quinta-feira, 25 de maio de 2017

Histórias do arco da velha!

Com 17 anos ainda por fazer arranjei (ou arranjaram-me) o meu primeiro emprego numa fábrica têxtil. Era aprendiz de apontador da «Casa do Pano», nome pomposo dado à secção que recebia o tecido acabado de sair dos teares. Os anos anteriores tinha-os passado na escola, nem sempre com boa vontade, e era chegada a altura de mergulhar no mundo do trabalho e ganhar o dinheiro que é preciso para pagar as contas, coisa com que as crianças não estão habituadas a lidar.
Nesse meu primeiro emprego, onde permaneci até me alistar na Marinha, conheci um homem já entrado na idade, alto e escanzelado, que operava uma das maiores máquinas da nossa secção. Para completar a apresentação desta figura, falta apenas dizer que o seu desporto predilecto era empinar o copo. A cada oportunidade que se lhe apresentava emborcava mais um copito e, em consequência disso, vivia sempre com um grãozinho na asa.
Lembrei-me desta história por causa de ter mencionado, na minha publicação de ontem, os garrafões de água que o pessoal das cidades se pode ver condenado a levar para casa, quando a torneira secar. Pois o Geraldo, assim se chamava o meu colega de trabalho, levava um garrafão de 5 litros para casa, sempre que o anterior estava vazio, para garantir o seu copinho ao almoço e ao jantar. Até aqui nada de especial, o que acabo de vos contar é comum a muitos homens deste país.
As coisas começam a ser diferentes, quando eu vos contar que a mulher do Geraldo gostava da pinga tanto como ele. E durante o dia, quando sentia a goela seca, ia até ao garrafão e bebia um golito. O marido ao chegar a casa, especialmente, à hora do jantar, encontrava o garrafão um pouco mais vazio do que ele esperaria. Começou por perguntar à mulher se ela bebia na ausência dele, às refeições cada um tinha direito à sua medida, mas ela negou sempre. É claro que com a continuação as coisas se foram agravando e o garrafão durava cada vez menos. Se nos princípios dava para uma semana, agora mal chegava para cinco dias.
Para se livrar das dúvidas, começou a fazer uma marca no nível do vinho, no fim de cada refeição e, é claro que em três tempos apanhou a prevaricadora. E aí tomou uma decisão para se livrar das dúvidas de uma vez por todas, comprar um garrafão de vinho para ele e outro para a mulher. E foi-a logo avisando:
- Vê lá se controlas o que bebes, pois só te compro outro quando o meu se acabar também. Se beberes mais depressa do que eu, ficas à sede até eu esvaziar o meu.
A malta da fábrica que sabia, não sei muito bem como, de toda esta história, perguntava-lhe:
- Oh, Geraldo, como é que tens a certeza que ele não continua a assaltar o teu garrafão?
Ele, sem se atrapalhar nem um pouquinho, respondia:
- Eu não sou trengo (sinónimo de parvo), vou fazendo umas marcas no garrafão e quando suspeito que ela mo assaltou, vou ao dela e faço-lhe o mesmo.
Cá para mim que também não sou trengo nenhum, acabou por ficar tudo na mesma, como quando tinham em casa um só garrafão, ora bebia ela do dele, ora bebia ele do dela.
Ora, porra para a solução que o Geraldo arranjou para resolver o seu problema!

8 comentários:

  1. Conhecia na minha aldeia muitos Geraldos, que resolviam o problema à cacetada, essa solução do teu colega Geraldo era menos agressiva.

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  2. Enquanto era um copito o problema não era grave. O pior eram aqueles que bebiam os 5 litros de seguida, como um que conheci, na Seca, que o fez várias vezes e que acabou por morrer sentado à mesa com o garrafão vazio ao lado ainda não tinha 40 anos.
    Um abraço

    Amigo durante muito tempo hesitei em utilizar a palavra estória, pois não me parecia correta. Em Janeiro passado o meu professor de português disse-me que era tão correta como história. Mais disse que devíamos utilizar a palavra história para factos históricos e estória, quando se tratasse de contos, novelas, etc. Desde aí passei a utilizá-la. Porque as dúvidas voltaram com o seu reparo fui ao dicionário e encontrei isto

    es·tó·ri·a
    (inglês story, do latim historia, -ae, do grego historía, -as, exame, informação, pesquisa, estudo, ciência)
    substantivo feminino
    Narrativa de ficção, oral ou escrita. = CONTO, FÁBULA, HISTÓRIA, NOVELA


    estória e história (I) [Ortografia / Lexicografia]

    Tenho visto há algum tempo duas palavras que me têm deixado bastante confuso: história e estória. Ao ver que alguns dicionários não tinham qualquer referência a estória deduzi que não existiria tal palavra na língua portuguesa... Mesmo assim, fiquei intrigado pelas sucessivas "aparições" desta. Gostaria de saber se me poderiam informar se a palavra estória existe, e se sim , qual o significado desta e a diferença em relação a história.
    L. Farinha (Portugal)

    A palavra estória é uma forma divergente de história, pois ambas têm origem no grego historia, -as (exame, informação, pesquisa, estudo, ciência) através do latim historia, -ae, tendo a forma estória entrado através do inglês story.

    O Dicionário Houaiss (brasileiro, mas também com uma edição portuguesa) informa-nos, na etimologia desta palavra, que estória foi uma forma "adotada pelo conde de Sabugosa com o sentido de narrativa de ficção, segundo informa J.A. Carvalho no seu livro Discurso & Narração, Vitória, 1995, p. 9-11".

    Em Portugal, apenas alguns dicionários registam estória; no entanto, esta palavra é atualmente utilizada com muita frequência com o sentido de narrativa popular.
    Um abraço

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    1. Eu, quando me refiro à História, propriamente dita, escrevo com maiúscula, de resto escrevo sempre história, pois não concordo nada mesmo com o Sr. Conde de Sabugosa que deve ter passado uns tempos em terras de Sua Majestade e voltou de lá com a sua story.

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  3. Cada um tem as suas ideias. O Geraldo tinha as dele. Se havia de ter um garrafão de vinho para ele e para a sua mulher. Resolveu sem encrenca ter um só para ele, e outro só para a mulher dele. Cada um bebia à sua vontade sem que o Geraldo pusesse a boca no gargalo do garrafão da mulher, e sem que a mulher pusesse a boca no gargalo do garrafão do Geraldo. Se ambos gostavam do tintol, onde é está o problema?

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  4. O Geraldo e a mulher gastavam mais dinheiro em vinho que em comida. Se lhe chamavam a atenção para esse facto, ele respondia que a comida não lhe matava sede.
    Não admira que fosse magro como um cão!

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    1. Vinho com ensopado de lebre,
      onde estives oh! Grande Geraldo
      na sepultura a terra te seja leve
      porque gostar de vinho não é pecado!

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  5. Esta HISTÓRIA deixou-me com saudades...É que já há tempo que não me passa pelas goelas vinho português.

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  6. Bom dia
    já naquele tempo havia democracia em Portugal já que o dito casal eram os dois socialistas !!!
    uma boa sexta feira para todos pois é día de soltar a franga
    JAFR

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