Começo com uma tabela que refere os expostos na Póvoa de Varzim, terra para onde emigrei aos 16 anos de idade, muito embora não seja esse o assunto que me move a escrever estas linhas. Isto serve apenas para ficarem com uma ideia dos números que envolvem este problema. De facto o que eu queria publicar era uma lista da Roda de Barcelos, mas nada encontrei que me servisse para o efeito.
Há alguns anos atrás, embrulhei-me num estudo sobre a Genealogia dos meus conterrâneos, desde meados do Século XVII até ao fim da Monarquia, e fiquei banzado com o número de crianças enjeitadas (expostas na Roda) de cidades como o Porto, Braga ou até Barcelos, concelho de onde descendem os meus ancestrais, tanto do ramo paterno como materno, embora de freguesias bastante distantes uma da outra.
Quando se faz uma pesquisa genealógica, a pior coisa que nos pode acontecer é esbarrar num filho ilegítimo, em que o pai não é conhecido, e não é possível continuar a pesquisa, é como bater numa parede impossível de transpor.
Uma das minhas bisavós, da linha paterna, era exposta da Roda de Braga e quis descobrir tudo a seu respeito. Com muita sorte consegui, mas pouco mais que o nome e a data do baptismo trouxe de lá. Eram tempos em que não havia Registo Civil e o Livro de Assentos do Baptismo era documento único a que todos os portugueses tinham direito, enquanto durou a Monarquia.
Uma outra bisavó, desta vez da linha materna, nasceu na «Villa de Barcelos» e quando tentei descobrir a sua data de nascimento, esbarrei numa lista imensa de «Expostos na Roda» que me tirou a vontade de continuar. Além da leitura já difícil deste tipo de manuscritos, a quantidade era tal que me tirou a vontade. Eu sabia que ela tinha nascido por volta de 1850 e, por conseguinte, seleccionei o período de 1845 a 1855 para ler com todo o cuidado à procura do seu nome de baptismo, Rita.
Em certos períodos eram tantos os registos de expostos que se me cansaram os olhos antes de encontrar o que procurava. Na imagem acima, a leitura até que não é difícil, mas, infelizmente, isto é uma raridade. Na maioria das páginas, ou a digitalização do documento deixa muito a desejar, ou a caligrafia de quem escreveu é um perfeito aborto. Daí fiquei sem saber quem eram os pais da Rita e as minhas pesquisas por aí se ficaram.
De qualquer modo, eu escolhi falar da Roda e não da minha ascendência e sobre a Roda muito haveria que escrever, principalmente, sobre as razões de nascerem nesse período da nossa História tantos filhos sem que se lhes conhecesse o progenitor. Foi mais um sinal da miséria que grassava pelo país. Quem tinha dinheiro e posição social abusava das raparigas solteiras e abandonava-as quando grávidas, não restando a estas outro caminho que a Roda para não abandonarem o filho num contentor do lixo, como acontece agora.
Pelo menos, ali, sabiam que alguém o cuidaria e alimentaria até aos 7 anos de idade. E depois disso ... Deus é grande e o destino se encarregaria do resto.
Quem nesse tempo tinha dinheiro, fazia o que muito bem queria. Nesse aspeto até agora nada mudou. Quem tem dinheiro tem tudo. Se for condenado por algum crime que cometeu, até pode comprar a liberdade. Só não pode é pagar à morte para o deixar viver eternamente
ResponderEliminarBoa tarde. Parabéns pela excelente matéria de qualidade.
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