sexta-feira, 30 de junho de 2023
Assim não vale!
quinta-feira, 29 de junho de 2023
Poesia brejeira!
Para passar o tempo, à espera que a boa disposição venha ter comigo, deixo aqui estes versos que provam que tudo serve para fazer poesia.
quarta-feira, 28 de junho de 2023
A sentir-me chateaso!
Hoje, não estou para modas! Ontem à tarde fui ao dentista para arranjar um dente a senhora doutora que me atendeu, depois de um rápido exame, foi logo avisando:
- Esse dente não tem salvação, tenho que lho arrancar!
E o que tem de ser tem muita força e lá deixei o dente com ela (para recordação). Só que em troca a menina doutora me massacrou com picadelas e mais amassos próprios desta coisa, uns pontinhos no fim, para ajudar a cicatrizar a gengiva e uma dor que não me deixou dormir toda a noite. Tenho a cara num bolo!
E logo hoje que é a noite de S. Pedro, há sardinhas e febras para assar - não contem comigo que não posso chegar perto do fogareiro - e copos para emborcar. Não vou conseguir mastigar nada e o vinho não vai sem comida, conclusão, vou ter que adiar a festa para o ano de 2024.
Parece que as coisas correram bem com o fuzileiro da Elvira, valha-me isso para levantar a moral!
E mais não digo, pois com as dores na boca nem consigo raciocinar!
terça-feira, 27 de junho de 2023
Mudando de assunto!
Hospitalizado com uma série de problemas - se a saúde não falhou até aos 80, começará a falhar a qualquer momento, pois não somos eternos - está à espera de ser amputado de uma pequena parte do seu corpo, um dedo do pé. Nos casos de amputações de que tenho ouvido falar e alguns que presenciei, começam com um dedo, depois um pé e a seguir vai a perna toda.
Espero, sinceramente, que não seja o caso do marido da Elvira e que a pequena amputação de hoje seja a única que faça. E que volte para casa com mais saúde do que tinha, quando foi hospitalizado, para junto dos seus familiares que, hoje, estão a rezar para que tudo corra pelo melhor.
A Elvira é uma mulher de armas e vai aguentar a pressão sem problema. E nós, os seu seguidores do «Sexta Feira» estamos juntos a torcer por ela e pelo maridão!
Força aí, fuzileiro, faz cara feia à doença que ela vai-se embora!
segunda-feira, 26 de junho de 2023
Mais uma segunda-feira!
Nos tempos em que eu trabalhava, cada segunda-feira era um quebra-cabeças. Havia problemas que tinham ficado por resolver ne sexta, havia problemas, do lado dos clientes ou dos fornecedores, que lhes aconteciam a eles e me infernizavam a vida a mim, havia um ou outro trabalhador que não se tinha apresentado ao serviço, de vez em quando greves e sei lá que mais. Os meus subordinados podiam faltar ou vir a cair de sono, mas eu tinha que estar a 100% para resolver os problemas que me surgissem pela frente.
Fez, no passado mês de Maio, 20 anos que abandonei o meu posto. Estava tudo tão dependente de mim que pensei que não me deixariam em paz odia todo, o telefone a tocar com mais uma pergunta, mais uma dúvida para esclarecer. Mas, para meu espanto, não aconteceu nada disso. Soube depois que foi o Director Geral que deu ordens para não me contactarem em caso algum. Eu já estava reformado, há quase dois anos, mas tinha acedido a manter-me na minha posição, enquanto achassem que isso era benéfico para a empresa.. Só que a dança das cadeiras rodou e o meu chefe passou a ser outro.
Desde há dois meses que eu estava a trabalhar apenas meio-dia, para habituar os meus subordinados a procurar as soluções sem se dirigirem a mim. Já tinha sido nomeado um substituto para trabalhar comigo e aprender os truques do negócio, mas também lhe mantiveram as responsabilidades do cargo anterior, coisa que não o deixou muito satisfeito. Assim, ele ligava pouco ao trabalho do meu departamento, enquanto eu por lá andasse estavam coisas controladas. Trabalhava todas as manhãs, excepto à segunda-feira em que tinha que preparar um relatório que só podia ser feito de tarde (limitações da Informática).
Numa famosa segunda-feira, de manhã, o meu novo chefe entrou pelo meu gabinete, viu as luzes apagadas e o computador desligado e dirigiu-se a uma das funcionárias perguntando - o Sr. Silva não veio trabalhar? Às segundas ele só vem de tarde, foi a resposta que recebeu. Deve ter ficado a pensar que a minha situação não era muito regular, nem tinha sido autorizada por ele, e logo que regressou do almoço mandou a secretária particular chamar por mim ao seu gabinete. Em meia dúzia de palavras disse-me que tinha falado com o antecessor de quem tinha tomado o cargo e que concordaram em que os meus serviços podiam ser dispensados. Vocês é que sabem, eu só estou aqui para ajudar, enquanto vocês o entenderem necessário, respondi-lhe eu. Xau, adeus!
Antes de me vir embora ainda lhe fui perguntar quem tomava conta das questões pendentes, do contencioso que havia com fornecedores e companhias de seguros, além de muitos outros problemas por resolver. Não se preocupe com isso, a partir de amanhã nada disso será da sua responsabilidade.
Vi logo que aquilo não tinha sido pacífico, ele e o seu antecessor no cargo eram sócios com 10% do capital da empresa e tinham, recentemente ajustado as responsabilidades de cada um. O outro só confiava em mim e não queria nem pensar como funcionaria o departamento sem a minha presença. Já trabalhávamos juntos, há 20 anos, e cada um sabia do que era capaz. Este tinha emigrado de director fabril para director geral e ainda não tinha percebido com quantos paus se faz uma canoa.
O caso mais caricato - dos assuntos pendentes - era um lote de tecido, de um valor acima de 3 mil contos que eu tinha devolvido ao fornecedor e ele não aceitou a devolução, pelo que tive que pedir a um amigo que me guardasse o tecido até vermos o que fazer com ele. Ninguém pegou no assunto e já depois de a firma ter falido perguntei a um dos colegas de trabalho que estava por dentro do assunto o que tinha acontecido e ele disse-me que o fornecedor exigira do seguro o pagamento da factura e depois enviaria o assunto para tribunal. Quando chegou a intimação do tribunal foi parar às mãos do gestor da massa falida.
A seguir à minha saída, alguns dos chefes de serviços que tinham o salário mais alto, na casa dos 3 a 4 mil euros, foram convidados a ir para o desemprego com a respectiva indemnização, o que tiveram que aceitar de bom ou mau grado. A empresa ressentiu-se muito da falta desses quadros e dois anos mais tarde estava fechada. Foi criada uma nova empresa para acomodar cerca de 500 costureiras, a quem a banca provisionou com 6 milhões de euros para as primeiras despesas e até a facturação começar a fluir regularmente. Era aquela velha história de pagar o cão com o pelo do cão, mas o cão ficou sem o pelo que tinha e nunca lhe nasceu outro.
Desde então deixei de ter problemas para resolver, mas ainda sonho com aquilo tudo e como poderei resolver o problema tal ou tal que me vai surgir, logo que chegue ao escritório. Ainda acordo, banhado em suor, quando o assunto em questão é mais cabeludo. E já passaram 20 anos e quase 2 meses!
domingo, 25 de junho de 2023
A Rússia está muito mudada!
No passado, qualquer um que abrisse a boca para dizer mal do Grande Chefe estava condenado à morte. Mais assim ou mais assado, envenenado ou enfiado na prisão mais escura, o que tinha era que desaparecer para servir de lição aos outros, para que a coisa se não repetisse. Ontem, assistimos a um novo capítulo da História da Rússia, o grande chefe de Moscovo teve que meter a viola no saco e "perdoar" o traidor. Se é traidor ou não pouco importa - cada um de nós que somos estranhos ao assunto terá a sua própria opinião - mas foi isso que Putin chamou ao chefe da Wagner e para que a tradição se cumprisse teria que o prender e mandar para a Sibéria, como nos velhos tempos.
