De vez em quando recordo os filhos da escola açorianos com quem convivi na Marinha. Na minha recruta havia dois voluntários, um no meu pelotão, o do Sargento Bicho, e outro no 1º pelotão, o do Sargento Pastor. Os nomes destes sargentos mais o do Sargento Lagarto deram muito que falar e originaram muitas anedotas, enquanto durou o período de instrução. Na minha segunda comissão, na CF8 em Moçambique, houve mais dois, o Pepe que era um grande compincha para a borga (nada de confusões com o Padre Borga que é um homem sério) e o Natalino que, agora é um dos meus fiéis amigos do Facebook e regressou à sua ilha do Faial.
Para começar pelo fim que é o caminho mais fácil, o Pepe acabou a comissão, saiu da Marinha e emigrou para os Estados Unidos, onde se mantém ainda (creio eu). Os dois que fizeram a recruta comigo separaram-se de mim para frequentar o Curso de Fuzileiro Especial e seguiram ambos para Angola, incorporados da CFE4. O que pertencia ao meu pelotão já faleceu, há anos, vítima de cancro. O outro - o primeiro dos 3 famosos Agostinhos, Maduro, Seco e Verde) - emigrou para o Canadá e por lá se mantém com a sua querida esposa que não lhe deu qualquer filho. Sobra-lhes a oportunidade de cuidarem um do outro até que a morte os separe.
Por estranho que vos possa parecer, nunca consegui memorizar os 9 nomes das ilhas dos Açores. Sei que são nove e se dividem em 3 grupos, pela sua posição geográfica, os grupos ocidental e oriental com 2 ilhas cada e o central com as restantes 5. As maiores e, suponho eu, mais habitadas são a São Miguel e Terceira, assim como as mais famosas são a do Pico, pela sua elevação que ultrapassa a da Serra da Estrela e é, portanto, a maior de Portugal e a Ilha de S. Jorge pelas famosas fajãs.
Um dia, quando andava ainda à procura dos meus desaparecidos filhos da escola, disseram-me que um deles morava na «Fajã de Baixo» da Ilha de S. Miguel. Como nunca tinha ouvido pronunciar essa palavra, fajã, perguntei o que queria dizer isso. Para um português dos Açores é estranho alguém não saber o que é uma fajã, do mesmo modo que para um do continente usarem lá um termo que aqui, no continente, nós não usamos.
A Língua Portuguesa tem destas coisas, chamam-se regionalismos, e o mais que temos que fazer é aprendê-los e memorizá-los, para não fazer figura de parvos.
Fajãs são pequenas parcelas de terra, nas zonas mais baixas da ilha, entre as ondas do mar e os escarpas das montanhas vulcânica que formam todas as ilhas do arquipélago dos Açores. Aqui chamar-lhe-íamos hortas, leiras ou lameiros, mas não podemos criticar os açorianos por terem escolhido outro termo. Há quem diga que deriva do Latim "fascia" que significa faixa. Pode ser ou não ser, eu aceito essa explicação, já que aquilo são pequenas faixas de terreno, onde o povo das ilhas cultiva aquilo que come.
Atrações turísticas são a Ilha do Pico - deveria escrever o pico da ilha, mas soa-me estranho - a Lagoa das 7 cidades, na ilha de S. Miguel, as baleias que passam ali ao largo, a caminho de águas mais frias a norte, além das fajãs de S. Jorge, como já escrevi acima. Eu tinha planeado lá ir, mas fui adiando, adiando, e agora é tarde demais, pois não tenho pernas para dar mais que dez passos e de cadeira de rodas não quero ir.
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