É hoje, depois deste só faltam mais dois meses de 31 dias, Outubro e Dezembro. Isso faz-me lembrar aquela lenga-lenga que se aprendia para saber quantos dias tem cada um dos meses do ano:
- Trinta dias tem Novembro, Abril, Junho e Setembro. De 28 só há um e os mais de trinta e um!
Aprendi isto da boca da minha avó, quando lá em casa ainda não havia rádio nem televisão e cabia aos diversos membros da família animar os outros para que a vida não fosse uma seca. E na ânsia de que eu (que era o seu neto mais velho) começasse a aprender a brincar com os números, antes de entrar na escola, também me ensinou este exercício de cálculo mental:
- Doze, redoze, vinte e quatro com quatorze mais dezasseis com vinte e um, faz um cento menos um!
Quem tiver dúvidas é só agarrar na máquina de calcular e verificar 12+12+24+14+16+21=99.
Era assim em meados do Século XX, quando, em Portugal, havia mais analfabetos que letrados e os automóveis, fora das cidades, eram bichos raros, barulhentos e que custavam muito dinheiro, coisa rara que o Salazar evitava que nós tivéssemos para não criar vícios.
E a minha avó ensinava-me outras coisas também, a saber comportar-me, por exemplo. Mas nem sempre este rapaz seguia as suas ordens e então também tinha direito a um concerto de chinelo. Nessas ocasiões, para eu não lhe fugir, metia a minha cabeça entre as suas pernas e eu ficava de traseiro no ar, mesmo ao jeito do chinelo não falhar o alvo. Como ela batia sempre com jeitinho, eu às vezes dizia-lhe que não doía nada e então tinha ração a dobrar.
Coitadita da minha avó Maria! Levou uma vida muito difícil e depois de velha ainda teve que criar, ou pelo menos ajudar a criar, doze netos. Quase no fim da vida, ainda lhe pus a minha filha, sua primeira bisneta, no colo para ela embalar. No ano seguinte, no meio de muito sofrimento, abandonou este mundo. E já lá vão 47 anos e alguns meses. Acredito que ela está lá em cima e continua a olhar por mim.
Sem sentimentalismos, amanhã começa o mês de Setembro, o mês que nos faz saltar do verão para o inverno, sem apelo nem agravo. No terceiro domingo desse mês realiza-se, aqui na Póvoa, a festa de N.S. das Dores e faz parte da tradição que chova nesse dia. Com a seca severa que grassa por esse país fora, seria desejável que essa chuva fosse farta e não necessariamente na Póvoa, mas nos lugares onde é mais precisa.
Portanto, fica aqui o meu desejo para o próximo mês. Venha chuvinha com fartura, embora não tanta como a que pôs o sul dos Estados Unidos debaixo de água, porque isso também é demais.