quarta-feira, 17 de abril de 2024

Um Homem novo!

Há coisas que rejuvenescem um homem! Uma delas é receber boas notícias e previsões que pode chegar até aos 100 anos! Outra é usar uns óculos novos e mais bem escolhidos que os anteriores que me faziam lembrar o Almeida Santos, socialista já falecido que eu detestava até não poder mais. Acresce que (além dos óculos com fundos de garrafa) ele viveu em Lourenço Marques nos últimos anos do domínio português, era amigo do Samora Machel e seu advogado, sendo também um dos investidores que puseram de pé aquele horrível prédio 33 plantado na baixa da capital.

Falando de Moçambique e do Samora, ainda tive umas esperanças que a revolta de 7 de Setembro, ou assalto ao Rádio Clube, como também lhe chamaram, mantivesse os portugueses à frente de um governo misto que pudesse garantir uma transição pacífica, mas não tive sorte nenhuma. A única coisa que me calhou em sorte foi receber o «Maõzinha» como colega na empresa em que eu trabalhava.

A História do Mãozinha conta-se em poucas palavras. Um amigo levou-o para Lourenço marques e arranjou-lhe um emprego para ele se sustentar. Depois do 25 de Abril, o amigo, adivinhando que aquilo ia acabar mal, regressou a Portugal e sendo um especialista em Informática, rapidamente, ganhou a confiança da IBM Portugal e foi colocado na Maconde como Director daquela área que estava em grande desenvolvimento.

O Mãozinha continuou em Lourenço Marques e, no dia 7 de Setembro de 1974, juntou-se aos brancos revoltosos e foi para o Rádio Clube de arma na mão. Como a coisa deu para o torto e antes que fosse preso, deu o salto para a África do Sul. Lá arranjou emprego como electricista e tempos depois ao trepar a uma torre de alta tensão levou uma chicotada com um cabo em carga que o atirou pelo ar e o chamuscou todo, não morrendo por milagre. Resultado, meses e meses de hospitalização e uma data de operações de cirurgia estética para reconstruir o corpo que fico todo queimado. Por pouco ficava sem uma perna, ficou sem um braço, o direito, daí lhe veio a alcunha por que ficou conhecido daí em diante, e com feias cicatrizes nos sítios em que o cabo encostara.

Com o corpo reparado regressou a Portugal, em 1976, e veio visitar o tal amigo de Lourenço Marques que trabalhava comigo na minha (salvo seja) empresa. Em três tempos vi-o entrar para os quadros da Macmoda, empresa de comércio de pronto-a-vestir pertencente ao Grupo, recentemente, lançada no mercado português. E dali até chegar ao escritório central da Maconde pouco tempo levou, transformando-se em meu colega de trabalho, para o bem e para o mal.

3 comentários:

  1. Para um homem novo e disposto a viver até aos 100 está com cara de poucos amigos. Um sorrisinho prá Flama não tinha ficado mal...
    Grande amigo era esse amigo do seu amigo 'Mãozinha'.
    Se calhar, amigos desses nunca teve o Tintinaine...

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    1. Eu não sou muito de mostrar os dentes, tinha um camarada marinheiro que andava sempre com a tacha arreganhada e morreu cedo! T'arrenego Belzebu!!!

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    2. Até parece... acha-se a última bolacha do pacote?!

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