quarta-feira, 25 de dezembro de 2019

O Natal da minha infância!


A primeira grande atracção do Natal era o presépio. Barcelos é terra de olaria e, portanto, não havia dificuldade em arranjar todo o tipo de bonecada para o enfeitar condignamente. Os mais endinheirados compravam o que de melhor se fazia, os mais pobres o que podiam e iam guardando de uns anos para os outros, mesmo que faltasse um braço, uma perna, o corno da vaca, a orelha do burro, ou qualquer parte em qualquer dos bonecos.
Tinha que haver a Sagrada Família, os Reis Magos, os pastores e o rebanho de ovelhas, tudo o resto era facultativo. Ter uma banda de música, com todos os instrumentos, já era algum luxo. E um moinho, ou azenha, ou um serrador de madeira, já eram raridades.
Mas a primeira tarefa que começava antes do início da «Novena do Menino» (cerca de 10 dias antes do Natal), era correr as bouças (matas de pinheiros e eucaliptos) das redondezas e roubar um pinheirinho para enfeitar o presépio. Era preciso tomar cuidado com os lavradores que andavam sempre à coca, pois não apreciavam muito ver os pinheiritos mais bonitos desaparecerem de repente.
E de caminho trazer um cesto cheio de musgo e fetos para fazer o arranjo. Eu era o filho mais velho da casa e a mim couberam essas tarefas, desde os meus 7 anos de idade. Carregava também cestos de pedras que apanhava pelos caminhos para me ajudar a construir a "montanha", em que se inseria a gruta e pastavam as ovelhas do meu rebanho, onde não faltava o pastor de cajado em punho e o cão de guarda.
A cabana que servia de refúgio à Sagrada Família era formada à medida das imagens que me lembro de terem sido substituídas várias vezes. Quando sobravam uns tostões a minha mãe lá investia numa Nossa Senhora e num S. José novos para termos um Natal diferente. E mais dois ou três anjinhos para pendurar no pinheiro, pois não havia ainda luzinhas (vindas da China) nem bolinhas coloridas.
E era ao redor do presépio que se punham os sapatos, chinelos, ou o que cada um usasse para receber as prendas que o Menino Jesus haveria de lá deixar, durante a noite.
Era uma pobreza franciscana, mas era uma grande alegria também !!!

1 comentário:

  1. Era uma pobreza franciscana,
    havia muito ouro nos cofres
    agora há de tudo à fartazana
    para os ricos e para os pobres.

    Mesmo assim toda a gente reclama,
    parece que ninguém está contente
    porque toda a gente, agora, manda
    e quem governa tudo isso consente!

    Do Natal da minha infância,
    desse tempo não tenho saudades
    porque, sou contra a ganância
    bem como a todas as crueldades!

    Um bom dia de natal para ti e para os teus familiares.

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