Segundo rezam os escritos dos historiadores que se dedicam ao período dos Descobrimentos, Lançarote de Lagos (ou de Freitas) era o camareiro do Infante D. Henrique e sempre arranjava maneira de que este o autorizasse a fazer o que queria. E que queria ele? Ganhar dinheiro, quanto mais e mais depressa melhor.
Assim, com a desculpa que queria ir desancar os mouros, organizou uma expedição até às ilhas de Arguim, situadas entre o Cabo Branco e o Cabo Verde, e regressou com uma valiosa carga que vendeu em Lagos por bom preço. Como de navegação não percebia nada, levou com ele o jovem capitão Gil Eanes que viria a ficar na História como o primeiro negreiro (vendedor de escravos negros). Gil Eanes, cuja vida não foi muito longa, haveria ainda de regressar ao mesmo lugar, ao comando de uma expedição de 14 caravelas, na companhia do insaciável Lançarote que mais uma vez convencera o Infante que era urgente ir lá pôr os mouros na ordem.
Vivia-se o ano de 1444 e a expedição regressou a Lagos com os porões carregados com a preciosa carga que Lançarote tinha ido lá buscar, escravos. O famoso navegador que dobrou o Cabo Bojador deve ter sentido na consciência um peso inenarrável, pois nunca mais saiu de Lagos e diz-se, sem muitas certezas, que morreu em 1446 com cerca de 30 anos de idade. O Lançarote não tinha consciência, em vez disso tinha um enorme baú cheio de dobrões de ouro, e deve ter continuado no negócio dos escravos por muito tempo.
Toda a gente sabe - e não vou perder o meu rico tempinho a repetir o que vem escrito em todos os compêndios de História - que o fluxo de escravos entre a África e a América começou pouco depois da sua descoberta. Com a falta de pessoal para desbravar o novo continente acabadinho de descobrir, os escravos negros foram a solução ideal e a um custo baixíssimo. E também toda a gente sabe que Portugal e os navegadores portugueses, depois de Lançarote de Lagos ter dado o tiro de partida, foram os grandes fomentadores desse negócio, depois continuado por ingleses, holandeses e franceses, até à segunda metade do Século XIX.
Vem tudo isto a propósito da notícia veiculada pelo jornal «A Bola» de que vão chegar ao Real Madrid propostas de compra, na ordem dos 180 milhões de euros, para levar o Cristiano Ronaldo. E quem é o Lançarote dos tempos modernos, quem é? Jorge Mendes, está-se mesmo a ver. Já o estou a ver com a máquina de calcular nas mãos a ver quanto lhe vai render a venda do seu escravo (moderno).
ao Portugueses são mesmo bons em navegação.
ResponderEliminarque grande lição de historia para chegar onde queria !!!
JAFR
Hoje em dia os escravos são como os diamantes. Em tempos idos os escravos eram como lata velha, mas rendiam ouro a quem os vendias sem os ter comprado!
ResponderEliminarGostei da lição.
ResponderEliminarUm abraço