Acontece comigo, mas creio que deve acontecer com toda a gente, de vez em quando ver a minha vida passada desfilar perante os meus olhos como se fosse um filme. Dizem que acontece isto quando a gente começa a ficar velha e a vida a chegar ao fim. Nada de mais, simplificando a coisa, são apenas recordações. Sendo boas, tanto melhor.
Hoje comecei a ler as notícias, passei pela várias secções e parei na do desporto. Li, de novo, a notícia da mudança do Bernardo Silva para o City, a que relata a assinatura do contrato do Marco Silva com o Watford, a mais que provável ida de Jesus para o PSG e depois os meus olhos caíram nesta que podem ler aqui abaixo:
O Munique 1860, orientado pelo português Vítor Pereira, empatou hoje a um golo em casa do Regensburg, em jogo da primeira mão do ‘play-off’ de manutenção da II Liga alemã de futebol.
A equipa local começou o jogo praticamente a vencer, uma vez que abriu o marcador logo aos dois minutos, pelo médio Marc Lais, e a equipa de Vítor Pereira só conseguiu evitar a derrota aos 78, graças ao golo do médio Florian Neuhaus.
O jogo da segunda mão, em Munique, está marcado para terça-feira, a partir das 17:00.
E foi o nome da cidade, Regensburg, que funcionou como um gatilho que fez começar a rolar o tal filme que me levou de volta à Alemanha e aos meus tempos de emigrante. Arranjei emprego numa fábrica de "cilindragem e corte de chapa de ferro", numa pequena aldeia ( em alemão aldeia traduz-se por dorf ou heim e não admira que metade das localidades, na Alemanha, tenham esta terminação) chamada Euenheim (euen significa "vossa", portanto, Vossa Aldeia), a meio caminho entre a fronteira belga e o rio Reno que passa ali mesmo ao lado (30 Kms, em linha recta).
Bem, suponho que já me estão a ver encostado à máquina, enquanto ela vai roendo a interminável bobina de chapa e pondo-a às tiras de diversas larguras. Encostado e a endireitar a espinha, pois o meu trabalho começava quando a máquina parava. Três toneladas de cada vez que eu tinha que descarregar, olear, percintar, embalar e depositar no cais, à espera de seguir viagem. Um ou vários camiões TIR, conforme o tipo de carga e o seu destino, encostavam ali mesmo, a cinco metros da minha máquina, e era só carregar e pô-los a andar. Nem sempre, mas também me calhava a mim essa tarefa, ás vezes, e fazia-o com o maior prazer ao volante de um empilhador.
Tínhamos clientes um pouco por toda a Alemanha, mas o principal era uma firma de Regensburg que comprava cerca de 50% do que produzíamos. Esta cidade que fica no leste da Alemanha, a poucos quilómetros da fronteira checa, é banhada pelo rio Danúbio que, embora muita gente desconheça, nasce na Alemanha e atravessa meia Europa até desaguar no Mar Negro.
Ninguém me pode condenar por sempre ter sonhado em fazer uma viagem naqueles barcos de cruzeiro que sobem e descem o Danúbio (quase) da nascente até á foz. A cidade de Regensburg seria um bom ponto de partida. Olhem para o mapa e vejam quantos países eu ficaria a conhecer. A primeira paragem seria em Viena de Austria que é a única cidade que conheço em todo o percurso do rio. Estive lá, em 1991, era inverno, a cidade coberta de neve e os barcos encostados ao cais sem um único turista que os fizesse mexer. Antes de chegar a primavera não há nada para ninguém. Falta tudo, até a água no rio.
Na cidade de Regensburg, onde o Vitor Pereira viu o seu clube empatar o jogo e ficar mais perto da descida de divisão, há uma longa História e monumentos milenares que a atestam. A «Ponte de Pedra» que vêem na imagem, a catedral, castelos, mosteiros e museus há de tudo um pouco para turista ver. Falta-me apenas aquilo que me podia transformar num turista bem sucedido, o "pilim"!