Os melhores analistas destas coisas são da opinião de que foi dado um passo de gigante no sentido de o Putin ter terminado o seu período de influência. A maneira como a Wagner entrou em Rostov, com a complacência dos militares que defendiam a cidade, e depois como saiu ao som de vivas da população civil, diz muito sobre o futuro do tirano de Moscovo, o Povo Russo não o quer lá no Krenlim, o seu prazo esgotou-se.
Hoje, dia 25 de Junho de 2023 começará a escrever-se um novo capítulo e eu desconfio que o tirano não tem reservado um papel muito bonito. Se ele pensasse como um homem normal saberia que é chegada a hora de abandonar o palco e dar a vez a outros actores que esperam a sua oportunidade de brilhar. Se é tão rico como dizem não teria grande dificuldade em exilar-se em qualquer lado e viver o resto dos seus dias como um nababo. O mal é que ele chefia uma corja de corruptos que vão fazer tudo para se manter na mó de cima e se ele cair as suas vidas serão muito difíceis até reencontrarem o equilíbrio.
Não podemos esquecer que as riquezas da Rússia e as grandes empresas que eram pertença do Estado foram distribuídas de um modo pouco honesto entre os amigos do poder, sem terem pago um rublo por elas. Numa situação normal a Justiça deveria pegar nessas fortunas, hoje nas mãos dos oligarcas, estabelecer o seu real valor e obrigar os actuais donos a pagar às Finanças Públicas o seu justo valor. Valor esse que deveria ser usado para melhorar a vida dos russos que, em muitas zonas da grande nação russa, continuam a viver como antes da revolução de 1917.
Os oligarcas, com o V. Putin à frente deles, vivem à grande e à francesa às custas do Povo e vão fazer tudo para continuar a fazê-lo Se o grupo de mercenários da Wagner tivesse chegado a Moscovo, ontem, seria a população da cidade a determinar quem venceria o confronto. Se se inclinasse para gritar vivar ao Perigosinho (vou continuar a chamá-lo assim, pois me facilita a escrita), podia ser que arrastassem os militares para o seu lado e aí o Putin só teria uma solução, dar às de Vila Diogo e salvar a pele. Pelo contrário se mantivessem amedrontados e respeitadores da ordem imposta pela força, seria o fim da revolta e dos mercenários da Wagner. Isto é tal e qual como numa «Guerra de Guerrilha», como nós vivemos em África, quem tiver o apoio da população, mais tarde ou mais cedo, acabará por vencer.
E eu tenho a convicção que a juventude russa, com o acesso que tem à informação e à tecnologia, não estará disposta a aturar os excessos do Putin e seus camaradas por muito mais tempo. Um dia destes acordam a gritar revolução e os ratos abandonarão o navio, a toda a pressa, para não irem ao fundo com ele!.
sábado, 24 de junho de 2023
Noite de S. João na Rússia!
sexta-feira, 23 de junho de 2023
Bis, segunda dose!
A receita do dia, ontem, deu mulher e, hoje, achei boa ideia repetir. Quando liguei a TV, esta manhã, estava a dar, na CMTV - ficou nesse canal, quando a desliguei, ontem à noite, depois de ver aquela desgraça de programa de futebol que eles fazem sem piada nenhuma - a história de uma estudante que foi violada na sua festa dos 18 anos. Mais que outra coisa, foi isso que serviu de percutor para o tiro de partida para a minha publicação desta sexta-feira, véspera de S. João.
Vem aí uma longa noite de festa, muita bebedeira e é natural que mais algumas mulheres sejam violadas se não se souberem proteger dos garanhões que estão sempre prontos para aproveitar uma oportunidade que se lhes ofereça. O S. João junta muitos milhares de jovens e posso garantir que os do sexo masculino pensam no sexo como a sua primeira prioridade. Portanto, já ficam avisadas as do outro sexo, o dito belo, que o melhor é jogarem à defesa.
Só falei nisso por causa do S. João que também é festa rija aqui no vizinho concelho de Vila do Conde. Eu moro na Póvoa, mas estou mesmo na fronteira, dou três passos e já estou em Vila do Conde, em consequência disso não posso alhear-me da festa. Mas o que eu vinha mesmo era falar de mulheres e é disso que se trata, a partir daqui.
Como homem, eu acordei para a vida aos 16 anos. A casa onde eu morava, num primeiro andar, tinha uma janela para a rua, onde o sol batia mal chegavam as dez da manhã. Costumava sentar-me ali com um livro na mão estudando a História de Portugal (que se dava no 5º Ano do Curso dos Liceus), a Geografia do mundo inteiro ou as Ciências Naturais - memorizando o nome das partes em que se divide uma planta ou uma flor - e, por vezes, nem para ele olhava. Mirava as raparigas que iam passando, umas mais novas, outras mais velhas, umas mais feias e outras mais bonitas e estas ia-as seguindo com os olhos até me desaparecerem da vista.
Em frente à minha janela, morava uma rapariga que se chamava Graça. Quando a via sair de casa, eu dava comigo a pensar se gostaria de, um dia, vir a namorar com ela. Ela usava óculos, tinha os cabelos pretos ligeiramente encaracoladas e não era uma daquelas mulheres que nos caem no goto à primeira vista. Dessa passei ao lado e ainda bem, pois ela está, hoje, viúva, meia cega e não se liga muito bem com o resto da família.
Terminada a época de exames, regressei à minha terra natal e logo me cruzei com a Maria que foi a minha iniciadora nas coisas do sexo, aquelas coisas que a gente com dez anos pensa, mas ainda não consegue executar, por desconhecimento e falta de preparação, além da necessária maturidade sexual, ainda não atingida. E logo me veio o pensamento: - poderá ser esta a minha primeira namorada? Acho que não, disse eu para mim mesmo e segui adiante.
A minha mãe tinha um atelier de costura com meia dúzia de aprendizas e os meus olhos caíram numa ruiva de cabelos ondulados, mulher capaz de encher o olho a qualquer homem e muito mais a mim que andava ainda à procura da minha primeira experiência. Andei de olho nela, durante alguns dias, ainda me fiz encontrado com ela na hora da saída, esperando uma oportunidade de a acompanhar até casa e explorar o terreno, mas ao fim de algumas tentativas abandonei o plano, pois ela era mais velha que eu uns bons 2 anos e nessa idade essa diferença nota-se muito..
Já nos meus tempos da 4ª Classe, eu tinha escolhido uma namorada, a Lurdes. Quando os outros rapazes perguntavam: - Quem é a tua namorada? Todos gostavam de ter um nome para dar e eu escolhi a Lurdes, porque não morava muito longe de mim e via-a todos os dias, quando ia ou vinha da escola. Lembro-me do Serafim, colega que emigrou para Angola, mal fez o exame da 4ª e lá ficou para sempre (morreu no ano passado e lá ficou enterrado, sem descendência) que um dia respondeu à tal pergunta da mesma maneira que eu. Ambos tínhamos escolhido a Lurdes e tivemos que disputá-la a soco para gáudio da turma inteira que assistiu à faena, do princípio ao fim.
