Não estranhem o título, pois me sinto antigo, mas como ainda faço parte do mundo dos vivos, sou moderno com certeza.
Fui criado pela minha avó que nasceu na última década do século XIX. Talvez ela tenha influenciado, até certo ponto, a minha maneira de pensar. Era o tempo dos reis e havia os vinténs e os cruzados, tostões havia poucos e eram ainda uma novidade. Enquanto ela se ia habituando ao novo dinheiro da I República, ia-me ensinando a contar o dinheiro à moda antiga. Um escudo eram mil reis e de reis percebia ela, o escudo era apenas uma palavra.
Havia muita coisa que se podia comprar com mil reis, quando ela era uma rapariga nova, 50 anos depois, quando vim eu ao mundo, já havia pouca coisa a esse preço. Uma caixa de fósforos custava 300 reis, o que para a minha avó era uma fortuna. E um maço de cigarros custava 10 vezes mais, 2.900 reis, foi quanto paguei pelo primeiro maço de cigarros que comprei, por volta dos meus 15 anos.
E vocês perguntarão: que raio de conversa é esta? De onde saiu este arrazoado de palavras tão fora de tempo? Pois, eu explico. Ontem, por volta da meia noite, ouvi a notícia de que o Sebastião Bugalho foi a escolha para cabeça de lista, pela AD, às eleições europeias. Sebastião é um rapazinho que há bem pouco tempo deixou de usar fraldas e mereceu do líder da AD um elogio que o pôs nos píncaros da política à portuguesa.
Tenho ouvido dizer que há falta de cabelos brancos na nossa política e a nomeação do Sebastião é a prova real de que isso é uma afirmação verdadeira. Cabelos brancos são sinal de uma mente madura e o juízo testado por mil e uma dificuldades ultrapassadas ao longo do seu percurso. Assim como a falta deles é de questionar numa decisão desta importância.
O Sebastião é um rapaz esperto e bem falante, mas não teve uma avó como eu tive, nascida há dois séculos atrás e com outra forma de pensar. Ele é um moderno-moderno, enquanto eu sou um antigo-moderno, temos maneiras diferentes de pensar. E isso não quer dizer que eu estou certo e ele errado, nada disso, o meu pensamento vai por outros caminhos e já não tenho idade para andar de trotinete.
Um bom político não dá ponto sem nó, mas eu não considero o Montenegro um bom político, muito longe disso e por isso vou ficar atento ao que vai acontecer, durante a campanha e, mais tarde, no acto em si. Pode ser que o Parlamento Europeu saúde com entusiasmo a juventude do Sebastião e se preocupe também com a minha antiguidade que merece (e necessita de) alguns cuidados especiais neste mundo cada vez mais envelhecido.
Meia dúzia de vinténs era muito dinheiro para a minha avó, para mim meia dúzia de escudos já tinham pouco significado, mas agora moedas de 1 e 2 cêntimos de euro, atiro-as pelo ar, embaraçam-me nos bolsos. Mas não esqueço que cada cêntimo vale 100 vinténs do dinheiro da minha avozinha. Ai de mim se ela me visse atirar tanto vintém à rua !!!
E sei que ela está, lá em cima, no céu a zelar pelos meus interesses e a tomar nota desses vinténs que eu desvalorizo. Ao ouvir os elogios feitos ao jovem Sebastião, pergunto-me se ele saberá o valor do vintém, ou até o significado da palavra!
Gosto muito de ouvir este jovem que na sua imparcialidade nos comentários faz num vocabulário entendível por muitos respeitando sempre o seu adversário.
ResponderEliminarJá não digo o mesmo de Montenegro.
Beijos
Como comentador o Sebastião é um barra, mas o Parlamento Europeu não necessita de comentadores (digo eu)!
EliminarPouco conheco deste Bugalho mas bastou um comentario... Quando disse que e um priviligiado branco e que nunca sentiu racismo e evidente que o homem nao tem ideia do planeta onde vive.
ResponderEliminarLá talentoso o rapaz é, mas temos muita gente melhor que ele para o lugar. Até agora até um paneleiro serviu para o cargo, não seria difícil encontrar melhor que qualquer destes dois!
EliminarVi, pela primeira vez, o jovem futuro eurodeputado no programa da Júlia Pinheiro. Nunca antes tinha ouvido falar dele, mas o seu interesse pelo mundo que o rodeia e pela política, mostrou-me um jovem diferente da maioria. Gostei!
ResponderEliminarObviamente que o rapaz também teve e terá as suas avós, se não forem do tempo do vintém são, seguramente, do tempo do escudo.
Quando o Tintinaine não tinha ainda cabelos brancos já trabalhava muito e se aventurava por esse mundo fora. Que coisa mais despropositada julgar as pessoas pela idade...Haja quem o entenda!
Diz o Montenegro que é para provar aos outros jovens deste país que não precisam de emigrar, pois aqui também têm hipótese de sucesso.
EliminarSe ele arranjar um emprego para cada um, com um salário semelhante ao que o Sebastião vai ganhar, em Estrasburgo, acho que os convence a todos e acaba-se a emigração.