quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

O Pânico e o Terror!

No desempenho das minhas funções, na empresa onde trabalhei a maior parte da minha vida, quase toda desde que saí da Marinha, conheci pessoas, cujas histórias dariam para escrever um livro. Não sei que título lhe daria, talvez «Os Cromos da Minha Caderneta» fosse uma boa escolha.
Pensei nisto ao ler as notícias da Bolsa de Paris que sigo com a maior atenção, por causa das minhas economias que tenho por aí investidas. E porquê? Porque as notícias são tudo menos animadoras. Desde o princípio do ano, as perdas já ultrapassam os 10%, mas algumas das principais empresas cotadas na Bolsa perderam muito mais que isso. Basta tomar como exemplo a Shell que passou de 25€ para cerca de 17€, perdendo um terço do seu valor. Os 9.000€ que investi nela só valem 6.000€. Se eu fosse um magnata e tivesse investido 30 milhões, teria já perdido 10 desses 30. E diz-se que o petróleo vai continuar a descer.
O Banco Santander Totta (aquele que ficou com o Banif) é outro bom exemplo do grande risco que representa um investimento na Bolsa. Um banco de tamanho monumental e com contas sólidas, como afirmam todos os analistas, cai em cerca de 5 meses de 5.50€ para 3.75€, mais de 30%.
E agora regresso à Minha Caderneta de Cromos para vos falar de um vendedor que tinha por hábito visitar-me todas as semanas e escolhia o dia de sexta-feira, mesmo ao fim do dia, porque morando em Vila do Conde, dali seguia directo para casa quando acabava a conversa comigo. Raramente tínhamos algum negócio a discutir, pois a empresa onde trabalhava estava no último suspiro e a minha fugia dela a sete pés para evitar problemas.
Depois da pergunta da praxe - então como vão os negócios, há alguma coisa para mim? - e da minha já habitual resposta - não, infelizmente não, o negócio anda pelas ruas da amargura - vinha a meia-hora de conversa jogada fora que encerrava o seu dia de trabalho, onde havia sempre lugar para uma anedota. Isso já era tão habitual que às vezes, quando chegava e me apertava a mão, em vez de dizer - olá, como estás - dizia - a de hoje é muita boa, de escangalhar a rir.
Numa dessas célebres sextas-feiras, entrou logo a matar e, ainda apertando-me a mão, disparou:
- Sabes qual é a diferença entre pânico e terror?
- Não, respondi eu, sem me dar ao trabalho de pensar muito na coisa.
- Pânico, disse ele, é a primeira vez que não consegues dar a segunda. E terror é a segunda vez em que não consegues dar a primeira.
Pois, meus caros amigos, foi nisso que eu pensei de imediato, quando comecei a ler as notícias emitidas pelos analistas da Bolsa de Paris. O pânico foi na semana passada com as cotações a descer todos os dias, hoje é o terror pela quase certeza que as coisas não vão melhorar. Abaixo deixo-vos uma pequena notícia (mesmo em francês para vos obrigar a puxar pela cabeça), onde se pode ver a preocupação que domina os mercados.
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L'exercice risque d'être difficile pour la BCE aujourd'hui. «Les récentes secousses sur les marchés financiers, les craintes que les prix du pétrole puissent ralentir l'économie mondiale plutôt que de la dynamiser, et les inquiétudes autour de la Chine et des marchés émergents ont alimenté les spéculations autour d'une nouvelle action», de la Banque centrale européenne (BCE), souligne Carsten Brzeski, économiste chez ING.
Mercredi, tous ces facteurs ont à nouveau pesé sur les Bourses européennes, Francfort abandonnant 2,82%, Paris 3,45% et Londres 3,46%.
En ce qui concerne l'économie réelle, ajoute M. Brzeski, «la zone euro semble toutefois être préservée de cette tempête pour le moment (...), nous pensons que la BCE va garder en réserve les munitions qu'il lui reste, du moins pour cette semaine».

5 comentários:

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  2. Está mais do que visto, de que é o petróleo a energia que no mundo tudo faz girar! Baixo o petróleo, abranda a construção, não cresce a economia, perdem-se postos de trabalho, perde quem investiu na bolsa. Afinal quem é que ganha com a descido do petróleo?
    Essa do pânico e o terror, não sei se será bem assim como o vendedor contou?
    Eu penso de que o pânico e o terror, é muito mais do que isso!
    Costuma dizer-se só perdem quem tem, porque quem nada tem nada pode perder!

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  3. Pois também estive e ler à bocado sobre isso. Até já se diz que é a maior perda desde 2008. E li também isto.

    Todas as 17 empresas do PSI 20 perdem valor desde o início do ano, com a Mota-Engil a ser o grande destaque pela negativa. A construtora já perde 33,5% em Janeiro, segundo contas do Jornal de Negócios, tendo mesmo visto as acções serem suspensas esta semana devido a uma queda que chegou a ultrapassar os 21% na passada segunda-feira.

    Parece que não é só a queda do petróleo, mas que a incerteza dos mercados chineses é também grande culpada disso.

    Um abraço

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  4. O terror que estão a ter, já é antigo porque desde que deixei a França em 1975, só tive aumento de retrete os dois primeiros anos, esqueceram-se que tenho que comer todos os dias, a minha mulher que pediu a dela 5 anos depois, nunca cheirou o aumento! Pagam melhor que a S.Social portuguesa, mas esqueceram-se da inflação!

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  5. É assim, tens toda a razão, face a investimento que gorou as tuas expectativas, assim como as de muitos, de boa fé . Ao fim e ao cabo, a grande maioria dos que trabalham honestamente e que procuram rentabilizar alguma coisa do que conseguem amealhar, não conseguem fugir ao destino, contribuir para engordar a malandragem/ladroagem - oportunista e especuladora - que se implantou neste mundo em que vivemos, cujas regras são o salve-se quem puder ! As Entidades, que era suposto velarem pelo total cumprimento de regras com vista a salvaguardar aqueles que nelas confiaram, têm sido de uma autêntica incompetência e de uma irresponsabilidade sem limite ; mais, ficando sempre na situação de intocáveis, no tocante à sua responsabilização, a pretexto de justificações que são intoleráveis ! Assim, banqueiros, investidores/especuladores e mercados bolsistas, têm-se permitido a tudo, beneficiando de elevados lucros e, quando as coisas se alteram, pela negativa, surge a factura para os contribuintes e em prejuízo daqueles que neles confiaram ! Esta pouca vergonha e nítida falta de escrúpulos, resume-se simplesmente a isto : quando o dinheiro desaparece, alguém ficou com ele ; o mesmo será dizer : para uns o terem, outros ficaram a penas com ar nos bolsos . Quanto ao negócio do petróleo, não deixa de fugir à regra especulativa e consequentes variações de preço ! Veja-se onde ocorre a sua extracção/exploração e em que mercados se verifica, a nível mundial, a sua comercializado . Por norma, o seu baixo custo, permite benefícios às muitas/diversas economias ; no entanto, também funciona como grande fonte de receita de muitos Estados, o que leva a que estes nem sempre intervenham, como deviam, nas respectivas alterações de preços, especialmente, quando descidas se impõem . Um abraço .

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