Fundada em 1965 pela junção de quatro alfaiates que deram o nome à empresa, sob a forma de acrónimo – Dias, Helder, Mateus e Ramiro –, a empresa de confeções especializada em roupa para homem – vestiu a seleção portuguesa que venceu o Euro2016 – chegou a empregar 400 pessoas e, antes desta crise, exportava perto de 70% da produção para 25 mercados e faturava cerca de 15 milhões de euros.
O dia 2 de Agosto é uma data importante da minha história pessoal. Faz, hoje, precisamente, 50 anos que eu disse adeus à minha experiência de emigrante e ingressei na Indústria Têxtil e Confecções, na grande empresa multinacional que foi a Maconde.
É estranho pensar que esta data ficará também associada a um autêntico desastre no mundo das confecções, a falência da Dielmar, como se pode ler na notícia acima que transcrevo de um jornal diário da nossa praça. Enquanto que a Maconde foi um gigante no sector, considerada pelos banqueiros (e pelos fiscalistas) uma fábrica de fazer dinheiro, a Dielmar ficou conhecida mais pela qualidade dos seus produtos. A Maconde não primava pela qualidade, pois o seu objectivo era o lucro e este só se consegue com a massificação da produção. Antes do 25 de Abril, já produzíamos perto de 20 mil calças por dia, 100% destinadas à exportação. O nosso grande mercado era o Reino Unido e os nossos principais clientes eram os 4 ou 5 maiores importadores de vestuário, a quem tínhamos que impor limites, pois nos períodos mais altos a nossa produção não era suficiente para os satisfazer.
A Dielmar, que na semana passada encerrou para férias e não reabrirá as portas, quando elas terminarem, tinha um conceito totalmente diferente. Foi uma empresa fundada por 4 alfaiates amigos e iniciaram a produção de fatos para homem, com a qualidade que a alfaiataria portuguesa exige. Na roda viva da minha vida profissional contactei várias vezes com a Dielmar e conheci, pessoalmente, um dos 4 amigos fundadores, o Sr. Mateus. Quando a Maconde decidiu mudar a sua produção para um artigo de maior valor acrescentado, leia-se casacos e fatos, iniciou-se uma concorrência entre as duas empresas que, na minha opinião, ajudou a projectá-las para um nível superior. A Maconde teve que lutar muito para copiar a qualidade da Dielmar e esta teve que se esfarrapar para não perder a sua clientela, em Portugal, e lançar-se na exportação que, inicialmente, não estava nos seus propósitos.
E, como vêem, estou aqui, 50 anos depois, a recordar a minha entrada no Mundo das Confecões que, a partir da mudança de século, começou a sua mudança para o Extremo Oriente. Eu continuei mais 3 anos ligado a esse mundo e a minha empresa continuou por mais 3 a estrebuchar para se manter à tona de água, mas não o conseguiu, em 2007 caia definitivamente, vendo os seu clientes mudar a base de operações para Hong-Kong. A Dielmar deve ter feito das tripas coração para se aguentar até agora, já chefiada por uma filha de um dos fundadores. Portugal não consegue competir com a China, ao nível dos preços, e até os portugueses já se vergam aos fatos "Made in China" que não têm a qualidade da Dielmar, mas custam metade do preço.
Em productos conhecidos como o caso da Rauph Lauren/Nautica/Gant desde que haja quality control da fábrica mãe, a originalidade/qualidade venham de onde vierem mantem-se... A Dielmar é apenas um exemplo da deterioção do nosso pais. E penso até que seria mais fácil acabar de vez com este sofrimento em vez de assistirmos à morte-lenta das nossas cidades/do nosso país/do nosso povo e votarem no pessoal do Largo do Rato mais uma vez... Com 20% de população estrangeira em Lisboa a usarem - túnicas, hijabs, turbantes - não vai haver Dielmar que resista.
ResponderEliminarMesmo que consiga acompanhar o progresso. Tudo o que tem princípio, também, tem fim. Morre o rico, morre o pobre. Morre a vaca, morre a mula. No mundo morre gente com fome. Enquanto outra gente goza de fartura!
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