Medonho é um adjectivo que foi usado, há muitos anos, para definir o Adamastor que morava no Cabo Bojador e assustava os marinheiros portugueses que queriam continuar a sua viagem, contornando o grande continente africano, rumo à Índia.
Esta semana, primeira de Julho do corrente ano de 2024, foi de novo usado pelo Primeiro Ministro de Portugal para descrever o esforço feito pelo governo para contentar as forças de segurança que exigem um aumento de 400€. Para quem ganha mil euros, ou até menos, é mesmo um aumento para assustar o mais corajoso governante. Aumentos de 40% nunca houve e, acho eu, não vai haver.
A legislação portuguesa cometeu um erro grave ao estabelecer um SMN (salário mínimo nacional), mas esquecendo-se de especificar o que isso era. E os patrões portugueses, a começar pelo próprio governo que é de todos o maior empregador deste país, aproveitaram logo essa lacuna da nossa legislação, pagando o salário mínimo a todo o bicho careta que entra no mundo do trabalho e não arredando pé daí, nem que tenha o trabalhador por mais de 20 anos ao seu serviço.
Se bem me lembro, dos meus tempos de sindicalista, há uma lei que determina que "em todas as categorias sem acesso, o trabalhador ganha uma diuturnidade por cada 3 anos que permanecer no emprego". Nas categorias com acesso, passava para a categoria imediatamente a seguir, ao fim dos mesmos 3 anos. Eu entrei no meu emprego como chefe, mas tive muitos escriturários ao meu serviço. Entravam como 3º, passavam a 2º, passados 3 anos e a 1º 3 anos depois. E por vezes até passavam de 3º a 1º como prémio da sua aplicação ao serviço e, normalmente, para chefiar um grupo de 3ºs escriturários que funcionavam em equipa.
Agora é uma bandalheira, não há categorias nem diuturnidades, não há honra nem glória. Quando vi aquilo que aconteceu nas Forças Armadas, após o fim da Guerra Colonial, em que os quadros de sargentos e oficiais ficaram pejados de gente que não fazia nada, nem era necessária, mas não se podia mandar embora, percebi que quem manda pode e faz o que quer. Depois de atingirem o último posto, o que acontecia num máximo de 9 anos, perceberam que ficariam ali "congelados" até à idade da reforma. Vai daí desataram a criar novos postos para poderem ser promovidos e ganhar mais dinheiro.
E assim começou a corrida que nunca mais parou, há empresas públicas que chegaram ao exagero de ter um chefe que era elemento único da equipa, ou seja chefe de si mesmo. Claro que os privados não alinharam pelo mesmo diapasão e fizeram, exactamente, o contrário. Admitiam um trabalhador como estagiário e assim ficava até se cansar e pedir demissão do cargo. E assim chegamos aos dias de hoje, em que todos os trabalhadores entram com o salário mínimo e depois logo se vê. Aos que terminaram um curso superior sobe-se esse salário para mil euros, coisa que devia envergonhar os mais bem sucedidos empresários deste país.
E, como a conversa já vai longa, fico-me por aqui, lembrando as razões que levaram à criação do tal SMN e que seria, obrigatoriamente, pago a qualquer trabalhador maior de 18 anos de idade. E visava proteger os candidatos ao primeiro emprego, ao pessoal (menor) de limpeza e às criadas de servir. Nestas 3 situações os patrões abusavam e pagavam uma miséria a quem os servia. Agora, a situação inverteu-se e pagam uma miséria a qualquer um, mesmo que as suas empresas ganhem rios de dinheiro.
Se o governo não intervier, estabelecendo que qualquer trabalhador só pode ganhar o salário inicial por um período máximo de 3 anos, a vergonha vai continuar. Há uma coisa que aconteceu, há uns anos, que ilustra bem a perversão deste comportamento dos empregadores. A profissão de trolha era a mais baixa de todas na construção civil e recebia o menor ordenado do mundo do trabalho. Cansados dessa situação começaram a emigrar em massa para países, como a França, onde pagavam 4 ou 5 vezes mais. Em Portugal era impossível encontrar um trolha e os patrões foram obrigados a subir o salário para o dobro.
E, agora, está a acontecer uma mudança que devia ensinar qualquer coisa aos nossos empresários, os nossos trabalhadores vão para onde lhes paguem o que merecem, pela sua formação ou competência adquirida, e são substituídos por africanos ou asiáticos que trabalham pelo salário mínimo e ainda dizem "obrigado patrão"!
Não sei se seria possível aos policias entregarem as armas à ministra como forma de protesto mas sei que os famosos Observatórios - vulgo tachos - continuam em full swing. E também sei que uns quantos milhões continuam destinados à LBGT para citar alguns exemplos... Portanto dinheiro há!
ResponderEliminarDinheiro nao falta para os amigos e toda a racailha que nao quer trabalhar !
ResponderEliminarSao os produtivos que mal vem a cor .
O 25 d abril nada mudou , o patronato nao cotisa para os salariais terem uma reforma complementar e como todos os funcionarios tem uma reforma igual ou superior a vida activa, estao nas tintas para quem produz .