Antes do fim desse ano, e antes de ter chegado aos 17 anos, voltei à Póvoa e dei com os olhos numa miúda magrela que eu costumava ver a passar debaixo da minha janela, mas que nunca atraíra a minha atenção. Como andava na tal fase de escolha, olhei para ela com os olhos e interessado e não me pareceu uma má escolha. Bonita ele era, rabina que baste e com umas maminhas que timidamente empurravam para cima a camisola que trazia vestida. Foi tiro e queda, terminaram ali os meus esforços na procura da mulher certa. Ainda dei umas voltas pelo mundo, passaram-se 7 anos, mas acabei por casar com ela e có nos vamos aturando um ao outro o melhor que podemos e sabemos.
Gostaram do filme? Ainda bem, visto que estou aqui para voa alegrar a vida e nunca vos viria chatear com uma história de arrancar lágrimas e soluços!
quinta-feira, 22 de junho de 2023
E Deus criou a mulher!
Enquanto a guerra continua na Ucrânia (e noutros lugares menos falados) e os americanos continuam à procura do Titan, o pequeno submarino construído de propósito para espiolhar o que resta do Titanic, eu vou concentrar os meus esforços em falar-vos da mulher que nasceu de uma costela do homem. O Adão foi o primeiro, mas cada um de nós, homens casados, ficámos sem uma costela para ter direito a uma companhia feminina. Diz-se por aí que a mulher é complicada, porque Deus escolheu o osso mais curvo e mais duro que temos no esqueleto. São opiniões e cada um tem a sua!
A mulher, aos 15 anos, é como um botão de rosa que todo o mundo acha formosa e uma autêntica gracinha. Depois começa a corrida de fundo que é a nossa (de todo o homem e mulher) vida e as transformações começam a aparecer. Na mulher os primeiros anos são um abrir das pétalas e aumentar ainda mais a beleza que o botão tinha e todos amam essa fase da vida. Elas incham de vaidade e rompem os espelhos da casa de tanto se olharem neles. Eles arregalam os olhos e sonham em colher essa rosa que a todos agrada, mas que só um colherá.
Agora nem tanto, mas nos velhos tempos a mulher queria casar aos 18 anos e libertar-se da disciplina familiar - entenda-se, ser independente, ser livre e responsável pelas suas decisões - e viver a sua vida junto do seu amado. E com essa decisão começava o desfolhar dessa bela rosa. Engravidar, dar à luz e amamentar os seus filhos fará cair algumas das pétalas e pisando outras que por vezes é preciso arrancar para preservar a beleza do conjunto.
A mulher de cinquenta anos já é uma rosa meio depenada que precisa de muitos cuidados para justificar a sua permanência na jarra lá de casa. Será muito bom que a mulher tenha aprendido alguns truques para manter a união da família, senão, a partir dessa altura, a vida tornar-se-á um inferno. O homem com quem partilharam metade da sua vida começa a deitar os olhos aos jardins da vizinhança e admirar as rosas e os botões que lá existem. E os ciúmes começam a roer a alma dessa mulher que agora já não se olha ao espelho com tanta frequência.
Ser homem nessa altura da vida também não é fácil. Tanta rosa linda ao alcance da nossa mão e a nossa rosa toda murcha na jarra lá de casa. Alguns, aqueles não aprenderam a amar outros aspectos da relação matrimonial, tendem a pegar na rosa e, simplesmente, deitá-la no lixo. Os outros, como eu, penduram-se nos filhos e nos netos que a mulher lhes deu de presente para encontrar uma nova razão de viver.
É quinta feira, abram os olhos e admirem a vossa rosa, quer ela esteja ainda em botão ou já meio desfolhada. Há feira em Barcelos e eu talvez vá até lá para visitar as minhas raízes!
quarta-feira, 21 de junho de 2023
Viva o verão!
Tinha pensado em escrever algo sobre «A Mulher e a Rosa», um olhar masculino sobre a questão mais complexa que existe, entender as filhas de Eva. Mas fui obrigado a mudar de planos por causa do dia especial que hoje vivemos e que merece que eu lhe dedique meia dúzia de palavras.
Hoje, é o solstício de verão, ou seja o primeiro dia da nova estação que agora começa e que é também o dia mais longo do ano. Aproveitem-no bem pois amanhã já os dias começarão a encolher, até ao Natal.
Toda a gente gosta do verão - bem, toda, toda não, há quem tenha que trabalhar a dobrar esse período - porque é tempo de férias, os dias são maiores e há tempo para tudo e mais alguma coisa. Romarias, concertos musicais em altos berros, noites com muito salero com as mulheres cheias de calor e com pouca roupa, além da cerveja fresquinha que, nos velhos tempos, era só deles, mas que agora também elas apreciam.
Lembro-me dos meus tempos de estudante, à espera que começassem as férias grandes. Escolas fechadas de 15 de Junho até ao fim de Setembro eram mesmo, mesmo umas férias de sonho. Mal começava o mês de Junho e a gente se remexia na carteira, incomodado pelo calor crescente, todo o mundo ansiava pelo início das férias grandes.
Agora que estou no inverno da vida - não há outra estação depois desta - já não anseio por férias, um bocadinho de energia para mexer as pernas já está bom para mim. Nesta idade, só podemos optar entre o sofá da sala ou a cama que está no quarto de dormis, por conseguinte mexer as pernas, de vez em quando, é uma espécie de férias na vida quotidiana. Ir até ao jardim ver os reformados, 500 metros para lá, outros tantos para regressar a casa, isto é o resumo resumido da vida de um velhote.
Não liguem ao que acabei de escrever, eu falo de contente! Vivam este dia como se fosse o último da vossa vida e amanhã ... repetem!
terça-feira, 20 de junho de 2023
Prometeram chuva e veio o sol!
domingo, 18 de junho de 2023
Hortas, pomares e jardins!
O meu pai era agricultor, quem fazia a horta, na casa onde nasci, eram duas mulheres, a minha mãe para as tarefas mais pesadas e a minha avó para as mais leves, pois a idade já lhe pesava nos ombros. Os homens daquele tempo tinham trabalhos mais importantes para fazer e consideravam os cuidados a ter com a horta coisa de mulher. Não acho que esteja bem ou mal, é uma questão de repartir as tarefas por quem pode e tem tempo para as executar. Os homens do Minho, nesse tempo em que a agricultura - a que chamavam lavoura - constava de cultivar pão (milho) e vinho (verdinho daquele que a gente gosta), tinham o ano todo ocupado. Na Primavera as sementeiras, no Outono as colheitas. Durante o inverno as terras davam erva para alimentar vacas e bois que eram verdadeiras máquinas agrícolas. E as videiras, logo que caia a folha, era preciso podá-las, amarrá-las, preparando-as para o abrolhamento que pouco depois de aparecer já requeria tratamentos à base de sulfato de cobre, cal e enxofre.. Depois era esperar que as uvas começassem a pintar, enquanto se lavrava a terra para as grandes sementeiras de milho que era a base da alimentação das pessoas do Minho.
Na horta semeavam-se ou plantavam-se hortaliças, cebolas e alhos e em entrando Março havia que semear a batata que alimentaria a família durante todo o ano. Não era nada complicado, batatas e hortaliças cozidas e pão de milho para atestar o estômago. Era assim, antigamente, a pobreza era a moeda corrente e o conduto sá aparecia na mesa do rico. O pobre tinha direito a um frango ou um coelho, em dia de festa e pouco mais. Quando o mar se mostrava nosso amigo e deixava os pescadores encher o barco até à borda, ainda chegavam à aldeia sardinhas a «3 à croa» ou carapaus a menos de 1 escudo cada e nessas alturas havia festa em casa. Meia sardinha em cima de uma fatia de broa era comum em casa de pobre. Era comum salgar sardinhas, quando elas estão bem gordas, no fim do Outono, para servir de merenda a quem trabalha no campo, nos dias de inverno. Broa, sardinhas e vinho à discrição eram o luxo que se podia permitir, uma vez por outra, q quem se esfalfava a trabalhar a terra.
