Ontem, foi o dia do meu santo, na aldeia onde nasci. Fui até lá ver e recordar pessoas e coisas esquecidas há mais de 70 anos. É verdade, saí daquela aldeia com 11 anos de idade e só, esporadicamente, lá voltei. Poucas recordações guardo desse tempo e as pessoas com quem me cruzo são perfeitos desconhecidos.
Mas, como sempre e em todas as situações, há uma excepção. Uma família que morava muito perto da minha casa e cujos filhos levavam 10 anos de avanço aos filhos dos meus pais ficou-me na memória e por várias razões. Primeiro, porque tinha um filho nascido no mesmo ano que eu e me acompanhou na escola, da 1ª à 4ª Classe. Os mais novinhos andavam lá pela minha casa, acompanhando uma irmã mais velha que andava a aprender costura com a minha mãe. Os mais velhos, por uma ou outra razão, ficaram-me também na memória.
As duas filhas mais velhas casaram e desapareceram de circulação. A seguir vinha um filho que emigrou para Angola, naquele tempo em que o Salazar descobriu que havia lá poucos brancos e começou a fomentar a ida para lá de todo e qualquer um que quisesse trabalhar a terra. Dava-lhe meia dúzia de hectares com a promessa de passarem a ser seus de pleno direito ao fim de 20 ou 25 anos. Regressou a casa na ponte aérea de 1975 e por aqui andou a carpir as suas mágoas até o Criador o chamar à sua presença.
Depois vinha a filha costureira (falecida há uma dezena de anos num acidente de viação), seguindo-se dois irmãos que foram para Braga estudar para padres. Depois desses vinha o meu colega de escola, uma mocinha que eu mal guardo na recordação, outro irmão que seguiu para Braga a juntar-se aos outros dois e fechava a fila uma menina que nasceu no Ano Santo de 1950.
A festa de S. Tiago, ontem, constou apenas de cerimónias religiosas e, entre elas, a comemoração dos 60 anos de sacerdócio do irmão mais velhos que referi acima. Ele nasceu em 1940, cantou missa aos 24 anos e somando-lhe os 60 anos ao serviço de Deus conta, hoje, 84 anos e parece o mais vivo e são de todos os irmãos. O segundo irmão padre faleceu, há cerca de 3 anos e o terceiro está, totalmente, incapacitado pela doença de Parkinson. Vi-o, ontem, acompanhar todas as cerimónias pelo braço da irmã mais nova que, embora casada, tem reservado uma grande parte da sua vida a assistir este irmão na sua caminhada como pároco de freguesias e, agora, na doença que o afecta.
Uma das presenças mais notadas, entre muitos padres amigos e colegas de seminário, foi a do arcebispo emérito de Braga, D. Jorge Ortiga que, descobri ontem, ser mais velho que eu apenas 4 dias. Ele nasceu no dia 5 e eu no dia 9 do mesmo mês e ano. E, como última curiosidade, quero ainda salientar que o irmão destes padres, o tal que me acompanhou na Escola Primária, completou, ontem, dia da festa do nosso santo, 80 anos de vida e teve direito aos parabéns de todos os muitos presentes. E não lhe deram o nome de Tiago, mas sim de Joaquim que também é santo na Liturgia Católica e pai da Virgem Maria.
E pronto, estou de regresso a casa e ao tempo presente com uma refrescadela a sério nas minhas memórias de infância!
...e, pelos vistos, com a mesma pedalada de sempre.
ResponderEliminarDá gosto ver com que pormenores conta factos e vivências como se se tivessem passado ontem. : )
Que memória!!!
ResponderEliminar