terça-feira, 17 de janeiro de 2023

D. Manuel III

 Toda a gente sabe quem foram os reis de Portugal D. Manuel I e D. Manuel II, mas o D. Manuel III ninguém conhece! Mas vão ficar a saber, pois vim aqui com o propósito de reclamar esse título para mim mesmo. Desde a fuga de D. Manuel II para Inglaterra, ninguém reclamou o lugar dele na Monarquia Portuguesa. D. Duarte Nuno diz que é ele o herdeiro do trono, mas não é mais português que eu e tem toda a lógica que a seguir a um Manuel lhe suceda outro com o mesmo nome e eu também andei em guerras, a dar o corpo ao manifesto, em defesa da lusa pátria. Monárquico convicto fui sempre, não vou em repúblicas (das, ou dos, bananas), como temos actualmente. Por isso já sabem, quando passarem por mim quero uma chapelada e uma vénia.


Não sei se, hoje, ainda ensinam, na escola, o significado da nossa bandeira e o que representam as quinas, os castelos e a esfera armilar. Acredito que a maioria dos nossos rapazes, mais preocupados em dedilhar as teclas do seu smartphone, nunca perdeu tempo com tal minudência. Quando o presidente Cavaco foi capaz de içar a bandeira de pernas para o ar, eu já acredito em tudo. A minha vida já vai longa e já vi muita coisa.

E uma coisa mais vos digo, só tenho um filho e não se chama Manuel, portanto de reis Manuel a coisa acaba quando eu bater as botas e passar para a quinta dimensão (aquela que não tem comprimento, nem largura, nem altura e nem profundidade), lugar onde vive toda a casta de humanos e humanoides que já pisaram o solo deste planeta. Mas antes de me despedir, ainda quero deixar uma luzinha sobre um dos símbolos da bandeira, quiçá o mais significativo, a esfera armilar.

O meu antecessor, D. Manuel I, foi o maluquinho dos Descobrimentos, o que empurrou os navegadores portugueses, como Vasco da Gama ou Pedro Álvares Cabral, para o fim do mundo, à cata de riquezas que engrandecessem o reino. Todos sabem que naus e caravelas eram feitas de «pau de pinheiro», aquelas árvores que o rei D. Dinis mandara plantar por toda a costa portuguesa para parar os ventos e preservar as dunas, dois séculos antes.

Havia, portanto, muita gente habilitada a trabalhar o pau e dele fazer coisas de grande importância para o povo e o reino. Um desses habilidosos, reconhecido artesão, ouvindo os marinheiros falar das viagens, das dificuldades que se viviam no mar e da falta de instrumentos de navegação, meteu mãos à obra e dum tosco pau de pinheiro começou a burilar aquilo que ele entendia das palavras ouvidas. O mundo era uma esfera que girava sobre dois polos com o sol a girar à sua volta. De macete na mão foi martelando, arrancando pedaços ao tosco pau em que pegara para realizar a sua obra, e lentamente foram aparecendo os paralelos, os meridianos e todos os outros detalhes que, hoje, são conhecidos e reconhecidos por todos que se debruçam sobre essas matérias da ciência.

Essa esfera que tão bem representava as viagens do Gama, do Cabral e do Magalhães chegou às mãos de Sua Alteza Real D. Manuel I qua agarrou e nunca mais largou. Usou-a nas reuniões com os capitães das armadas que mandava a caminho da Índia para trazer especiarias, pimenta e canela que vendia aos comerciantes holandeses que faziam fila à porta do Paço Real para as carregar para a Flandres, logo que saíssem da porta da alfândega. Ele sulcava os mares imaginários movendo o seu dedo indicador através da esfera armilar que tinha à sua frente, em cima da mesa, e os olhos dos navegadores seguiam aquele dedo e já se viam a dobrar o Cabo da Boa Esperança e rumar a norte, onde sabiam que ficava a Índia de Goa, Malaca e Ormuz, onde os portugueses tinham assentado arraiais.

Tão importante para o desenrolar dos nossos Descobrimentos foi essa esfera que os republicanos (que eu não gramo nem com molho de tomate) decidiram eternizá-la na Bandeira Nacional que veio substituir a usada nos tempos da Monarquia que era mais branca e azul, a condizer com a cor da minha pele e dos meus olhos!  

3 comentários:

  1. No socialismo europeu nacionalismo é proibido. Tenho a certeza que poucos sabem o significado da nossa bandeira. O politicamente korrecto e o lobby LGBT forçaram novos ensinamentos, novas teorias, novas morais... Um descalabro sem Bandeira nenhuma!

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  2. Eu faço a minha vénia a Sua Alteza Real D. Manuel III pelo post que gostei de ler.
    Abraço e saúde

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  3. Meu caro Trintinainamigo
    Sou republicano, democrata e socialista e venero a nossa bandeira verde-rubra que enquanto oficial miliciano (cheguei a tenente) defendi com arma na mão e agora mantenho o dever sagrado de a defender até que a cremação ponha fim ao que de mim reste.
    Como defensor da Liberdade e da Democracia (contra tudo e contra todos, inclusive a PIDE) aceito a ideia da Monarquia ainda que, como compreendes, não a defenda.
    Porém, entendo o que escreves e penso que pelo que vai pelo Mundo há que fazer escolhas tõ boa quanto seja possível. Veja-se o que se está a passar na Ucrânia, o que aconteceu em Brasilia (e ainda não terminou) e tem de se escolher, repito, o melhor.
    Abração
    Henrique
    NB - A NOSSA TRAVESSA regista um pouco da loucura mundial

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