Mas, na prática não foi disso que eu vim aqui falar. Plantar árvores, de fruto e não só, está mais no meu modo de ver a coisa. Tal como o meu pai, acho que a horta devia ser feita pela minha mulher, mas ela não é de sujar as mãos e sobra tudo para mim. Ainda lhe fiz uma proposta de dividir o terreno em parcelas e, enquanto eu tratava da horticultura, ela trataria do jardim, mas ela disse logo que era muito melhor a colher as flores do que tratar das plantas que as dão. De rosas não gosta, porque têm espinhos, há dias encontrei-a a combinar com a minha filha arrancar as roseiras todas para poderem mexer no jardim sem picarem os dedos. Oh, minha Nossa Senhora! Acabou por ficar tudo para mim que tenho que cavar, amanhar a terra semear e plantar se quero ter algo para colher.
Gostava de ter mais terra para plantar mais árvores de fruto. Com macieiras e pereiras não tenho tido sorte nenhuma, ando nisto, há 20 anos, desde que me reformei e passo a vida a arrancar umas para plantar outras e todos os anos fico com o mesmo problema, se quero comer peras e maçãs tenho que ir comprá-las à frutaria ou ao mercado. Pinheiros e eucaliptos ocupam muito espaço e demoram muitos anos a crescer. Diz-se por aqui que madeira plantada por nós só será cortada pelos netos, por isso não me meto por esse caminho. Grandes árvores como castanheiros ou cerejeiras poderiam ser uma boa aposta.
Há pouco, estava ali deitado de papo para o ar, a fazer a digestão da posta de bacalhau que me saiu na rifa para o almoço e ia pensando que logo que venha o Outubro quero plantar alguma coisa. Nem que seja apenas para não estar parado e suar um pouco para libertar as toxinas do nosso corpo. mas no meu quintal não cabe mais nada, tenho que procurar algum terreno que haja por aí abandonado para dar largas ao meu espírito de fruticultor.
Ao pensar nisto deu-me vontade de rir! Tenho meu quintal dividido em 4 partes, topo norte, topo sul, centro esquerda e centro direita. O topo norte está reservado para as habilidades jardineiras da minha mulher (tesourinha na mão para cortar as flores que lhe agradam). O topo sul é só meu, onde tenho uma pequena horta e crio umas quantas galinhas. o centro esquerda é um pomar de laranjeiras e limoeiros por baixo dos quais o meu cãozarrão vai largando uns presentes. O centro direita está vedado ao cão para me permitir ter alguns feijões verdes, uns morangos, uns tomates (alfaces não que os caracóis comem tudo) e milho no pico do verão quando a terra não dá mais nada. O milho está caro p'ra burro e as galinhas precisam dele para pôr uns ovinhos que prestem.
Ás tantas, o que vai acontecer é ficar quietinho a gozar os dias que me restam, pois se plantar um pomar, agora, o mais certo é morrer antes que as árvores comecem a dar fruto!
O calor, qual calor?
Tanto falaram no calor que vinha aí que assustaram o tempo! Hoje, ao levantar-me, tive que ir desencantar um casaco de agasalho para tapar o corpinho que começava a arrepiar-se. Por aqui está muito nublado e os telhados mostram que houve alguma "morrinha", ou pesado orvalho, durante a noite.
Do mal o menos, como não sou de ir para a praia ... tá-se bem!
Quanto ao resto, Portugal ganhou à Bósnia por 3 bolas a 0 e o Octávio "brazuca" foi assobiado por 50 mil pessoas na Luz. É bem feito, ele merece!
Nunca tinha ouvido falar no HOLODOMOR, o genocídio pela fome de cerca de 10 milhões de ucranianos.
Eu já sabia que do lado dos comunas de Moscovo não vem nada de bom, mas condenar a morrer à fome tanta gente, só mesmo da cabeça do Estaline! Não me vou alongar sobre o assunto, pois quem estiver interessado, facilmente, encontrará na internet toda a história.
Durante os anos de 1932 e 1933, faz este mês de Junho 90 anos (que terminou) , o povo ucraniano sofreu as passas do Alarve às mãos dos russos, tal como aconteceu em 2022 e 2023 com a missão especial levada a cabo por Putin. Faz lembrar um remake da tragédia de há 90 anos atrás!
sábado, 17 de junho de 2023
A Vergonha!
Agora é que eu percebo a minha avó Maria que costumava dizer, sempre que a palavra vergonha era pronunciada na sua presença, que "vergonha é uma pistola sem coronha!
Falar de vergonha é um bom tópico para desenvolver num dia de sábado, em que as pessoas têm um pouco mais disponibilidade de tempo para refletir sobre o assunto. O André Ventura que é assim uma espécie de rapaz mal comportado na política portuguesa, usou esta palavra, durante o interrogatório ao Pedro Nuno Santos e foi logo chamado à atenção pelo presidente da comissão, como se esta palavra grave na testa de alguém um carimbo de qualquer coisa feia, má, nojenta. E ainda acrescentou que não podia tratar o inquirido por você, mas sim por senhor doutor. Fiquei de queixo à banda!
Primeiro, vergonha é o que menos se vê na política, pelo que louvo o André Ventura cada vez que ele faz os ilustres representantes da nossa democracia pensar no assunto. E olharem para dentro de si e perceberem se devem sentir vergonha por algo que tenham praticado.. Acredito que poucos haverá que possam dizer: - isto não é comigo, não me serve a carapuça. A maior parte desses cromos a quem pagamos um salário que mais ninguém ganha, em Portugal, têm a consciência mais suja que pau de galinheiro (usando esta expressão brasileira).
E depois, essa de obrigar ao tratamento de senhor doutor é coisa de país pequeno. Se o cavalheiro que está a ser interrogado é doutor ou não, isso é lá com ele e com o esforço que pôs nos estudos, enquanto andou na escola. Para a sociedade é apenas "Senhor" e basta, pois alguns mereceriam mais depressa o epíteto de ranhoso, mentiroso, vergonhoso que o de senhor. Nunca vi, em país algum por onde passei, chamar doutor a quem quer que fosse, para além dos médicos no hospital. Para os ingleses é Mister ou Sir, para os franceses Monsieur e para os alemães Mein Herr. Gosto de ouvir os italianos tratarem por "onorevole" aos seus representantes políticos e penso como seria engraçado tratar os nossos mui dignos representantes por "honroso", quando sabemos que são uns trafulhas capazes de vender a própria mãe por meia dúzia de patacos. Tenham vergonha.
Uma pouca vergonha que pesa sobre o mui famoso José Sócrates é o caso BPN. Não foi ele o culpado de o banco falir (foi o Cavaco e os seu rapazes do PSD), mas foi dele a culpa da enorme dívida que nos pôs às costas. Quase 10 mil milhões a voar e pouco ou nada foi feito para os recuperar, pelo menos em parte para minimizar os custos da falência. Li, nas notícias de hoje, que prescreveu para alguns a obrigação de pagar o que deviam. Não admira, com a falta de vergonha que grassa por aí, a começar na nossa Justiça, outra coisa não seria de esperar. Os advogador que estudaram para ajudar os seus clientes a defender os seus direitos, dedicam o seu tempo e o seu saber a ensiná-los como fugir aos seus deveres. E os juízes que outra coisa não são que advogados rezam pela mesma cartilha. Podem não ser todos, mas é preciso peneirar muito para encontrar algum limpo de culpa. Olhem bem o que fez o Rangel ou o Ivo Rosa!
É uma vergonha pegada !!!
sexta-feira, 16 de junho de 2023
Graças a Deus!
