Assim chamada por ter sido dali que saíram as ideias modernas do pensamento humano. Depois dos grandes filósofos gregos da Antiguidade Clássica, foram os filósofos franceses do Século XVIII a marcar a cultura mundial. Acho que todos sabem isto, não estou a contar novidade alguma.
Mas a mim Paris interessa-me por outras razões. Esta cidade francesa era uma espécie de placa giratória, na década de 60 do século passado, para a emigração portuguesa e eu, como muitos milhares de outros portugueses, também por lá passei. E essa década foi marcante na minha vida, durante esses dez anos aconteceu tudo aquilo que estabeleceu o que seria a minha vida, até aos dias de hoje.
Em 1960 conclui os poucos estudos que os parcos haveres dos meus pais me puderam pagar.
Em 1961 arranjei o meu primeiro emprego, na Indústria Têxtil, a maior empregador da minha zona de residência.
Em 1962 mandei esse emprego às urtigas e alistei-me na Marinha de Guerra Portuguesa, como voluntário.
Ainda antes de 1962 terminar já eu estava em Moçambique, de G3 em punho, pronto para defender a Pátria, como me era exigido pelos políticos e interesses económicos de então.
Em 1968 regressei de Moçambique, felizmente sem uma beliscadura no meu físico, e abandonei a Marinha.
Ainda nesse mesmo ano arranjei o meu segundo emprego, desta vez na Indústria de Cordoaria, o maior empregador da Póvoa de Varzim, e comecei enfrentar a vida por conta própria. Até ali sempre tive cama e mesa garantida, primeiro na casa paterna e depois na Marinha.
E ainda antes de terminar o ano de 1968 casei-me e dei a machadada final na minha liberdade de movimentos e decisões.
Em 1969, já farto da indústria das cordas que não me pagava o suficiente para alimentar a mulher e a filha entretanto nascida e meti os pés a caminho da emigração.
E foi nesse célebre ano (para mim, claro) de 1969 que me vi, pela primeira vez, debaixo da Torre Eiffel.
E antes de esse ano terminar ainda arranjei emprego num navio de bandeira panamiana que do porto de Antuérpia se preparava para zarpar para o Cairo. Um salto da Marinha de Guerra para a Marinha Mercante, como podem ver.
Mas continuar na Marinha não foi o meu fado e no dia seguinte, por razões que levaria muito tempo a explicar, desembarquei e pus-me a caminho da Alemanha, país onde vi chegar o ano de 1970.
Depois de 1969, várias vezes estive debaixo da famosa torre de Paris, mas nunca consegui subir lá acima para desfrutar da linda vista que a imagem acima documenta. Longas bichas de interessados, como eu, que se moviam a passo de caracol, assim como o meu tempo sempre limitado por afazeres profissionais, não me permitiram satisfazer esse desejo.
E agora acho que já é tarde para voltar a pensar nisso, além de que as bichas são cada vez maiores (segundo tenho ouvido dizer).
Pou moi ... Paris c'est fini!