quinta-feira, 17 de julho de 2025

Vou à feira!


 Quero dizer, talvez vá, o que quero é sair de casa e ir dar uma volta. Faz, hoje, 15 dias que deixei o meu carro estacionado numa rua aqui perto e tenho que ir ver se ainda lá está. Isto de não ter garagem e morar num bairro histórico, onde não se pode estacionar em lado nenhum, é uma limitação grave para este rapaz que gosta de viver isolado, mas nem tanto!

Barcelos é uma cidade antiga, mas não tem muito que ver. Um pequeno e mal tratado centro histórico e um lindo jardim ao lado da Torre de Menagem e pouco mais mais. Mas cada um gosta de dizer bem da sua terra e eu não tenho mais que copiar os outros fazendo, exactamente, a mesma coisa. A feira que talvez seja a mais concorrida de todo o Minho, em especial quando estão por lá muitos emigrantes de férias, é um ponto de atracção.

Muitas pessoas gostam de ir à feira por razão nenhuma em especial. Aproveitam para espairecer e encontrar pessoas que é raro verem com quem podem trocar umas palavras tanto mais agradáveis quanto maior for a amizade que as liga. E há sempre alguma coisinha que se pode comprar na feira. Eu sempre que lá vou compro pão e chouriço diferentes daqueles que tenho aqui nos supermercados da minha zona. Dizem-me que é chouriço caseiro e eu faço de conta que acredito, quando lhe meter o dente logo faço a minha apreciação.

Para quem nasceu e morou numa aldeia até fazer o exame da 4ª Classe, ir à feira na sede do concelho é uma espécie de festa que se pode repetir a cada semana, é como ir à missa ao domingo. Nesse tempo, ia-se à cidade poucas vezes, o que não é o meu caso, pois a minha mãe foi feirante, durante algum tempo, e eu acompanhei-a várias vezes.

Para fazer o exame da 4ª Classe era preciso ter o Bilhete de Identidade e eu tive que lá ir duas vezes para o conseguir. Na primeira viagem dirigi-me à Foto Robim para tirar o retrato e uma semana depois voltei lá para levantar as fotos e ir entregá-las no Registo Civil para poder fazer o pedido do dito bilhete. Foi aí que me mediram a altura, pela primeira vez (não me lembro de ter sido pesado também) e tiraram a impressão digital.

E cerca de um mês mais tarde foi o grande dia de comparecer numa escola que já não me lembro onde era para mostrar o que tínhamos aprendido nos 4 anos passados na escola. Se calhar, foi a primeira vez que a minha mãe me molhou o cabelo e tentou fazer uma risca ao lado para combinar com a roupa nova que me vestira. Até esse dia o cabelo ia para onde queria e o penteado mais corrente da rapaziada da minha idade era com repas na testa.

Na minha aldeia havia um carro de aluguer de 7 lugares que foi fretado na ocasião e a respectiva despesa dividida em 6 partes iguais, cada uma delas paga pelos pais de cada aluno que o "chauffeur" levou à cidade. Foi a primeira viagem "de cu tremido" para mim e, talvez, para todos os outros meus colegas. Aquilo só poderia ser comparado a uma viagem à Lua, nos dias de hoje, tal era a novidade para cada um de nós!

A cada quinta-feira voa a minha lembrança até esses dias que foram vividos de um modo tão diferente daquilo que vemos hoje. Já passaram mais de 70 anos e nesse espaço de tempo o mundo mudou de tal maneira que há quem acredite que eu só invento patranhas para entreter o meu público. Mas não é verdade, aconteceu assim mesmo como acabei de relatar!

Nesse tempo ainda se usava levar à feira umas tourinhas para vender e fazer uns cobres. Os lavradores lavavam-nas o melhor que podiam, escovavam-lhe o pelo e penduravam umas fitinhas coloridas no pescoço, ou nos corninhos se já tivessem despontado, para convencer os compradores a desembolsar mais umas coroas. E nesse negócio o dinheiro contava-se em centos, não a deixo ir por menos de 7 centos, dizia o dono da toura, com receio que nem 5 lhe oferecessem!

3 comentários:

  1. Então vá...e traga-me algo que possa guardar como recordação.
    Uma toura, não, mas um galinho piquinino daqueles que adivinham o tempo, dava-me jeito. 🤭

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  2. A última vez que passei em Barcelos havia obras/desvios, cruzei a linha dos CF e andei perdido. Linda cidade com bons restaurantes!

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  3. Bom dia
    Há uma feira a cerca de 4 Kms de minha casa todas as segundas feiras ´e é considerada uma das mais famosas do norte, para ser mais exato é a feira de Espinho.
    Pois eu já não lá vou há vários anos, não só por não ter necessidade e porque conseguir estacionamento na zona é mesmo muito difícil , mas conheço pessoas que não falham uma ´quanto mais não seja para comer umas tripas ao "Manel da Feira ".

    JR

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