Depois dos pássaros, da passarada, da lição de Português e do funeral do Silvio Berlusconi que optei por deixar em branco - o homem que ganhou a alcunha de Bunga-Bunga foi tão polémico e teve tanta gente a chorar por ele, quando morreu, que eu até tive medo de abordar o assunto e melindrar alguém - fiquei quase sem assunto para a minha publicação de hoje. Versos ainda não me atrevo a fazer, mas um dia destes talvez acorde virado para esse lado.
Felizmente, aconteceu a AG do Benfica, ontem à noite, e isso resolveu o meu problema, já tenho com que vos entreter, pelo menos aqueles que gostam do Benfica que os que alinham pelos dragões e leões, já os vejo a bater com a porta e mandar-me às favas. Antes de continuar com o assunto propriamente dito, deixem-me abrir aqui um parêntesis e dizer que a minha colheita de favas, este ano, foi um desastre por causa da muita chuva e vento que fustigaram as pobres que tinham acabado de nascer.
Quanto ao Benfica, depois de ter ganho o seu 38º título de campeão, só se esperava que corresse tudo bem, houvesse discursos inflamados e muitas palmadas ao novo presidente que lhes veio dar aquilo que todos queriam e os levou até ao Marquês em ritmo carnavalesco. E foi, mais ou menos, isso que aconteceu, se havia coisas mais complicadas para discutir ficaram e ficarão sempre para altura mais oportuna.
A questão da auditoria interna que foi prometida mal o novo presidente assumiu a pasta, devia rever o que foi a presidência do LFVieira e desenterrar cobras e lagartos que ele deixou tomar conta do Glorioso, nos seus quase 20 anos de presidência. Assim a modos que um balanço daquilo que ele fez de bom e de mau e do modo como isso afectou o nosso clube. Isso faria os sócios e adeptos dividir-se em duas fileiras, uns a aplaudir e os outros a apupar o ex-presidente e com isso gerar enormes divisões entre os sócios. Compreende-se, por isso, que demore tempo a sair para afastar os factos e as pessoas envolvidas da memória dos presentes na Assembleia, evitando quezílias e males maiores.
O pessoal queria era ouvir promessas de que não faltaria dinheiro para investir em novos craques que nos garantam o 39º título e o resto era assunto marginal que mal assomou na conversa. As contas foram aprovadas, a revisão dos estatutos ficou marcada para Setembro, com a nova época já em marcha acelerada e correrá conforme tenham corrido os primeiros jogos e a disputa da Supertaça Cândido de Oliveira que teremos que disputar contra o adversário mais difícil (não pelo que joga, mas pelo que não deixa jogar), o FCP.
Entretanto, pode ser que aconteçam algumas coisas que mudem essas coisas para melhor, a substituição de jogadores fiteiros e trafulhas por outros que joguem melhor e façam menos fintas e não assustem os árbitros que são, ao fim e ao cabo, aqueles que distribuem os pontos pelos clubes, ao longo da época. O Porto terá que jogar a fase de acesso à Liga dos Campeões e isso fará que esteja de bom humor, se a coisa estiver correndo a seu jeito, ou de muito mau humor, se a coisa lhe estiver a correr mal. E, claro, o Benfica é o culpado de todos os males que lhe acontecem e sobre ele recairá toda a culpa pelos insucessos.
Também pode acontecer que o Sérgio Conceição aceite os desafios que lhe são propostos e vá treinar para a Itália ou França e dê o seu lugar a outro treinador que incuta menos ódio nos seus jogadores. Eles, ao fim e ao cabo, vieram para jogar futebol e não para dar vivas ao Pinto da Costa Quando se portarem como tal, verdadeiros profissionais será muito mais fácil a sua vida e a dos seus adversários.
Para acabar, o JJ regressou da Turquia, todo inchado porque ganhou um título, embora não o de campeão, e procura um lugar onde passar mais 3 ou 4 anos, antes de pendurar o apito de treinador. Desde que não venha bater à porta do Benfica está tudo bem para mim, já tive a minha dose de sofrimento por causa dele.
Bom dia, alegria !!!
quinta-feira, 15 de junho de 2023
Lição de Português!
Não é para me gabar, mas o Português é a ciência que melhor domino. E não sou eu que o digo, cada professor que tive, durante a minha vida de estudante, dizia assim - se todos os alunos fossem como tu a nossa vida seria um descanso.
Bem, não vim aqui para me gabar, mas para falar um pouco sobre os segredos da nossa Língua que, para sermos bons cidadãos, devemos fazer todos os possíveis por dominar. Eu aprendi que a Gramática Portuguesa se divide em 3 partes, Em primeiro lugar a FONÉTICA que estuda os sons (fonemas), em segundo lugar a MORFOLOGIA que nos ensina os tipos e formas de palavras que usamos no nosso linguajar e, por último, a SINTAXE que estuda a função de cada palavra nas frases que formamos com elas.
Há dias, escrevi isto num post do Facebbok e apareceu um pretinho de Moçambique a contrariar-me, dizendo que não são 3 mas sim 4. Além dessas 3 havia também a SEMÂNTICA. Fiquei puto da vida, pois ninguém me informou que as coisas tinham mudado. Ora não é bem assim, a Semântica serve apenas para estudar a duplicidade de algumas palavras, tanto na sua forma, como na sua função na frase.
FONÉTICA
Dito isto, mantenho-me na minha e quero deixar aqui expressa a minha opinião sobre quem (que região) usa a Fonética com mais exactidão, no território português. Posso estar enganado, é só a minha opinião, são os Bracarenses (habitantes da cidade de Braga) que mais bem pronunciam as vogais, abrindo bem a boca, como os professores ensinam na 1ª Classe. Podem contra-argumentar que eles não sabem a diferença entre o B e o V, mas isso pouco importa. Por exemplo, em alemão, o B pronuncia-se como o nosso P, o V é igual ao F, o W é como o nosso V e por aí fora. Um algarvio, alentejano ou beirão e muito menos um lisboeta não consegue uma pronúncia (uso dos sons) como a malta de Braga.
E porque será que isso acontece? Eu diria que é por estarmos mais perto de Roma que nenhuma outra zona do país. A Bracara Augusta já existia quando os romanos cá chegaram, mas foram eles que lhe deram o título de Augusta e a transformaram na cidade mais ilustre da Península Ibérica. A ligação a Roma continua, ainda hoje, mas por outras razões, a Igreja Católica. E a Igreja quer dizer muitos padres, muitas escolas para os formar e muito conhecimento que, quer a gente queira ou não, passa para a população que com eles convive.
PONTUAÇÃO E ACENTUAÇÃO
A Fonética não tem muito que saber, ja a pontuação e acentuação das palavras é um verdadeiro quebra-cabeças para muita gente e convém estudá-lo como deve ser. Confesso que o AO (acordo ortográfico) me veio baralhar um pouco as ideias e, não raras vezes, me pergunto se estarei a escrever correctamente. Eu sou um grande crítico do José Saramago por ele não querer usar a pontuação correta nos livros que escreveu. Tenho que concluir que ele não dominava essa ciência, não teve professores, aprendeu sozinho, e assim escondia essa falha da sua formação. Ele tinha ideias para escrever e chutava palavras para cima de uma folha de papel à mesma velocidade que uma metralhadora dispara balas. A pontuação não lhe parecia coisa com que devesse preocupar-se. Ok, aceito isso, o mais importante é a gente perceber o que ele quer dizer.
Ora, a pontuação - o uso da vírgula, do ponto final, do ponto e vírgula, dos dois pontos além dos pontos de interrogação e exclamação não representam grande dificuldade para a maioria dos estudantes. E a acentuação obedece a meia dúzia de regras básicas que não são difíceis de memorizar. Onde está então a dificuldade? Na preguiça mental que afecta um grande número de pessoas. Pensando no custo/benefício que esse saber lhes pode trazer escolhem o caminho mais fácil, não lhe ligam patavina.
