quinta-feira, 12 de agosto de 2021

Os novos «Turras»!

 


Durante a Guerra Colonial, passei 5 anos em Moçambique. A maior parte do tempo passei-o na cidade, mas ainda fiz uma perninha a correr atrás dos «frelimos» no Niassa. Ao Cabo Delgado nunca fui, mas a guerra era mais ou menos igual em todo o lado. Umas emboscadas, umas rajadas de metralhadora, umas morteiradas e, principalmente, muitas minas. Fui dar uma ajuda, em 1964, aquando dos primeiros tiros, depois vim a Portugal lutas pelas divisas de Marinheiro e voltei ao Niassa no ano de 1966, já a guerra ia em adiantado estado com os «turras» mais bem armados e organizados.

É engraçado como a História se repete. Os turras que lutam em Cabo Delgado são os mesmos de antigamente, o inimigo é que é diferente. Em vez de combaterem o "Colonialismo" que era o seu grande opositor, combatem agora o "Comunismo" da Frelimo que assumiu o poder, desde a independência, e se está a marimbar para a população. Enquanto os líderes do partido engordam, enriquecem e vivem à tripa forra, o povo moçambicano, principalmente no norte, vive privado de tudo.

Quase todos os países africanos sofrem do mesmo mal, falta de democracia. Libertados do jugo colonialista, na década de 60 do século XX, embriagaram-se com a liberdade e ainda não voltaram a ficar sóbrios. Vai ser preciso que morram todos os que estiveram envolvidos nesse processo e nasça gente nova que esqueça o tempo colonial e pense apenas pela sua cabeça. Quem tinha 20 anos em 1975 e viveu a euforia da libertação poderá viver ainda mais 30 anos e só depois disso será expectável que as coisas comecem a mudar.

Uma coisa que pode entravar esse processo são os muitos académicos formados na Rússia ou na China, ao abrigo de acordos bilaterais, tanto em Angola como em Moçambique. No entanto, eu conto com a esperteza do Povo para perceber que o ideário comunista não lhes serve para nada e só os atrapalha no caminho para um futuro bem sucedido.

Quando leio as notícias sobre a guerra desencadeada em Cabo Delgado mais me convenço que tenho razão. Os insurgentes, como são chamados, são apenas descontentes com o governo da Frelimo e se querem ver livres dele. E o presidente Nyusi sabe disso, razão pela qual demorou tanto em aceitar ajuda externa para pacificar o norte. Ele sabe que o problema é político e estaria na sua mão resolvê-lo. Mas teria que ir contra os membros do seu próprio partido e meter na ordem aqueles que têm abusado da sua posição dominante roubando o Povo e vivendo como autênticos marajás. Perder privilégios para os dar ao Povo é coisa que lhes não agrada e por isso é tão difícil encontrar a solução para o problema.

A intervenção estrangeira vai matar uns quantos desses "descontentes" e prender outros, mas o problema não ficará resolvido. Enquanto não forem criados outros partidos que dêem luta à Frelimo e a vençam nas eleições, Moçambique, tal como Angola, continuarão a ser uma espécie de Venezuela africana e não terão paz. Aparecerão outros insurgentes a dar luta à Frelimo, enquanto esta se mantiver no poder. Triste destino para um povo sofredor que merecia melhor sorte! 

1 comentário:

  1. Não é só em Portugal. A TVM acaba de ser acusada de mentir ao povo moçambicano... Este é assunto para descobrir com o desenrolar do tempo.

    ResponderEliminar