sábado, 23 de março de 2024

Que desastre!

 


A segunda-feira de Páscoa é um dos dias mais apreciados na Póvoa. Embora tenha vindo a diminuir o número de pessoas que vão mantendo viva a tradição, por causa da autoestrada (A28) que veio ocupar a maior parte do espaço florestal usado para o efeito, O hábito de ir almoçar a qualquer lado, em que se possa estender a toalha e abrir o farnel, continua, pelo menos entre os mais velhos que os mais novos adoptaram uma maneira de viver que só os deixa acordar por volta das 3 da tarde para tomar o pequeno almoço (vejo isso pelos meus netos).

Pois a previsão meteorológica para os próximos dias parece que não vai dar a mínima chance de haver pic-nic este ano. Depois de amanhã regressa a chuva e o frio - a máxima cai quase para metade - e vai manter-se assim por cerca de 6 a 9 dias. E quem espera um ano inteirinho por esse dia, planeando em pormenor para onde ir, o que levar para comer e beber, os jogos para os tempos mortos, entre o almoço e o lanche, fica amuado com o S. Pedro que antes de cantar o galo negou o seu mestre 3 vezes e agora se vinga em nós por causa dessa sua fraqueza.

Ainda me lembro dos velhos tempos em que se despejavam muitos garrafões de vinho, em poucas horas, e não raras vezes acabava a festa com lutas e reboliço a pedir a presença da GNR para acalmar os mais desavindos. A navalha usada para cortar o pão e o chouriço que cada homem guardava no seu bolso, para prevenir qualquer eventualidade, às vezes surgia de repente e era apontada à barriga do contendor para o fazer recuar e desistir dos seus intentos. As autoridades já sabiam que isso era comum em dia de "bebedeira" e andavam sempre por perto, de olho nos mais animados.

A festa espalhava-se ao longo da estrada que ligava as freguesias de Argivai e Touguinha e chamava ali milhares de pessoas que se divertiam o melhor que podiam. Para uns a festa era comer (mais e melhor que no dia-a-dia), para outros era beber (até cair para o lado), para os mais jovens uma oportunidade de arranjar um namoro e para os mais velhos um encontro para pôr a conversa em dia e recordar festas dos anos passados. A abertura da A28 rasgou a meio esse espaço, as árvores foram todas abatidas e foram colocadas redes que proibiam o acesso àquele lugar. A ligação entre as duas freguesias passou a fazer-se por um trajecto alternativo que acabou por fazer separar as gentes que ali moravam. Cada das freguesias pertencia um concelho diferente, mas viviam uma em função da outra, sabem como é, um casamento com a noiva de uma e o noivo da outra, as propriedades agrícolas que pertenciam a gente que morava na freguesia do lado, a autoestrada veio acabar com tudo isso.

A freguesia de Argivai tem por padroeiro o Arcanjo S. Miguel e por essa razão é mais conhecida pelo nome de Anjo que pelo verdadeiro nome. E a festa que levava os poveiros todos para aí, na segunda-feira de Páscoa, ficou conhecida pelo nome de «Segunda-feira do Anjo». E para nosso azar, este ano não vamos ter festa de Segunda-feira do Anjo, ficaremos em casa a jogar o quino, depois do almoço e antes que seja servido o lanche. Sempre que a Páscoa calha em Março, o risco de isto acontecer é grande!

Para o ano pode ser que não chova, fica a festa adiada até lá !!!

Sem comentários:

Enviar um comentário