E, agora, com o uso da internet, dos anglicismos e das abreviaturas, temos o caldo entornado, Se pedir a um aluno que acabou de fazer o 12º ano para escrever uma redação de 20 linhas, ao ver o resultado tenho que me atirar para o chão para parar de rir ou evitar uma apoplexia. Estamos feitos ao bife, como se diz na gíria, ou talvez eles sejam o futuro do nosso país e eu já não tenha lugar nele!
N.B. - Termino com um ponto de exclamação, como deve ser, e não como faria o Saramago.
quarta-feira, 14 de junho de 2023
Passarada!
Depois dos comentários que tiveram a amabilidade de me deixar aqui, fui pesquisar imagens para tentar encontrar os chascos e as chincharabelhas de que vos falei. Não posso dizer que fui bem sucedido, pois as imagens que encontrei não casam com aquelas que guardo na minha memória. Se as pernas me ajudassem pegava numa câmara fotográfica e ia para os campos e bouças, onde passei a minha infância, armar-me em observador ornitológico e trazer um monte de fotografias para actualizar aquilo que os sabichões escrevem na internet.
Antes de entrar no assunto propriamente dito, vou recordar uma pequena história de passarinhos que se passou comigo, na Primavera de 2001, quando tomei posse desta casa que acabara de comprar. Desabitada há mais de 3 anos a casa desabara, pura e simplesmente, e o quintal estava transformado numa autêntica selva que os gatos das redondezas tinham adoptado como seu parque privado de recreio e caça. Pássaros, cobras e lagartos, nada faltava ali para lhes tornar a vida feliz. No fundo do quintal, vedado por um muro com mais de três metros de altura, havia um buraco, daqueles que os pedreiros deixam nos muros para meter um barrote e montar os andaimes. Casualmente vi entrar para lá um passarito, o que despertou a minha curiosidade, e fui lá espreitar logo que o residente voou para longe. Era um ninho de carriça e lá estavam os filhotes que abriram o bico, logo que sentiram a minha presença. Deixei tudo como estava e todos os dias ia lá espreitar para ver se os inquilinos continuavam vivos e de saúde. Um belo dia, quando me aproximei, vi logo que tinham dado às asinhas e partido à aventura. A menos que algum dos gatos os tenha apanhado e manducado. No ano seguinte, fiquei à espera que a mãe carriça voltasse para fazer o ninho e pôr os ovos, mas nada aconteceu. Devo dizer que os carriços são pássaros envergonhados e desaparecem mal se sentem observados.
Nas minhas pesquisas descobri dois pássaros que são muito parecidos com as chincharabelhas que mencionei. Um deles é o Chapim Real, mas a cor das penas é diferente, é tudo preto ou branco, como a cabeça deste chapim.
O outro é o Melharuco, embora a posição em que poisam neste imagem não corresponda à minha memória. A Chincharabella anda sempre aos saltinhos, de cabeça baixa e rabo no ar que não é, nem de perto nem de longe, a pose dos dois que se vêem aqui abaixo.
Quanto aos chascos, cujo nome eu pensava não existir, há os cinzentos, os pretos e os ruivos. Olhei para todos e cada um, mas também não se encaixam nas minhas memórias.
Trouxe ainda uma foto de um Rabiruivo que conheço, embora não com esse nome. Se tivesse o rabo no ar, diria ser um carriço, assim fico-me só em dizer que o conheço mas não lhe sei o nome
Um parente do Chasco é o Rabo Queimado que podem ver aqui abaixo e me parece mais aquele que eu via a cantar o cha.cha.cha que lhe granjeou o nome de Chasco.
E por agora é tudo! Podem ir até à mata de Mindelo (aqui perto de onde eu moro) que é um dos melhores lugares recomendados para »observar pássaro». Andam por lá muitos "coca-bichinhos", tipo caçadores de borboletas, de máquina fotográfica (com grande objectiva) em punho, prontos a conseguir a foto da sua vida, aquela que os tornará famosos. Com tanta presença humana, às atantas, são os pássaros que mudam de residência!
terça-feira, 13 de junho de 2023
O pássaro, a pássara e a passarada!
Pois é, há dias para tudo! Hoje, que é o dia de Santo António, padroeiro de Lisboa, eu devia falar dele ou das marchas que o PR foi ver e achou muito bonitas. Eu também achei, não sei explicar porquê, mas pareceram-me mais bonitas que em outros anos, mas posso ter estado desatentos no passado. Em vez disso resolvi falar da passarada que anda doida a fazer o ninho, pôr os ovos ou tratar dos pequenotes já nascidos e de bico aberto à espera de qualquer coisa que se engula.
Não liguem muito ao título que escolhi, pois, por momentos, fugiram.me os pensamentos para outro lado e escrevi algo que, talvez, nem todos compreendam.
Este passarito que vêem na imagem é um rabo queimado. Aparecem alguns aqui no meu quintal, embora haja mais melros, rolas e tarrotes (pardais do telhado), além de gaivotas que sobrevoam a horta, durante todo o dia, de olhos bem abertos, para ver se avistam qualquer coisa que lhes agrade. E aliviam a tripa, enquanto voam, pintando tudo de branco por onde passam.
Como todos os rapazes em idade escolar, eu também andei à procura de ninhos e fiz alguns esforços para conseguir chegar a alguns que eram quase inacessíveis. Rolas, gaios, pegas e corvos eram os mais raros e mais difíceis de encontrar e quando se encontravam, estavam em lugares, praticamente, inacessíveis, tipo, na crista dos pinheiros mais altos. Diziam que era possível pôr um corvo ou uma pega a dizer algumas palavras e andava tudo louco para tentar apanhar um ainda no ninho, pois a voar nunca os conseguiriam apanhar. No colégio de Coimbra, onde passei quatro anos da minha vida, havia uma mata como eu nunca tinha visto. Não havia pinheiros nem eucaliptos, como havia na minha terra natal, nem mato, daquele que pica as pernas a quem se mete pelo meio dele. Nessa mata do colégio era uma alegria ir aos ninhos, as árvores tinham ramos até ao chão e eram facílimas de trepar. Uma festa para este rapaz que nada o fazia desistir de qualquer empreitada por mais encrencada que parecesse.
Mas também não foi para descrever isso que aqui vim. Estou a olhar pela minha janela e vejo um passarinho, pousado no galho de uma árvore que me parece um «Chasco». Nunca ouviram esse nome? É natural, cada terra tem seu uso, cada roca tem seu fuso e até os nomes da passarada variam de terra para terra. O nome deste pássaro advém da sua forma de cantar, se se pode chamar cantar ao som que ele emite pelo bico fora. Um som que é mais ou menos assim - unchachacha, unchachacha - e enquanto emite esse som flete as perninhas até chegar com o peito ao chão. Na minha interpretação aquilo quer dizer - estouaqui, estouaqui - diz ele para avisar a fêmea que deve andar por perto. Se alguém conhecer e souber o nome científico deste pássaro, agradeço que mo digam.
Este pássaro faz o ninho no chão, entre tojos de mato, o que é uma alegria para as cobras que andam por ali à procura de alimento. Não era ninho que nós gostássemos de procurar, andar a remexer o mato picava os dedos e era preferível evitar. Os melros e as serezinas faziam os ninhos nos ramos das videiras e eram muito mais fáceis de abordar. E os melros eram pássaros muito finos, se a gente mexesse nos ovos que estavam a chocar, nunca mais lá voltavam. Abandonavam aquele e iam fazer outro ninho mais bem escondido.
