terça-feira, 19 de outubro de 2021

O mês de Outubro ...!


 ... foi marcante na minha vida de fuzileiro. Em 1962, ainda mal acabado o Curso de ITE, recebi ordens para encher o saco e preparar o "chouriço" para seguir para o Corpo de Marinheiros, a fim de integrar a Companhia de Fuzileiros Nº 2 que, em breve, seguiria para Moçambique. Em Março tinha seguido a Nº 1 para Angola e não havia ainda pessoal suficiente para formar a Nº 3 para seguir para a Guiné. Tudo era feito à pressa para fornecer aos Comandos Navais das nossas Províncias Ultramarinas - como agora se chamavam - o pessoal necessário à sua guarnição.

Demorou ainda cerca de um mês até tudo estar organizado para a partida. O transporte seria aéreo e faseado no tempo. Entretanto recebemos a nova arma G3 que já tínhamos visto nas mãos dos "Especiais", em Vale de Zebro, mas que não sabíamos "ainda" manejar. Os cerca de 30 dias que passei no Corpo deram para tudo. Aulas de Infantaria com a nova arma eram o prato do dia. Lentamente, foram-se juntando a nós os camaradas que não eram fuzileiros e que chegavam de todos os lados. Enfermeiros, Carpinteiros, Artilheiros, Telegrafistas, Sinaleiros, Escriturários e Manobras, havia de tudo, vinham de outras Unidades da Marinha para ajudar os fuzileiros na guerra ao terrorismo. Alguns não tinham o mínimo jeito, nem idade, para manusear a G3, mas todos tiveram de aprender a fazer, no mínimo, os movimentos de ombro armas e apresentar armas.

O mês de Outubro deu para tudo, ir a casa durante uma semana para nos despedirmos da família, alguns pensando que poderiam não voltar vivos, conhecer os novos camaradas, receber instrução e o material de armamento que nos foi distribuido, fazer instrução, apanhar as vacinas próprias para quem ia para África e esperar que houvesse um avião da FAP disponível para nos ir lá levar. No dia 2 de Novembro, numa manhã fria e com chuva miudinha, lá nos apresentámos no aeroporto de Figo Maduro, prontos para enfrentar uma viagem que seria épica. A única coisa que ficou por fazer, impensável, foi a Carreira de Tiro com a nova arma. Aprendemos a municiá-la, sabíamos pôr e tirar o carregador, usar a patilha de segurança e o gatilho, mas apertá-lo e ouvir o estampido do tiro ficou reservado para quando chegássemos ao destino.

No mês de Outubro de 1965 repetiu-se tudo de novo, com novos camaradas, mas com uma grande dose de experiência, entretanto, conseguida. Já tinham seguido 7 Companhias para o Ultramar Português e, por isso, ficámos com o Nº 8. Em Moçambique, estava a Companhia Nº 6, comandada pelo 1º Tenente Patrício que iríamos render, na Machava, seguindo esta para o Niassa, onde faria o resto da comissão.

Outra diferença que houve, em relação a 1962, é que deixei, em Palhais, uma namorada sem dizer-lhe para onde ia. Disse-lhe que tinha sido destacado para o Corpo de Marinheiros e que viria visitá-la logo que pudesse. A pobre da rapariga ainda está à espera que eu apareça e, lembrando-me disso sinto algum arrependimento, mas não queria ir para a guerra deixando uma namorada presa a mim até ao meu regresso e correndo o risco de ficar viúva antes de casar. Coisas da juventude e da guerra que poderiam ser como foram ou completamente diferentes. O destino ao comando das nossas vidas!

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