segunda-feira, 2 de abril de 2018

Era, mas já não é !

Nos velhos tempos, a «Segunda-feira de Páscoa» era o dia mais importante desta quadra. Excepção feita às beatas de igreja que essas só pensam na missa, na procissão, no compasso, com entrada do "Senhor" na sua casa, cheia de imagens sagradas e velinhas acesas. Todos os outros passavam o ano a planear este dia, poupavam para comprar a melhor comida, a melhor bebida e muitos doces, pois a festa era, principalmente, comer muito, beber muito mais e alinhar em todos os exageros para mais tarde recordar. A «Comunidade Piscatória» era, sem sombra de dúvida, a grande promotora desta festa. O tempo e os riscos vividos no mar, faziam com que precisassem de um dia especial para darem largas aos seus sentimentos, à sua alegria e esconjurarem os medos e os perigos vividos no inverno passado. Era deles a maior festa, o maior número de garrafões de tinto e as maiores carraspanas ao fim do dia.


Como diz o título, era assim, mas já não é. Duas ou três coisas ditaram o fim desta forte tradição. E há uma personalidade do nosso espectro político que ficará, para sempre, ligada a isto, o Sr. Dr. Prof. Aníbal Cavaco Silva. Em primeiro lugar, a autoestrada que veio inaugurar quando era Primeiro Ministro e que separou, irremediavelmente, as cidades da Póvoa e Vila do Conde das matas que as limitavam pelo lado nascente (lembro que a poente está o mar), onde se realizavam os piqueniques de que constava a festa deste dia. Cortado a acesso fácil a essas matas e destruídas muitas delas pelas terraplanagens levadas a cabo, durante a construção da A28, a festa tornou-se pouco menos que impossível.


Ainda se tentaram uns lugares alternativos, mas sem grande sucesso. Até porque, quase na mesma altura, foi dada uma grande machadada na nossa frota pesqueira - adivinhem por quem - reduzindo drasticamente os ganhos dos nossos pescadores. E quem mal ganha para comer, claro que não consegue poupar para festas. E sem o pessoal da pescaria a festa perdeu todo o brilho e interesse.
E para dar o golpe de misericórdia na tradição destas gentes, veio a moda das discotecas e dos telemóveis, tão ao gosto da nossa juventude. Com a recusa dos filhos em acompanharem os pais nesta festa de comes e bebes (eles só bebem Coca-Cola), lá se foi a velha tradição por água abaixo.
E já nem vale a pena deitar as culpas ao Cavaco Silva, pois, mesmo sem ele, talvez acontecesse tudo da mesma maneira.

4 comentários:

  1. Ainda bem que fui mais vezes à Póvoa e Vila do Conde quando ainda estava tudo ligado e muito mais bonito esse Boliqueime do ca.....só fez merda, já nem posso ver o homem na TV, quanto mais chamar-lhe SR.Doutor, professor! Mas respeito o teu conceito para com esse gajo.
    Abraço

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  2. bom dia
    E lá se vão acabando as tradições . temos de nos habituar a um novo modo de viver , quer queiramos ou não .
    JAFR

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  3. Num pais onde ninguém se contenta com nada,
    em benefício dos que já são donos disto tudo
    destruíram a mata para construir a auto estrada
    para os que mais depressa querem chegar ao futuro?

    As auto estradas são precisas,
    assim como as matas são também
    todos não contentam as políticas
    bem melhor vive quem saúde e paz tem!

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  4. Ora ai está. Eu não disse que não era caso para andar a sofrer fora de tempo.
    Abraço

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