A GNR lembra que "a colheita de pinhas de pinheiro-manso é proibida entre 1 de abril e 1 de dezembro". E "ainda que esteja caída no chão, a sua apanha está interditada por se encontrar em época de defeso", diz a guarda. O objetivo é salvaguardar "o crescimento e desenvolvimento da pinha e do pinhão e evitando a colheita da semente com deficiente faculdade germinativa e mal amadurecida", acrescenta um comunicado da GNR de Viseu.
Afinal, o "pinheiro-manso (Pinus pinea) é uma espécie florestal com um crescente interesse económico, cuja importância do comércio externo de pinha e de pinhão tem contribuído para a promoção de importantes dinâmicas económicas à escala regional, uma vez que o pinhão produzido em Portugal é de todos o mais valorizado pelas suas características nutricionais."
A notícia que podem ler acima fez-me voltar à idade da Escola Primária. Nessa idade eu ia às pinhas para termos pinhões, em casa, na noite de Natal. Se faltassem os pinhões, onde já havia tão poucas coisas seria a pior das falhas. E os pinhões eram-nos oferecidos pela natureza, só tínhamos que ir a eles.
Logo que o tempo começava a aquecer - aí pelo fim da Primavera - e as pinhas bravas a abrir e largar os pinhões, apareciam na minha aldeia os profissionais ligados ao negócio da lenha e do carvão. Eles subiam aos pinheiros mais altos, quais macacos aos coqueiros, e com o auxílio de um gancho, habilmente, preparado deitavam tudo ao chão. Algumas pinhas nem a cor de maduras tinham ainda. Eles carregavam as suas carroças e lá iam a caminho da Póvoa, onde o negócio dava dinheiro.
A partir de Outubro apareciam para rapar tudo que era pinha mansa para fazerem mais uns trocos no Natal. Na altura, não era proibido por lei, como é hoje, mas alguns lavradores, donos de pinhais com muitos pinheiros mansos, chegavam a montar guarda, com cão de guarda pela trela e caçadeira ao ombro. Era a única maneira de sobrar alguma coisa para o pessoal da terra. Eu recorria aos amigos e colegas de escola, filhos desses lavradores, para irmos à bouça (nome dado aos pinhais, no Minho) à procura das ditas e famosas pinhas. Eu era mais habilidoso a subir aos pinheiros, eles os donos do material, no fim repartíamos a colheita.
E a partir de Outubro, fora das horas escolares, ficávamos todos de atalaia, avisando os lavradores, logo que víamos passar as carroças dos lenhadores. Tudo que eles apanhavam era roubado e já conheciam, mais ou menos, as propriedades menos vigiadas. Andavam de aldeia em aldeia, à espera de uma oportunidade para trabalhar. Alguns lavradores pregavam nos pinheiros, à borda da estrada, uma placa que avisava que a propriedade estava à guarda da GNR. Nunca percebi como funcionava aquilo, pois nunca vi nenhum guarda a passear a Mauser pelo meio dos pinheiros.
No Minho, muito diferente do Ribatejo, as pinhas só amadurecem depois do Natal, por isso é precisa alguma sorte para encontrar pinhas que já tenham pinhões, pois deitar abaixo as pinhas muito verdes não serve de nada, só servem como lenha para a fogueira. Nesse métier era eu um mestre!
Aos 11 anos tornei-me num estudante profissional, coisa rara naqueles tempos e lugares, e nunca mais subi aos pinheiros. Na Escola de Fuzileiros, em Vale de Zebro, havia muitos pinheiros mansos, grandes e cheios de pinhas, mas ... ninguém se preocupava em as apanhar. Ainda subi algumas vezes a esses pinheiros, mas era em exercícios militares e sempre com um sargento debaixo do pinheiro para nos fazer correr e suar as estopinhas. Como nunca passei nenhum Natal, em Vale de Zebro, nunca soube se apanhavam as pinhas ou não. Talvez alguns que tinham família por perto o fizessem para darem à família os tais pinhões que agora se vendem ao preço do ouro fino. São precisos uns quantos euros para comprar 100 gramas e, por vezes, não valem nada. Nada que se compare aos que eu comia, tirados das pinhas assadas na fogueira acesa sobre a «pedra do lar».
Na minha casa era maior,
tinha cerca de 2X2 Metros