sábado, 3 de fevereiro de 2024

O verbo «tanger»!

Na cidade não se ouvem os sinos tanger às "trindades". E também não se vê tanger o gado até ao pasto!

Ontem, não estive cá, rumei a outros sítios tratar de outros afazeres, por isso não houve publicação. neste cantinho que é meu e vosso a quem abro a porta, sempre que baterem.

Com o povo todo em campanha e muitos a contas com a Justiça, não há actualidade que me dê uma ideia para vos contar uma história que valha a pena. Deixemo-los com as suas realidades paralelas. Digo paralelas, porque seguem na mesma direcção, hoje como ontem e, por certo, amanhã. Recuemos até à minha infância, nos idos da década de 50 do século passado.

A economia da minha região baseava-se na agricultura e, visto que não tinha chegado ainda a era dos tratores, movia-se ao ritmo do passo das vacas. Em todas as casas agrícolas - e eram quase todas - havia vacas, bois também, mas poucos. Como não é fácil nem barato alimentar um rebanho de vacas nas cortes, há que levá-las ao pasto todos os dias. Os rapazes da minha idade, dos 7 aos 11 anos, passavam uma parte do dia na escola e no tempo que lhes sobrava eram eles quem "tangia" o gado para o campo, onde haveria um espaço com erva reservado para elas.

Tanger significa "arriar-lhes umas bordoadas no lombo", sempre que resolvem sair do caminho certo que o "rapaz" lhe traçou. Como a minha casa não havia vacas nem bois, eu entretinha-me a fazer companhia aos colegas de escola. E nessa função munia-me de uma vergasta para imitar o colega que vinha de casa armado com um marmeleiro. E assim munido de uma vergasta eu conjugava o verbo tanger.

Se nos mantivéssemos nos campos até ao pôr do sol, podíamos ouvir o sino da igreja tanger as trindades. É o modo que a igreja apostólica romana arranjou para pôr os fiéis a rezar umas Ave-Marias para agradecer a Deus por nos ter garantido um dia sem problemas e pedir para que amanhã não seja pior. A linguagem dos sinos era bem conhecida nas aldeias do Minho. Se repicava era porque havia festa, se dobrava era porque alguém tinha morrido e se tangia era para chamar o povo à oração.

Ah, pois é, pensavam que só os muçulmanos rezam 5 vezes ao dia, de joelhos no chão, o cu para o ar e a testa a roçar a terra que os há-de comer e sempre virados para Meca, onde o Profeta está enterrado. A primeira lição que eles aprendem é em que direcção fica essa tal de Meca, para nunca se enganarem ao ajoelhar e serem chamados de infiéis.

E sem mais nada para acrescentar, desejo que passem um bom fim de semana e ... haja saúde !!! 

4 comentários:

  1. Como nunca tangi uma manada de gado bovino ou outro, nâo calhou, poderia ter-me calhado em sorte, mas não. E os sinos da Vila - hoje cidade - onde não nasci mas fui criada, nunca me soaram como tangidos tristes nem nostálgicos, pelo contrário, restam-me os tangidos das cordas de uma guitarra! Mesmo sem nunca os ter dedilhado, ainda hoje me tocam fundo esses trinados...
    Porque: Uma Mulher é como uma guitarra, não é qualquer que a abraça e faz vibrar, mas quem souber o modo como a agarra prende-lhe a alma as mãos de quem a tocar...
    : )
    Bom fim-de-semana.

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    1. Muito bem dito! Também do som da guitarra que bem tocada até parece que fala!

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  2. Adoro ver vacas, cabras e ovelhas. Há tempos fui a Mafra e resolvi encurtar caminho por uma aldeia pequena.Aproximava-me deuma curev e ouvi os chocalhos e parei fechando o vidro. 5 vacas leiteiras que metiam respeito e uma não queria largar o vidro e lambia, lambia e às tantas vem um jovem buscá-la e só me disse: Esta atrevida é mesmo muito meiga e desculpe:))
    Em criança levei algumas bordoadas no lombo e digo-te que foram bem merecidas porque eu era fresca:))
    Beijos e um bom fim de semana

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  3. Aí acima está o comentário da Fatyly que não tinha encontrado o caminho para cá chegar!

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