quarta-feira, 27 de agosto de 2025

Como se mede uma amizade!

 

Uma vez, li em qualquer escrito que já não recordo qual, a opinião de alguém sobre o amor e como se deveria medir. Para medir qualquer coisa terá que haver uma unidade de medida e esse alguém estabeleceu que tal unidade de medida devia ser o "Romeu" e numa escala de 0 a 10 estabelecer o quanto uma pessoa ama outra. Aquela mulher deu-me volta à cabeça, amo-a 10 romeus!

Supondo que a amizade se poderá medir por essa mesma escala, eu gosto do meu amigo e camarada Manuel Alves 8 romeus. Não posso ir até ao fim da escala, pois pode acontecer que tenha um amigo ainda mais especial do que ele e não teria como classificá-lo. Ontem decidi fazer uma longa viagem para o ir visitar, lá muito ao norte, nas margens do rio Minho, a umas centenas de metros da fronteira galega.

Durante a visita, fizemos uma análise aos anos em que vivemos juntos, o que nos levou a ser amigos e como tratámos essa amizade ao longo dos 63 anos que já decorreram desde o primeiro dia em que nos conhecemos. A estatística é uma coisa lixada e depois dessa análise fui obrigado a reduzir a classificação da nossa amizade para apenas 5 romeus.

E porquê, perguntarão vocês que estão a ler estas linhas que escrevo depois da visita de ontem, foste mal recebido? Pelo contrário, fui muito acarinhado nessa visita e só tenho a agradecer, tanto ao amigo que me deu boleia (não fui sozinho), como a ele que nos recebeu muito bem, nos deu de comer e dispensou a tarde, ele e a família, para nos aturar.

À esquerda, por trás do Barradas

O problema foi a tal estatística em que ficou provado que ele, o meu amigo de 8 romeus nunca fez grande esforço para se encontrar comigo. Em encontros organizado pelos filhos da escola de Vila Franca estivemos juntos três vezes, primeiro em 2002, em Sintra, segundo em 2008, na Lourinhã e terceiro, em 2009, em Alenquer. Depois passei em revista os 9 encontros realizador por mim e ele não esteve em nenhum.

ao meu lado esquerdo, em 2009

Em especial o encontro do nosso "cinquentenário" que organizei com a intenção de lá levar todos os camaradas ainda vivos e de que fiz a maior publicidade, dizendo que para muitos seria a última vez que nos veríamos em vida (lá em cima, junto de S. Pedro não sei se a malta se consegue reconhecer), nem assim o Alves lá pôs os pés. E morava no Lavradio, a cerca de 5 Kms do local do encontro.  Até pensei se ele sofreria de "agorafobia"! 

Mas a machadada final, foi saber que ele andou algum tempo em consulta de hematologia, na cidade em que eu moro, e nunca se lembrou de mo comunicar, de modo a podermos encontrar-nos e dar um abraço, uma espécie de combustível que ajuda a manter a amizade e a reforçar até. Ou seja, depois dos 6 meses de caserna, em que dormíamos a 2 metros um do outro e dos 30 meses que passamos, em Moçambique, na mesma caserna, no mesmo pelotão, na mesma mesa do refeitório e nas muitas noites passadas a dois no serviço de sentinela, só nos encontramos no convívio de Sintra e 7 anos depois no de Alenquer. Acho que assim, talvez nem 5 romeus a nossa amizade merece, nessa tal escala, inventada não sei por quem.

Mas vou fazer por esquecer isso, pois a amizade, como o amor, é um sentimento que aguenta tudo e mais alguma coisa. Ele com 84 anos, prestes a completar, e eu com 81 já feitos no princípio de Março, o mais provável é que tenha sido a última vez que nos encontrámos. Mas quando chegar ao céu, se é que esse sítio existe, vou pedir ao S. Pedro que dê uma olhadela no seu livro de registo, a ver se ele já lá está e dizer-me como e onde o poderei encontrar!

2013 - Ausente

P.S. - Só depois de estar na autoestrada de regresso à Póvoa, percebi que nos tínhamos esquecido de fazer uma foto para gravar o momento! Assim, uso as velhas que tenho no disco do meu computador para ilustrar esta publicação.


2 comentários:

  1. E com isso ficaste renovado e fico feliz por ti!
    Beijos e um bom dia!

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  2. De todos só conheci o Cabo Barradas que já faleceu. Imagino que a amizade também se pode medir mas certamente não será neste século.

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