E a chincharabelha alguém conhece? É um passarinho pequeno que tem as penas numa linda combinação de preto e branco a fazer lembrar as camisolas do Boavista, embora não seja aos quadradinhos, é mais às riscas. Na minha terra havia uma cantilena que as crianças cantavam, quando as viam aparecer na Primavera e que rezava assim: - Chincharabelha em cima do muro, treme-lhe o cu como um figo maduro!
Tudo isto era num tempo em que não havia Costa nem Marcelo, Galamba ou Medina. Se os políticos já eram malandros e ladrões não sei, mas pelo menos ninguém falava nisso, havia muito respeitinho. Na escola tínhamos o Salazar e o Carmona por cima do quadro negro e aprendíamos a cantar o Hino Nacional e também o da Mocidade Portuguesa. Era melhor, era pior? Sei lá, eu ia aos ninhos e o resto não me preocupava!
segunda-feira, 12 de junho de 2023
À segunda também há futebol!
Como já devem ter percebido, tanto pelos textos e fotos (publicados aqui acima) o assunto é o Clube de Futebol Os Belenenses. Há 5 anos, por causa do desentendimento entre a SAD e o Clube este histórico clube de Lisboa foi jogar para as distritais, ficando a SAD com o plantel a jogar na I Liga, coisa que nunca se pensara pudesse acontecer. Mas, neste país de leis esquisitas e que para pouco servem, tudo pode acontecer. O Clube ficou com o estádio, mas sem uma equipa para nele jogar e dar alegrias aos seus sócios.
Este ano, o destino marcou a hora para o trafulha que lidera a SAD, levando a equipa que ele comanda para a III Liga. Depois disto, só lhe resta um caminho, desaparecer e deixar o lendário clube do Restelo continuar a escrever a sua história. Do outro lado, a esforçada equipa que lutou pela subida dos distritais à III Liga e este ano consegui trepar mais um degrau e entrar e aceder à II Liga do nosso futebol profissional. Pode ser que em breve os possamos ver a lutar pela subida à divisão maior do futebol e dar o seu contributo para uma melhor Liga.
O Vicente Lucas, de que fala o texto acima, é irmão do famoso Matateu que jogou no Belenenses, quando eu ainda andava na Primária e nada sabia de bola. Na boca do seu irmão o Matateu era inda melhor que o Eusébio a que juntando o Mário Coluna fazia o trio de jogadores moçambicanos mais badalados em Portugal.
Quando comecei a abrir os olhos para o futebol só havia 3 jogadores que viviam na minha cabeça, o Eusébio (Benfica), o Matateu (Belenenses) e o Travassos (Sporting), tudo o resto eram apenas sombras que que evoluíam em redor dos 3 grandes.
Desejo um feliz regresso do Belenenses à Liga Profissional e espero que consigam trilhar o seu caminho, em direcção ao futuro, com o maior sucesso!
domingo, 11 de junho de 2023
Futebol é ao domingo!
Ainda se lembram como era, antigamente, a tarde de domingo cheia de relatos de futebol que o povinho ouvia deliciado nos pequenos rádios portáteis?. A televisão era ainda uma moda recente e não fazia mais que transmitir, à noite, o resumo dos diversos jogos, num programa que dava pelo nome de «Domingo Desportivo». Agora tudo é transmitido e obriga a uma grelha televisiva que espalha os jogos de sexta até segunda, para contentar todos e garantir aos clubes mais pobres uns euritos pelos direitos televisivos que os mantêm de porta aberta.
Bem, hoje é domingo e venho aqui trazer algumas notícias do meu clube que garantiu o título de campeão na época recém-terminada. Ontem jogou-se a final da Taça dos Clubes Campeões Europeus e ganhou o Manchester City com um único golo marcado por um espanhol, com assistência de um português, o fantástico pequeno jogador Bernardo Silva. Até ao início da próxima época, haverá apenas jogo de selecções e apenas amigáveis.
Mas as direcções e equipas técnicas dos clubes começam agora a parte mais trabalhosa e de certo modo decisiva para a nova época. É preciso despachar os jogadores que provaram ser apostas erradas, é preciso contratar alguém para substituir os que saírem e, claro está, fazer alguns milhões em vendas, pois sem esses milhões não há clube que resista. Felizmente para o Benfica são os mais directos adversários, Porto e Sporting, que têm que mostrar serviço, pois são os que têm situações mais deficitárias. O Benfica ao sagrar-se campeão já tem uma boa maquia garantida pela entrada directa na Liga dos Campeões.
Mas vamos aos factos. São 6 os futebolistas que regressam ou saem, caso do Draxler, ao plantel e o treinador tem que olhar para eles e participar à direcção do clube o que fazer com eles. Dos 5 que regressam só vejo algum potencial no João Vitor (defesa) e Paulo Bernardo (médio), mas isso sou eu a falar que não estou por dentro dos pormenores. Deixemos o Herr Schmitz dizer da sua justiça.
E há outro grupinho que já passou pelo crivo dos analistas que deixaram ir â vida o Grimaldo e o Weigl, o primeiro porque exigia demais para ficar e o segundo que foi vendido a preço de saldo por ter sido post de lado pelo treinador, logo que esta chegou à Luz. Nem por serem conterrâneos isso garantiu a permanência do J. Weigl, não serve, não serve e rua.
A nova coqueluche do ataque benfiquista, para ocupar o lugar que se prevê venha a ficar vago pela saída do GR88, é um jovem turco que deu que falar na Holanda, perdão, países Baixos que agora é proibido dizer Holanda. Com um nome que vai dar muitas dores de cabeça aos comentadores que terão que falar nele, nem que seja só pelos milhões que custou ao Benfica. O melhor será fazer uma gravação do jovem avançado a pronunciar o seu nome para todos treinarem e não fazer vergonhas a chamar ao rapaz algum nome feio na língua do país de onde ele veio, a Turquia. KOKÇU com um trema em cima das duas vogais, sabe Deus como se deverá ler!
Do Joshua que veio dos Estados Unidos nunca ouvi falar! Qual será a especialidade dele? Também não sei, mas vou ficar atento ao próximo programa desportivo que me dará mais pormenores com toda a certeza. Por boas ou más razões o BENFICA é sempre notícia.
Ah, ia-me esquecendo de informar que o argentino Otamendi assinou com o Glorioso por mais dois anos, coisa que não estava nas minhas previsões. Ele é velho demais e caro demais para o Benfica e deveriam tê-lo deixado ir à vida. Ele quer e poderia ter regressado ao clube do seu coração, ainda a tempo de brilhar aos olhos de quem gosta dele. Ao ficar no Benfica por mais dois anos cortou rente essa hipótese de voltar ainda a brilhar perante os seus adeptos. Quando sair de Lisboa vai com as chuteiras penduradas ao pescoço!
E é tudo o que temos para hoje, amanhã há mais!!!
sábado, 10 de junho de 2023
Camões!
Pois é, eu devia falar do Camões, mas deixo-vos apenas esta quadra que atesta as minhas capacidades poéticas e vou falar-vos de costura, uma arte que deu o pão a ganhar a muitas mulheres num passado remoto e que foi destronada pelas confecções e o pronto-a-vestir.
E quem fala em costura fala em costureiras que, tal como a Eva, saíram da costela de um homem, são tortas e duras de roer. Isto disse um brasileiro e as suas palavras caíram debaixo dos meus olhos que li e fui obrigado a concordar com elas. Deus podia ter escolhido outro osso qualquer, ao escolher a costela deve ter tido as suas razões, embora eu acredite que foi apenas por termos muitas e uma não faria falta para equilibrar o esqueleto.
