sexta-feira, 23 de setembro de 2016

Nó difícil de desatar!

Diz-se que só passados 50 anos se pode escrever a história com um mínimo de possibilidades de erro quanto aos factos narrados. Pois, de 1970 até hoje, passaram-se apenas 46 e eu não deveria estar a abordar o assunto, mas não me sinto preparado para esperar mais meia dúzia de anos. Receio não ter vontade, ou não estar apto para escrever seja o que for, nessa altura.
O facto a que me refiro, sobre o qual, por mais estranho que pareça, ainda não se conhece toda a verdade, é a «Operação Nó Górdio», a maior operação militar levada a cabo pelas tropas portuguesas durante a Guerra do Ultramar. Foi levada a cabo em Moçambique, no «Planalto dos Macondes», na segunda metade do ano de 1970. Só para se ficar com uma ideia do tamanho da coisa, deixo aqui dois quadros que detalham quais as Unidades Militares que compunham os cerca de 8.000 homens que foram envolvidos nessa operação.



A primeira consideração que gostaria de fazer e que, passados tantos anos, ninguém me levará a mal, é que foi a maior estupidez em que o general Kaúlza de Arriaga poderia ter pensado. Ele pensava ganhar a guerra com este grande levantamento militar, esquecendo-se que aquilo era uma guerra perdida desde o princípio. Desde 1962 que já não havia a presença de qualquer país colonizador, em Africa, excepto Portugal. Todas as directivas da ONU iam no sentido de proibir Portugal de continuar aquela guerra sem sentido. Quem é que nessas condições poderia conceber uma tal operação envolvendo tantos meios e pondo em risco tantas vidas humanas de um e outro lado? Só um louco ou um estúpido, digo eu.
Há na internet muitos relatos feitos por "comandantes da Frelimo" que ridicularizam a operação e desmentem muitas das afirmações constantes dos relatórios das nossas tropas. Do mesmo modo, há do nosso lado relatos que se contradizem em pontos onde não poderia existir qualquer dúvida, como o número de baixas, por exemplo. Há quem refira que foram 132 os mortos do nosso lado e quem contraponha que foram apenas 27. O que é um facto indesmentível é que a operação serviu apenas para melhorar as vias de comunicação, aumentar as pistas de aviação e pouco mais.
Devido ao início das obras de construção da Barragem da Cabora Bassa, a guerra deslocou-se para a zona de Tete, com infiltração dos guerrilheiros da Frelimo via Malawi. E a situação de aperto que as nossas tropas viviam em todo o distrito de Cabo Delgado melhorou muito depois disso, pela razão da deslocalização da guerra e não como resultado da famosa operação engendrada pelo general Kaúlza de Arriaga.
Para terminar, devo dizer que não pretendo contribuir para a História com esta minha abordagem, limito-me apenas a deixar escrito o que penso sobre o assunto. Aos que estiverem interessados em conhecer a "operação" com mais pormenores, além daquilo que podem encontrar na Wikipédia, deixo aqui o endereço de um blog que vale a pena visitar.

5 comentários:

  1. Operação de grande envergadura,
    com o nome de Nó Gordio, foi muito falada,
    por ter sido, talvez, uma falhada aventura
    comandada pela general Kaúlza de Arriaga!

    Muitas asneiras foram feitas desde o principio ao fim da guerra. A primeira grande asneira terá sido a teimosia de Salazar e seus cupinchas nada terem feito para a evitar. Durante a guerra, surgiram asneiras atrás de asneiras. Mais, talvez? Por falada de experiência e desconhecimento do terreno, onde as nossas tropas tinham que operar. A maior asneiras de todas, foi a exemplar, vergonhosa descolonização, feita pelo "Marocas", em Angola Rosa Coutinho, e muitos outros mais, que aqui não vou enumerar, porque todos vós ex-combatentes conheceis de ginjeira!

    O Blog, cujo endereço aqui mencionas, de quando em vez faço-lhe uma visita. O Amadeu Neves Silva, tem lá muita escrita sobre a guerra, colonial, em Moçambique.

    ResponderEliminar
  2. Vou visitar este tal blog que nos deixas aqui, só por curiosidade, porque para mim guerras e maus momentos, eu quero esquecer de vez! Quero sim recordar os bons momentos que tive em África e os bons camaradas e amigos que conheci e trabalhei ao serviço do meu país, para os quais deixo aqui o meu abraço.

    ResponderEliminar
  3. Fui lá antes antes de comentar. Na altura estava em Lourenço Marques, ouvi falar dessa operação mas na altura não tive uma noção da realidade
    Cheguei a Nampula a 17 de Outubro de 1970
    Um abraço e bom fim de semana

    À margem. Seja qual for o diagnóstico do Pedro, espero que continue a acompanhar a história.

    ResponderEliminar
  4. GUERRA E POLÍTICA
    -em nome da verdade
    os anos decisivos-

    autor: General Kaúlza de Arriaga

    edições Referendo.

    ResponderEliminar