A ida do Benfica a Toulouse fez-me lembrar um episódio um tanto ou quanto caricato que eu vivi no dia 23 de Fevereiro de 1983. Comemora-se, hoje, em Espanha, o 41º aniversário do golpe militar que queria derrubar o governo, mas sem o conseguir, curiosamente a mesma data em que eu viajei de Paris para Toulouse, na companhia do Sr. André Roudiére, um dos maiores patrões da indústria têxtil de França.
Do aeroporto de Toulouse até à sua fábrica são +/- 85 Kms que fizemos juntos num automóvel da sua empresa que nos foi buscar ao aeroporto. Comigo ia também um colega da Maconde que tinha, há pouco, entrado para a equipa de vendas. A nossa deslocação à fábrica do Sr. Roudiére tinha como propósito escolher uma colecção de tecidos para fatos, casacos e calças de homem.
Durante os 85 Kms da viagem era preciso dizer algumas palavras em francês, para provarmos que não eramos mudos como carpas (segundo um ditado francês). O rádio do carro ia ligado numa estação que passava o tempo a dar notícias e, de repente, começou a falar no golpe de estado que tinha acontecido no dia anterior, ao fim da tarde, em Madrid. O tempo do Generalíssimo Franco já tinha passado à História e o rei Juan Carlos já se mudara de Cascais para Madrid para tomar as rédeas do poder, de modo que um golpe militar, a fazer lembrar o nosso 25 de Abril, era o tipo de notícia que nos fez arregalar os olhos.
Trocámos algumas palavras com o patrão da indústria têxtil que empregava a maioria do povo trabalhador daquela aldeia perdida nas encostas, viradas para norte, dos Pirinéus, sobre o que se passara em Espanha e da semelhança com que nós tínhamos vivido, em 1974. A despesa da conversa correu quase toda por conta dele, nós limitávamo-nos a uns curtos oui, oui, non, non e pouco mais. Afinal o senhor tinha muito dinheiro e muito poder, mas falava apenas francês, enquanto nós, como bons portugueses, dávamos umas tacadas no inglês, no espanhol, no italiano, no francês e (no meu caso) no alemão.
Conforme a viagem foi decorrendo, mudámos os temas da conversa, falámos dos tecidos que eles produziam e nós comprávamos, assunto em que ele era mestre, e passo a passo acabámos a falar de vinhos, bebida de que todos éramos fãs e um importante produto para exportação, tanto em França. como em Portugal. E foi aí que o meu camarada de viagem, ainda muito verde na Língua de Vitor Hugo, meteu a pata na poça e pronunciou a palavra "vin" tal e qual como se estivesse a dizer "vent", o que fez o francês virar-se para trás e perguntar: - quoi? Du vin, respondi eu que sempre era um pouco melhor que o meu colega, afinal eu tinha dado 5 anos de Francês, do 1º ao 5º ano do Curso dos Liceus. Colega que, infelizmente, durou pouco mais, a contas com um cancro no cérebro, morreria poucos anos depois desta aventura, a caminho dos Pininéus.
Maquinaria arrumada no Musée du textlie que é tudo o que sobra dos bons velhos tempos da indústria de lanifícios daquela zona. A fábrica empregava 6.500 pessoas, naquele tempo, e tudo o que sobra disso são processos indemnizatórios que correm nos tribunais, movidos pelos últimos trabalhadores que ficaram sem o emprego e sem qualquer indemnização pelos muitos anos que lá trabalharam.
Ah, o que eu admiro esta sua pose de---: "Eu, sou mais Eu!".
ResponderEliminarJá lá dizia um senhor que Deus já lá tem, usando em pleno direito do seu sotaque nortenho: "Uns gabam tudo, outros nuncagabam nada"
.
Levo quase 80 anos de vida sem que ninguém me coloque na cabeça a coroa de louros, é tempo de eu tomar a justiça nas minhas mãos!
Eliminar...."Coroa de louros" ??
EliminarMas como? - se é avesso a Poesia?
Não tem direito a tal coroa
Quem tem os pés assentes na terra
Escreve prosa com mestria
Mas esquece a fantasia...
: )
De fantasia tenho a cabeça cheia
EliminarE daí não virá nenhum mal ao mundo
Tudo que tenho vendo por tuta e meia
E viro comuna como o Paulo Raimundo!