A ideia é falar do jogo entre Porto e Sporting, mas antes disso não deixo passar a oportunidade de falar (mais uma vez) do meu Juramento de Bandeira, na Escola de Fuzileiros, em 25 de Julho de 1962.
O Sargento Manuel Bicho era o Monitor encarregado de nos ensinar a marcar passo, marchar com garbo e de queixo levantado, bater o tacão esquerdo com força, antes de fazer uma série de coisas, fazer a continência e tratar a Mauser por tu, entre outras coisas.
Eu escrevi "nos ensinar", porque eu era um dos cerca de 40 mancebos que formavam o 2º Pelotão da 1ª Companhia do Recrutamento de Março de 62. O meu pelotão era qualquer coisa de fora de série. Havia voluntários e recrutados, uma mistura de meninos do leite e homens de barba rija (basta recordar o 16528, por alcunha O Gorila, e o 16529, por alcunha O Granel, para perceber do que falo.
Na primeira secção militavam os 10 maiores arruaceiros de todo o recrutamento, os quais foram, na sua maioria, corridos da Marinha, após o Curso de ITE. Esses "marmelos" faziam de tudo para tornar as aulas de instrução num granel absoluto e punham em água a cabeça do Sargento Bicho.
Quando começámos a treinar o tiro de salva para a cerimónia do Juramento de Bandeira foi o cúmulo da barracada. Havia sempre um que disparava antes de tempo e o click do cão a bater no percutor ouvia-se claramente, como um tiro de canhão na parada queda e muda. Não havia maneira de conseguir um disparo único dos 296 recrutas no mesmo instante. Veio até o Comandante da Escola, de espada em punho, assistir à aula para perceber o que se passava ali.
Nada resultou e foi então decidido que não haveria a habitual munição de salva na câmara da Mauser, no dia do nosso juramento. Foi a primeira vez na história da Marinha e se calhar a única em que o povo tapava os ouvidos para não ouvir o estampido das detonações e não ouvindo mais que um seco click, os destapava de novo. Ou seja, eu não tive o direito sequer a um tiro de pólvora seca, no dia em que me tornei um marinheiro a sério.
O Rúben Amorim veio ao Porto com a sua super equipa que ganha a todos com grande facilidade e, ao fim de meia hora de jogo, já perdia por 2 a 0. O Sérgio Conceição com 3 miúdos da academia portista e 3 brasileiros deu cabo dos sonhos do treinador do Sporting. Se o Benfica não tivesse ganho ao Braga e ele ganhasse ao Porto podia começar a festejar o título de campeão, ainda antes de regressar a Lisboa.
Foi o que se chama um tiro de pólvora seca. O Benfica ganhou o seu jogo tornando as coisas mais difíceis e a perder ao intervalo do seu jogo, ontem à noite, estava a ver o seu sonho tornar-se um pesadelo. Vá lá, vá lá que ainda conseguiu empatar o jogo e assim a tarefa de chegar ao título ficou um pouco mais facilitada, mas nunca fiando. Vai ter que preparar os 3 jogos que faltam com o maior cuidado para evitar alguma escorregadela.
O Sérgio Conceição que não tem que provar nada seja a quem for, precisava de ganhar o jogo de ontem para mostrar aos dois presidentes, o que vai embora e o que continuará no lugar, que podem contar com ele para o que der e vier. Eu apostaria que a nova direcção do clube o não quer para treinador, de modo a passar a mensagem de que o novo Porto não quer ficar ligado ao comportamento trauliteiro do antigo presidente, do treinador e dos super-dragões. O Porto de André Vilas-Boas tem que ser um exemplo para o futuro.
E continuar a ganhar títulos, claro, o que pode fazer com que decida continuar com o treinador, pois melhor não encontrará, assim do pé para a mão.
É assim o nosso mundo-cão!!!
Em Vila Franca de Xira a recruta era mais silenciosa. Tiro de Salva e novo para mim. Quanto ao sargento Bicho foi o instructor da minha Companhia na EAM em 1968.
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