Dois dias depois de zarparmos de Luanda, numa manhã de Outubro de 1965, quando subimos ao convés do Niassa, notamos que o navio estava parado, em frente a este fim de mundo de areia na costa da Namíbia. Estranhamos a situação, pois deveríamos estar a navegar ao largo e não parados naquele lugar que é conhecido pela costa dos esqueletos. Imagino que o nome lhe advenha dos naufrágios que por ali acontecem e das ossadas dos náufragos que acabam por dar à praia. Perguntando aqui e ali não conseguimos qualquer informação, ninguém sabia do que se passava.
Quando não é conhecida a verdade, logo começam a aparecer teorias de todos os lados e para todos os gostos. A primeira versão que ouvi foi que tinha morrido um soldado do contingente que seguia para Moçambique e quiseram deixá-lo ali para ser enterrado, uma vez que o Niassa não tinha condições para o transportar até Lourenço Marques sem o corpo entrar em decomposição. A segunda versão contava que agentes da PIDE estavam a ser largados ali para irem investigar a possível ajuda transfronteiriça que estava a ser dada aos turras que combatiam em Angola. E a terceira falava de presos políticos que o Salazar mandara abandonar naquela costa para se ver livre deles.
Por volta do meio dia, o navio pôs as máquinas em movimento e retomámos o caminho em direcção ao Cabo da Boa Esperança e ao nosso destino final. Até hoje nunca soube o porquê daquela paragem nocturna nem ouvi ninguém referir-se a ela. É certo que as preocupações que enchiam a cabeça de cada um tinham mais a ver com a guerra que iríamos enfrentar e a possibilidade de deixar o esqueleto em África, do que entender estas questões laterais que aconteciam durante a viagem.
Ao fim de tantos anos, a cena emergiu de novo do recanto mais profundo da minha memória. Vá lá saber-se porquê !!!
Como a história do navio Angoche foram finais que ficaram por contar. A costa dos Esqueletos foi igualmente usada pelos refugiados portugueses que fugiram do socialismo angolano a caminho da terra do Rand. Como curiosidade alguns ficaram pelo caminho e ainda hoje podemos encontrar uma pequena comunidade de portugueses naquilo que já foi território de feitorias lusas e ex:colónia alemã.
ResponderEliminarPor algum motivo terá sido a paragem do navio nesse local. Mistérios do passado. Que ficaram por desvendar. A caminho dos países colonizados pelos portugueses. Mas quando lá chegaram já esses países estavam habitados. Portanto, os seus habitantes lutaram por aquilo que lhes pertencia.
ResponderEliminarComo os portugueses lutaram contra os espanhóis, que ocuparam Portugal de 1580 a 1640. Se o fizeram, foi porque não lhes agradava a sua presença.