenção foi atraída por uma notícia que dava conta de um pré-aviso de greve nas Minas da Panasqueira. Muito tenho ouvido falar dessas minas - devo ter fixado o nome devido à ligação do nome aos panascas que estão no top da moda em Portugal - mas nem imaginava o que eram, onde ficavam e o que extraíam da terra.
Fui perguntara ao Sr. Sabe Tudo (Google) e fiquei a saber que se situam perto do Fundão, mas ainda no concelho da Covilhã, nas margens do Rio Zêzere, o tal que enche a Barragem do Castelo do Bode e dá de beber a Lisboa. E muitas outras coisas que, se calhar, pouco interessarão a quem ler estas linhas que escrevo sem destinatário preciso.
Olhando para o pedaço de mapa (acima) que copiei para vos sintonizar comigo, vejo estradas e lugares por onde andei, durante os meus mais de 30 anos ligados à indústria têxtil e de confecções. A Serra da Estrela que tantas vezes tive que atravessar e outra não consegui, tendo que ir dar a volta por Unhais da Serra ou pela Guarda, somando muitos quilómetros a uma viagem já longa e cansativa, é o centro de tudo. O Rio Zêzere que nasce na encosta nascente e corre para norte, até à vila de Manteigas e depois guina para sul, indo ao encontro do Tejo, em que desagua.
Hoje há auto estradas que nos levam até lá em pouco tempo, mas quando entrei nessa vida, eram seis horas de condução difícil para ir de Vila do Conde até à Covilhã. Antes da construção do IP5 que ligava Aveiro à fronteira de Vilar Formoso, subir a Estrela, em direcção à Guarda, atrás de fumarentos camiões à velocidade de tartaruga, era um teste à paciência humana. Mas se estivesse mau tempo, ou houvesse neve na serra, o remédio era fazer cara alegre e andar para a frente. E havendo grandes nevões até esta via ficava cortada também, era necessário arranjar dormida do lado de cá e esperar que os limpa-neves abrissem o caminho.
Tortozendo, uma das vilas mais industrializada daquelas bandas que fica a meio caminho entre a Covilhã e as referidas minas da Panasqueira, ainda a conheci em pleno funcionamento, mas logo sobreveio o 25 de Abril, de má memória para a Indústria Têxtil, que afundou a maioria das empresas e a transformou na capital do desemprego da Beira Interior. Mais de 50% da população vivia das fábricas do têxtil e sem elas ficaram sem o pão-nosso-de-cada-dia.
E aquela estrada que circunda a serra, pelo lado sul, são 75 quilómetros de puro prazer. Demorava uma hora certinha a fazer o caminho até Seia, mas era preciso manter o pé sempre na tábua e os travões afinadinhos. Quando tinha uma hora de folga nos meus horários atribulados, era essa a estrada que escolhia para regressar ao mundo civilizado do Litoral Norte. No Alto das Pedras Lavradas, onde dizia que iria passar a nova autoestrada a ligar Coimbra ao Fundão, mas nunca passou de um sonho, podia seguir a direcção de Coimbra, em vez de seguir para Seia. Tudo dependia de ter ou não algo que fazer em Seia. Alvôco da Serra, Vasco Esteves, Valezim, antes de chegar à terra do socialista Almeida Santos que foi advogado e homem rico, em Lourenço Marques, antes da Guerra Colonial, e depois S. Romão, já na planície da Beira Alta. Pelo caminho podia parar para mercadejar uns queijinhos da serra ou trazer meio cabrito para o almoço de domingo.
Pernoitei muitas vezes no Fundão, terra do nosso conhecido socialista Guterres (que há quem acuse de ter começado a esbanjar o dinheiro dos fundos europeus que vieram para Portugal e nunca serviram para os fins em questão) e deixei lá alguns amigos que nunca mais vi. A última vez que por ali andei já foi há 9 anos, em 2013, passei pela festa da Cereja (que não comprei, pois são mais baratas aqui na minha terra), regressei pela serra, Pendas da Saúde, Torre até Seia.
Vem aí o tempo bom, se tiverem tempo disponível e euros para o gasóleo, vão até lá que vale a pena. Pelas vistas, pela gastronomia, vinhos, queijos, etc., verão que não se arrependem"