sábado, 10 de novembro de 2018

A «Chaputa»!

A Chaputa (Brama brama) é um peixe mesopelágico da família Bramidae de cor preta ou cinza escuro que pode ser encontrado nos oceanos Atlântico, Índico e Pacífico Sul e no Mar Mediterrâneo a profundidades até 1 000 metros em águas com temperaturas entre os 12 e os 24 °C. No Atlântico Norte distribui-se desde a Noruega até às costas de Marrocos. Geralmente apresenta-se com comprimento máximo entre os 40 cm e 70 cm.
Forma pequenos cardumes, alimentando-se de pequenos peixes, cefalópodes anfípodes e krill. Era uma das espécies mais abundantes e apreciadas até à década de 1970 devido à qualidade da sua carne bem como ao preço acessível, sendo ainda hoje muito consumido.
(In Wikipédia)


O povo da Póvoa não gosta de chaputa, dizem que é o peixe dos pobres. Nos tempos em que a pesca era pesca, os pescadores desta terra, no regresso da faina, deitavam ao lixo todas as chaputas que tinham vindo na rede. Na sua opinião todos os outros peixes eram melhores que a pobre da chaputa e esta não tinha direito a ir à sua mesa.
Alguns pobres que não tinham dinheiro nem para aquilo que era mais essencial, todos os dias davam uma volta pela praia do peixe - que na Póvoa é bem longe da praia de banhos, por causa do cheiro que incomoda a gente bem - e encontravam sempre algo, ora oferecido pelos pescadores, ora apanhado no lixo, como as chaputas e outro peixe "avariado", com que enganar a fome.
Talvez por isso, este peixe continua a ser recusado entre as gentes da Póvoa, mas eu já o tenho comido em filetes, caldeirada ou frito à posta. Empresas de catering que servem refeições pré-cozinhadas por encomenda são clientes habituais deste peixe que compram a um preço conveniente e que lhes proporciona algum lucro.
Ao falar nisto, lembrei-me de uma velhota solteira que ainda era minha parente e morava na casa ao lado daquela onde eu nasci. Com 70 anos de idade sem dinheiro e sem reforma, é-me difícil imaginar como conseguia ela enfrentar cada dia que começava ao acordar. Ela tinha um pequeno campo, onde cultivava algum milho e feijão, uma horta para os legumes cebola e batata que tinham que durar  todo o ano e uma cabra e quatro ovelhas que com o sua lã e as crias a ajudavam a viver.
Era uma vida de trabalho e de miséria, sempre recorrendo à ajuda de amigos e familiares para amanhar as terras, fazer as sementeiras e as colheitas. Eu, com os meus magros 10 anos de idade, dispensei-lhe muitas horas dos meus tempos livres. Quando, na Póvoa, havia excesso de peixe, normalmente sardinha ou carapau, aparecia lá na terra um camiãozito a vender a preços que os pobres podiam pagar. Muitas peixeiras amanhavam o peixe, a pedido dos clientes, e deixavam as tripas e as cabeças do carapau na valeta da estrada. A velhota dava por lá uma volta, mal o camião desandava dali para fora, e enchia um balde cheio daquilo. Dizia ela que as tripas eram bom estrume para a terra e as cabeças de carapau, cozidas com batatas e hortaliça, eram um petisco a que não tinha direito muitas vezes.
E, a título de despedida, deixem-me dizer-vos que «chaputa» é uma palavra que decomposta dá origem as duas outras palavras, chá e puta, que dariam para um artigo de primeira página, mas por agora não digo mais nada!
Tenham um bom dia, ou como diz o inglês, have a good day!

2 comentários:

  1. Essa chaputa, depois de seca. Deve ser comercializada como sendo bacalhau da Noruega. Para os pobres, que descaradamente, são enganados. Aqueles que se deixam enganar. Por o desconhecerem e confiarem na publicidade enganosa!

    Mas, essa cha + puta,
    quem houvera de dizer
    que numa frenética luta
    a mais forte irá vencer?

    Porque, tudo pode,
    nesta vida acontecer
    chaputa peixe do pobre
    nunca tinha ouvido dizer!

    Tenhas um bom fim de semana,
    com castanhas e água pé
    sem perderes a esperança
    continua a viver com a fé!

    Um abraço.

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  2. Sabe que eu adoro um arroz de chaputa? Melhor mesmo só o de tamboril. Por acaso há um bom tempo que não encontro por aqui. Sabe que aqui nesta zona lhe chamam chapuda? É que a malta tem vergonha de dizer chaputa.
    Abraço e bom fim de semana

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