Eu acredito!

Catorze anos à frente da EDP podem ter chegado ao fim para o gestor emblemático que liderou a expansão da energética, mas é apontado pelo Ministério Público como suspeito de ter corrompido o ex-ministro Manuel Pinho e de lesar o Estado. Suspenso de funções durante oito meses por ordem judicial, o também ex-CEO da Galp Energia, ex-administrador do BESI e ex-ministro de Santana Lopes arrisca terminar a carreira de forma inglória ainda que não seja condenado.

As andanças do Mexia à frente da EDP sempre me deixaram de pé atrás. Desde que fez parte do governo e saiu só o vi lutar para nos tramar a vida, tudo para a Galp e EDP e nada para nós, os explorados deste país. A cada negociação com o governo era certo e sabido que ficaríamos a pagar mais um pouco pela energia. Desde o aluguer dos contadores, a caução inicial para fazer um contrato de fornecimento, ou até a emissão de um «Certificado Energético» - que nada tem a ver com a energia, mas só a EDP pode passar - tudo serve para nos irem ao bolso. E vindo de um ex-governante a coisa fica mais feia ainda.

Um caso que me deixou de boca aberta foi a criação da empresa EDP-Renováveis. Eu tinha algumas acções da EDP e fiquei à espera que me dessem algumas acções da nova companhia ou algo que compensasse a cedência de cerca de 30% dos activos da "minha" empresa a terceiros. Além disso, ao desdobrar a empresa em duas, seria lógico que o valor delas somado desse o mesmo resultado da velhinha EDP. Nada disso, a nova empresa apareceu em Bolsa por um preço altíssimo e a velha continuou na mesma como se nada se tivesse passado.

Fiquei pasmado como é que aquilo passou na CMVM e do lado dos grandes accionistas, a começar pelo Estado, ninguém disse uma palavra. E a dívida da EDP, de muitos milhares de milhões, por força do investimento nas mesmas renováveis, não foi repartida entre as duas empresas, antes ficou para ser paga por aquela de que eu era accionista. Não admira que o homem tenha sempre lutado por aumentar o preço da energia todos os anos, ele precisava de dinheiro para ir financiando a dívida sem reduzir os dividendos dos accionistas, primeiro o Estado Português e depois a China Three Gorges.

Cansado dessas habilidades, vendi as minhas acções e saltei fora com o comboio em andamento. Agora que o juiz Carlos Alexandre está a apertar com ele, espero que alguma justiça seja feita e fiquemos a perceber como somos "toureados" indecentemente por esta gente que passou pela política e se deu bem!