domingo, 17 de agosto de 2025

Filhos de pai Tuga!

 

Tenho sido solicitado, várias vezes, para tentar encontrar os militares que passaram por Metangula e deixaram lá filhos. Há histórias simples e outras complicadas que não dão a mínima vontade de explorar ou tentar resolver.

O caso mais caricato é o da Rita Silva que queriam a todo o custo que fosse minha filha e tive que tirar a amizade a alguns mais chatos que me enchiam a página do Facebook de insultos e comentários pouco abonatórios.

Mesmo não tendo nada a ver com o assunto, eu quis desvendar o mistério do apelido Silva ter ficado em Metangula. Segundo as informações que recolhi, o pai da Rita era fuzileiro e teve um filho a que deu o nome de Jorge e o trouxe consigo no regresso a Portugal.

Depois de muito fuçar consegui chegar até à aldeia, em que hoje mora o Jorge e que agora usa o nome de Paulo (Paulo Jorge é o seu nome completo) e conhecer o nome do seu pai. Sem saber como ele reagiria a um telefonema meu sobre o assunto, preferi ir através de um seu amigo e camarada de armas que pertenceu ao mesmo Destacamento de Fuzileiros Especiais.

Tinham-me dito que a Rita era irmã deste Jorge e todos (em Metangula) assumiam que o pai era o mesmo. Mas, de facto, não é assim e esse camarada do pai do Jorge contou-me o filme todo e que é uma autêntica novela que mereceria ser televisionada. Eram dois amigos fuzos e cada um tinha a sua lavadeira - foi assim que começaram muitas das histórias que levaram ao nascimento desses bebés sem pai - com quem tiveram uma ligação íntima.

O pai da Rita terminou a comissão e regressou a Portugal, enquanto o amigo teve a sorte, ou o cuidado de não engravidar a sua lavadeira. Mas elas que eram amigas apresentaram a mãe da Rita ao recém-chegado pai do Jorge que a recebeu como lavadeira e se meteu na tarimba dela também. Pouco tempo depois ela ficou grávida. Quando a gravidez ia já em estado avançado, a mulher começou a passar mal e acabou por falecer, durante o parto.

Mas o pai da criança fez todos os possíveis para lhe salvar a vida e trouxe até alguns camaradas fuzos para lhe dar sangue, enquanto ela agonizava. Um desses foi quem me contou a história toda, estiveram ambos à cabeceira da parturiente até ela exalar o último suspiro. A transfusão de sangue era feita, directamente, da veia do dador para a veia da agonizante e ele só retirou o cateter do seu braço, depois de confirmada a morte dela.

O bebé nasceu forte e saudável, como verdadeiro ribatejano, filho de Moço de Forcados. Ficou ao cargo de uma irmã da falecida que também já tinha criado a sua meia-irmã Rita. No fim da comissão, quando o fuzo ribatejano regressou à Metrópole, o bebé (Jorge) veio com ele. Segundo diz o amigo, o pai da criança não quis que o seu filho ficasse entregue àquela vida miserável que se vivia em tempo de guerra, sem pai nem mãe. Falou com o comandante e arranjou um documento para poder trazê-lo consigo.

E junto da sua família - que eu não sei se já tinha ou formou depois - criou o Paulo (o Jorge ficou para trás, em Metangula), educou-o e formou-o como professor de Educação Física. As tias da Rita (ela tem várias) acusam-no de ter uma vida boa, aqui em Portugal, e nunca ter querido saber da sua meia-irmã que sofreu as passas do Algarve para chegar à idade adulta e vive, ainda hoje, com dificuldades. Amor não deve haver nenhum, mas se ele lhe enviasse uns euritos seria o melhor dos irmãos.

Um dia atrevi-me a falar com ele e perguntei-lhe se sabia a sua história e que tinha uma irmã, dois anos mais velha que ele, em Metangula. Disse-me que sim e prometeu que falaria com ela. Algum tempo depois, um amigo e vizinho dela que faz parte do meu grupo de «Amigos de Metangula», fez uma chamada de video e pô-la a falar comigo. Perguntei-lhe se já tinha falado com o Jorge (ela continua a chamar-lhe assim) e ela disse-me que não.

Fiz-me amigo do Paulo, no Facebook e um dia perguntei-lhe se ele não tinha planos para visitar Metangula e conhecer a sua irmã e as tias (uma delas trabalha no gabinete de turismo de Lichinga, outra é enfermeira) que vivem no Niassa. Disse-me que enquanto o pai for vivo nem pensar, pois o proibiu até de mencionar o nome de Metangula, lá em casa. A partir daí desliguei-me do assunto por completo.

Ontem, recebi um novo pedido para localizar um antigo tripulante da LDM 405 que deixou lá uma filha, nascida em 1973. Ele regressou a Portugal já depois do 25 de Abril e deve andar na casa dos 75 anos. Talvez o conseguisse localizar, mas prefiro manter-me à margem disso. Há famílias que não apreciam muito a hipótese de terem esquecido, lá longe, um parente mulato! 

2 comentários:

  1. Esqueci-me de mencionar que a Rita da Silva é tão negra, tão negra, que tenho as minhas dúvidas se será mesmo filha do Silva fuzileiro. Nada me garante que a negrinha não pusesse os palitos ao namorado, sempre que a oportunidade surgia. Fidelidade não é bem tradição entre aquela gente!

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  2. Sempre seguindo você!
    E agora lembro que no nosso blog HUMOR EM TEXTOS, fizemos o esforço possivel para caracterizar aqueles que esqueceram quem trocou-lhes as fraldas na tenra idade.
    Reconheço que o tema não tem lá os melhores odores.
    Confira e um abração carioca.

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