Depois de umas quantas voltas pelo mundo, eu próprio acabei por me juntar ao mundo da costura e das costureiras e por lá fiquei por um longo período da minha vida, o que prova que me dei bem com a companhia, senão teria desertado e rumado a outras paragens.
Mas a minha história - a que hoje escolhi para vos alegrar a vida - começou, em Moçambique, no mesmo mês em que me tornei maior de idade, aos 21 anos que antigamente, aos 18 ainda não éramos considerados gente de juízo perfeito. Mas, no entanto, e mesmo sem o juízo todo, eu já tinha corrido Moçambique inteiro, de G3 em punho, procurando manter os turras da Frelimo na ordem.
Desculpem-me lá, já ia a descarrilar, a história é de saias e de costura e nada tem a ver com guerras, com turras e também não mete armas. A não ser as que as mulheres usam para nos dar volta à cabeça. E é por aí que mergulho de novo nas minhas recordações do passado e me vejo a empacotar todos os meus pertences para embarcar rumo a Lisboa. Depois foi uma viagem maravilhosa, a bordo de um paquete de luxo, que não paro para vos descrever senão tornaria isto uma leitura longa e cansativa. Digo cansativa, porque muitas vezes o que para nós foi um delírio total aos outros pode aborrecer. Num abrir e fechar de olhos estava em Lisboa e pronto a gozar uma curta licença, a primeira desde que ingressara na Marinha, pois muito em breve começaria o Curso de 1º Grau, na Escola de Fuzileiros.
Parti de Santa Apolónia depois do almoço e cheguei ao Porto, ao fim da tarde. Como tinha ali família, decidi fazer-lhes uma visita e só no dia seguinte continuar a viagem até casa dos meus pais. Distribuí beijinhos "à labúrdia" por tudo que era primo ou prima e aceitei o jantar que a minha tia me ofereceu. Na hora do "vamos dormir" acompanhei a minha prima mais velha que tinha uma filha da minha idade - fora mãe com apenas 16 anos - e que garantiu que tinha lá um lugarzinho onde eu ficaria bem instalado. Meteu. me na cama da filha e levou esta com ela para dormirem na cama de casal que era a dela e de quem mais ela lá resolvesse meter. Talvez lhe tivesse passado pela cabeça ficar ela na cama da filha e deixar-me na companhia da priminha na cama grande, mas não o fez, seria andar depressa demais.
Interrompo aqui o curso da minha história para recuar 21 anos e pôr-me no lugar dela, grávida no fim do tempo e com apenas 16 anos de idade. Que ia ser da vida dela? Tal como a mãe, aprendera a dar uns pontos, muito embora não se pudesse dizer que era uma verdadeira costureira. O pai da criança era um moço da lavoura e trabalhava ao jornal para quem quisesse os seus serviços. O casamento foi um acto que não ficou registado na memória de ninguém para além da mãe da criança que estava quase a nascer e da avó que não sabia o que fazer com filha e neta daquelas idades. Assim o marido assumiria uma parte das responsabilidades e ela podia folgar um pouco as costas.
Mas foi sol de pouca dura, o genro era um encrenqueiro de primeira, sempre metido em disputas por causa dos engates, achava-se o mais bonito lá da terra, e um belo dia acabou com a cabeça rachada ao meio por uma foice empunhada por um dos seus contendores. Filha casada, filha viúva e um novo problema para resolver.
Com aquilo que aprendera no negócio da agulha e do dedal, mudaram-se as duas para o Porto à procura da sua sorte e de um futuro que brilhasse mais que o passado. A mãe arranjou trabalho como costureira de um grupo de teatro amador e entregou a filha a quem lhe tomasse conta dela por meia dúzia de tostões. Por volta dos 4 anos já a filha ia com ela e poupava os tostões que dava a quem tomara conta dela até à data.
E assim se foram passando os anos, até que a filha arranjou também ela emprego como costureira numa alfaiataria do Porto e começou a contribuir para o orçamento da casa. Foi nesta situação que as fui encontrar naquela noite em que, regressado de Moçambique, lá fui dormir. Uma parte da história que acima resumi foi-me contada pela própria nessa noite, antes de o sono nos mandar para a cama. Todos três, demos muitas voltas na cama, cada um estranhando uma posição a que não estava acostumado.
No dia seguinte, segui viagem para o norte, gozei a minha semana de férias e ala, a caminho de Vale de Zebro, pronto a escrever outro capítulo da minha vida pessoal. Uns dias mais tarde, recebi uma carta da "prima do Porto" dizendo-se encantada pelo nosso recente encontro. Escrivão como eu era, logo teve a minha resposta e carta para cá, carta para lá, passámos assim aqueles 5 meses que durou o curso. Não sei muito bem se a conversa que íamos desenvolvendo nas cartas se podia chamar um namoro, o que contava era o que cada um tinha encasquetado na sua cabecinha. E ela partiu do princípio que aquilo era um namoro e coisa séria para nos levar até ao casamento.
Só que conversas leva-as o vento e um mês após acabar o dito curso que me dava direito a usar as divisas de Marinheiro, inscrevi-me na CF8 (Companhia de Fuzileiros Nº 8) e rumei de novo a Moçambique, minha segunda pátria. A correspondência com a prima terminara ali e soube mais tarde que custara muito mais a suportar à mãe que à filha.
Esta vendo o tempo passar, em breve faria 22 anos, e sem casamento no horizonte decidira ceder aos avanços do patrão alfaiate, convivia com ele desde os seus 16 anos, e meter-se com ele na cama. Tempos depois teve um lindo pimpolho a quem pôs o nome do avô, o tal que acabou com a cabeça rachada ao meio, mas casar nem pensar, pois o alfaiate já tinha em casa uma mulher e filhos.
Foi por essa altura que recebi uma carta da minha prima, agora tornada avó, acusando-me de ter abandonado a sua filha, levando-a assim a enveredar por maus caminhos. A responsabilidade pelo nascimento daquela criança pesar-me-ia na consciência para o resto da vida. Confesso que nunca senti esse peso, não prometi nada à rapariga e portanto não quebrei nenhuma promessa.
A alfaiataria continuou com o seu negócio a correr bem e não tardou muito que a família fosse aumentada com outro pimpolho e assim continuou até chegar aos cinco, sendo o último rebento uma menina chamada Bela que hoje vive em França. E pouco tempo depois da Bela nascer, o alfaiate enviuvou foi possível o casamento para dar um pouco de normalidade àquela família que já ia grandinha e ocupava um lugar muito seu neste mundo de Deus.
Regressei de Moçambique, na Primavera de 68 e abandonei a marinha uns meses depois. A Primavera de Praga aconteceu por essa altura, os checos viram-se livres dos russos, enquanto eu me vi livre da Armada Portuguesa que me tratou mal no último ano, roubando-me as divisas de Cabo e obrigando-me a assinar o pedido da demissão. Fui até à Bélgica, à procura do meu destino, e acabei na Alemanha a trabalhar na ferrugem. Vida pesada que me me fez regressar a Portugal e procurar outros caminhos para a felicidade que me apareceu na forma de uma fábrica de confecções, a maior que já houve em Portugal.
E foi assim que também eu me juntei à Costura, fazendo companhia às minhas primas com quem me cruzei algumas vezes e me brindavam com um olhar de partir pedra. Mas o tempo é um grande médico, cura todos os males. Aos 90 anos, o meu pai sofreu um AVC muito grave e ficou prostrado numa cama, como se estivesse em coma, durante um ano inteirinho. Essa ocorrência fez passar pela casa dos meus pais toda a família, inclusivé a minha prima e o seu marido-alfaiate. Cumprimentamo-nos cordialmente, beijo para ela, aperto de mão para ele e cada um dos três perdido nos seu próprios pensamentos.
É assim a nossa vida!