Ontem à noite, pus-me a olhar para a televisão para ver o fogo de artifício lançado à meia noite, na zona da Ribeira, como o grande chamariz das festas do santo padroeiro desta cidade. Não sei dizer se foi culpa dos fogueteiros ou dos canais de televisão, mas não gostei lá muito daquilo que vi. Resultado, acordei a pensar nisso e no que poderia escrever para cumprir a minha obrigação de «bloguista encartado» que quero manter enquanto me for possível.
Enquanto Lisboa é uma cidade com menos de nove séculos na História de Portugal - foi conquistada aos mouros por D. Afonso Henriques, no ano de 1147 - a cidade do Porto perde-se na memória dos tempos. Quem se interessar por estas coisas tem muito que estudar para ficar a saber alguma coisa que se veja sobre a
Antiga, muito nobre, sempre leal e invicta cidade do Porto - foi assim, e por decreto de D. Maria II que passou a ser conhecida a capital do norte. A «Cidade Invicta», como é tratada por muitos escrevinhadores de notícias, deve este título à resistência que opôs às tropas liberais de D. Miguel que cercaram o Porto durante 13 meses, sem lá conseguir entrar. El-Rei D. Pedro ficou de tal modo grato ao povo do Porto que lhe deixou o seu coração em testamento, quando passou desta para melhor, pouco tempo depois destes acontecimentos. Coração que foi arrancado do peito do monarca, antes de o enterrarem, e continua guardado e venerado na Igreja da Lapa (por trás do Quartel-General) na cidade do Porto.
Esta imagem que vos deixo aqui tem muito a ver com as duas outras coisas que tornaram o Porto famoso e conhecido através de todo o mundo, o «Vinho do Porto» e as «Tripas». Começando pelas tripas, porque aparece em primeiro lugar na cronologia da nossa história, reza a lenda que o Infante D. Henrique, no seu propósito de organizar a maior expedição já vista em Portugal para partir à conquista de Ceuta, ordenou que fossem salgadas e armazenadas a bordo de naus e caravelas todas as carnes que havia na cidade. Como resultado disso, ficaram apenas as "miudezas" de vacas e porcos para dar de comer à população do Porto.
E foi assim que, recorrendo à inquestionável habilidade das nossas gentes, surgiram as famosas receitas culinárias, muito apreciadas pelas lusitanas gentes, e não só, das «Tripas à Moda do Porto». Acompanhadas com uma travessinha de arroz branco e uma boa garrafa de tinto, não há melhor petisco. Quem nunca provou deve organizar uma viagenzinha ao Porto, pois se morrer sem as provar nunca encontrará o caminho do céu.
A outra história ligada aos barcos do Douro é a da exportação de vinhos, não só o do Porto, para o Reino Unido. Os mercadores ingleses muito cedo descobriram os vinhos do norte de Portugal e começaram a importá-los regularmente. O negócio começou em Viana do Castelo, onde o estuário do Lima permitia óptimas condições à navegação, e com os vinhos verdes. Mas, na procura de vinhos de melhor qualidade e que resistissem melhor ao tempo e às viagens, cedo descobriram o Alto Douro e os vinhos que lá se produziam. Trazendo-os pelo rio abaixo até ao cais de Gaia, tornava-se mais fácil carregá-los nas caravelas e fazê-los seguir dali para Inglaterra, sem necessidade de passar por Viana, facto que motivou a mudança dos mercadores da cidade de Viana para a do Porto.
O comércio de têxteis, vindos de Inglaterra, e dos vinhos, idos de Portugal, aumentou de forma significativa depois do «Tratado de Methuen», também conhecido por Tratado de Panos e Vinhos, o qual estabelecia condições preferenciais nas trocas entre os dois países. Tratado esse que, por diversas razões, nos levou à ruína económica que dura até hoje.
Mas isso é outra história!
Ficamos sempre mal nos negócios com os Ingleses, que só foram nossos aliados no papel.
ResponderEliminarGostei imenso deste post. Mas fiquei lixada. Nunca pensei que um simples prato me impedisse de ir para o céu. Todas as vezes que estive no Porto, foi de Verão, e nessa época de calor vivo à base de saladas frias. Até a sopa, vai direta do frigorífico para a barriga. Mas gosto muito do Porto, cidade onde tenho algumas raízes.
Muito obrigada por esta lição de história.
Abraço e bom fim-de-semana
bom dia
ResponderEliminardepois de uma lição de historia já era tempo de vir alguma carne do talho que parece fechado á muito tempo e pensei que poderia abrir agora pelo verão .
B.F.S.
JAFR
Obrigado pela lição de história. Do passado fiquei sabendo o que ainda não sabia. Há quem diga que o passado não mais nos interessa. Isso será treta? Porque os erros cometidos no passado, podem se houver interesse serem evitados no futuro. Quanto às tripas à moda do Porto, fui algumas vezes à Refinaria de Leça da Palmeira. Um dia, nas proximidades da mesma, dirigi-me a um restaurante, consultei a ementa na qual constava tripas à moda do Porto. Foi o que pedi para o meu almoço. Mas, para mim aquilo era uma feijoada, com carne de porco e dobrada! Nada que eu antes já não tivesse comido noutros restaurantes! Devo ter sido enganado. Comi gato pensando que era lebre?
ResponderEliminarHoje aqui na Póvoa de Santa Iria, onde moro a cerca de 500 metros da minha casa fica o cemitério e a 50 metro a Igreja onde foi celebrada missa de corpo presente de 3 vitimas, mãe e duas filhas, do fatídico incêndio da "Estrada da Morte", Pedrógão Grande.
Tenhas amigo "Tintinaine", um bom fim de semana!