sexta-feira, 24 de março de 2017

Memória que não se apaga!


Por muito que queira, as memórias da guerra por que passámos em África não se apagam. Volta e meia, por uma ou outra razão lá voltam elas a ocupar os meus pensamentos. Felizmente, não tenho muitos momentos negros a recordar, o que torna isto muito mais aceitável. Muito incómodo, algumas privações e pouco mais foi aquilo que me calhou na rifa. Muitos outros ex-combatentes tiveram pior sorte, sem falar naqueles que deixaram lá a vida.
Vem isto a propósito da imagem que vêem acima e que retrata três polícias londrinos todos "artilhados" para ir atrás de um terrorista que já estava morto. Isto faz-me lembrar dos tempos em que, durante as operações que levávamos a efeito no mato, carregávamos a G3, os carregadores de reserva, o rádio, o cantil, a lanterna, duas granadas, a ração de combate e, por vezes, alguma coisa mais para ajudar os que iam mais carregados. Cada passo que dávamos era um esforço considerável e correr estava fora de questão.
Por outro lado, os ditos terroristas andavam descalços, usavam apenas uma camisa leve e uns calções e como arma uma AK47 com dois carregadores unidos com fita-cola. E quando tocava a correr ninguém os apanhava. E digo isto com conhecimento de causa, pois corri algumas vezes atrás deles e nunca apanhei nenhum.
Lembro-me de uma operação que fizemos numa aldeia um pouco a norte da Chuanga para tentar apanhar algum dos "turras" que sabíamos que desciam das montanhas, durante a noite, para dormir com as mulheres. Aparecemos lá às 5 horas da manhã, ao raiar do dia, e a pretalhada desatou a correr pelas encostas acima, mal deu pela nossa presença. Ainda corremos atrás deles alguns metros, mas em 500 metros deram-nos um avanço de 300. Com aquela tralha às costas nunca teríamos a mais remota hipótese de lhes deitar a unha. A última da fila de fugitivos era uma mulher já entrada na idade, talvez uns 60 anos, e nem essa foi apanhada. Uma rajada disparada por cima das suas cabeças fez com que corressem ainda mais depressa.
Londres não tem, pressupostamente, qualquer semelhança com o mato do norte de Moçambique e não vejo qual a necessidade de polícias citadinos carregarem tanta tralha para patrulhar as ruas, onde a maioria deles nunca dá um tiro até ir para a reforma. Uma autêntica palhaçada, penso eu!

6 comentários:

  1. Guerras totalmente diferentes como sabes! No nosso tempo, os guerrilheiros das duas partes tinham a coragem de se enfrentarem, agora são cobardes que matam tudo o que lhe aparece pela frente sem dó nem piedade, são turistas, são crianças inocentes, são pessoas que regressam, ou vão para o seu trabalho! É uma terceira guerra mundial que temos que enfrentar sem medo, armados ou desarmados! E que está longe de ter um fim, infelizmente para os nossos descendentes, que têm a paz como objectivo de vida.

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  2. Dizem! Quem foge não quer guerra. Não será bem verdade. Quem tem cu tem medo.
    Theresa may, primeiro-ministro do Reino Unido. Diz que não tem medo do terrorismo. Não desacredito, porque ela está bem protegida. As imagens acima bem revelam o perigo da realidade, que se vive nalgumas cidades onde a ameaça terrorista pode explodir a qualquer momento!

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  3. Penso que todo esse armamento será mais uma manobra de intimidação para prevenir outros membros que ainda possa estar por perto, não sei.
    Um abraço e bom fim de semana

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  4. A existência do terrorismo, há muitos anos a esta parte, deve-se a inúmeras razões que, se bem analisadas, dão que pensar ... . Agora, o que não se justifica e muito menos tolerar, são métodos de crueldade e cobardia, intoleráveis . Nada pode justificar barbaridades cometidas contra inocentes e total indiferença a todo o tipo de danos causados . O terrorismo do século passado, que Portugal teve de enfrentar, também atentou, para além das forças militares e policiais, sobre populações indefesas, cujas consequências, em muitíssimos casos, foram selváticas e altamente repugnantes ; portanto, a sua doutrina actual, não anda longe daquilo que sempre perfilhou, face a objectivos, designadamente : impor determinado poder, fanatismo ideológico ou crença destituída de tolerância e de valores civilizacionais, atingindo alvos a abater ou causar terror e destruição sem limite, provocando alarmismo e instabilidade a vários níveis, sem um mínimo de racionalidade ! No meio disto tudo, não deixa de ser surpreendente a actuação e passividade de alguns estados que, em nome daquilo que os terroristas desconhecem ou não aceitam, vão tentando contemporizar princípios incompatíveis com o que se impõe, uma vez que o terrorismo não tem regras nem contemplações e, por isso, deve merecer tratamento drástico e exemplar ; tanto assim, que atento a gravidade excepcional, torna-se indispensável actuação e punição de excepção e, como é óbvio, não se pode crer salvaguardar valores instituídos civilizadamente em detrimento de direitos e defesa da sociedade em geral . Se assim não for, correr-se-ão riscos e susceptibilidade de se sofrer desmandos, de toda a espécie, provocados por este banditismo . Naturalmente, para além dos mecanismos de prevenção e repressão, consideram-se indispensáveis trocas de informações e devido tratamento que, infelizmente, nem sempre tem sido satisfatório, entre serviços e forças de segurança a nível nacional e internacional ; sem dúvida, não vale a pena haver ilusões, o terrorismo é uma realidade, pode surgir em qualquer país e quando menos se espera, pelo que o alerta e medidas de segurança devem ser uma constante . Um abraço .

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  5. Eça de Queiroz chegou a Leiria em 1870, como administrador do Concelho de Leiria, onde permaneceu até 1873 altura em que foi nomeado cônsul de Portugal em Havana. Foi nessa altura que escreveu o Crime do Padre Amaro.
    Um abraço e bom fim de semana

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    1. Sabia que nasceu na Póvoa e morreu em Paris, o que fez pelo meio passou-me completamente ao lado.

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