Ontem, foi dia de acompanhar o meu irmão fuzileiro que é 6 anos mais novo que eu, mas está muiiito pior que eu. Não sei porquê, mas a doença de Parkinson, ou uma das suas variantes, tomou conta do seu cérebro e agora só funciona a comprimidos. Vê-se negro para conseguir sair da cama e tomar o primeiro comprimido que serve de motor de arranque para ir dando uns passos.
Na nossa família, ramo materno, há um historial de Alzheimer, mas nada de Parkinson, mas se o médico dele afirma que aquilo é Parkinson, quem sou eu para discordar. Andar não é mais que ir pondo um pé à frente do outro, mas isso é que o cérebro dele se recusa a fazer, quero dizer, dar a ordem ao pé para se mexer. De 3 em 3 horas, toma um comprimido que demora cerca de 20 minutos a actuar e lá vai ele à desfilada. Depois de tomar o comprimido parece que as ruas são todas a descer.
Ontem, convidou-me para o acompanhar, pois apetecia-lhe dar uma volta, fora dos seus trajectos habituais que consistem em entrar para o Metro que passa a escassos 200 metros da sua casa e regressar a casa a tempo de comer a refeição seguinte, e não tinha quem o acompanhasse. Até à hora do almoço, andámos a dar voltas de carro por zonas que, antigamente, eram um deserto e hoje são autênticos labirintos de construções erguidas a esmo, segundo o tamanho da gorjeta metida na mão do autarca a quem cabe assinar a licença de construção. De tarde é que foram elas, ele engoliu o terceiro comprimido do dia e embalou por ali fora, comigo na sua perseguição, e fez tudo o que as suas pernas aguentaram.
As minhas é que não aguentam tanto, não sei se por ter quase mais 7 anos que ele ou se por ter qualquer doença que me afecta de modo diferente da dele. Hoje, acordei e mal conseguia pôr os pés no chão de tão doridos que estavam. Agora, estou aqui instalado no meu cadeirão, comprado para o efeito, a contar-vos a história que não deve ter o mínimo interesse para quem não conhece o meu irmão fuzileiro (por mero acaso filho da escola do Valdemar Alves que é meu seguidor) e a mim apenas virtualmente.
É assim a vida dos velhotes, lembrar com saudade os tempos passados que eram mais felizes que estes, ou carpir as mágoas destes tempos que são a recta final da nossa existência e nem sempre fáceis. Não há volta a dar, o melhor é aguentar com um sorriso nos lábios!
É uma doença tramada e por aqui há casos desses e temo por eles não terem companhia. Tiro-te o meu chapeú por dares o apoio que ele te pede.
ResponderEliminarBeijos e tudo a correr pelo melhor
Carpir as nossas mágoas, quando nos encontramos mais debilitados, não é vergonha nenhuma nem prova de fraqueza, faz parte da natureza humana.
ResponderEliminarHoje, todas as maleitas têm um nome, numa homenagem, assaz justa, aos cientistas que descobriram a sua origem. De resto, sempre existiram. Os afectados pela doença de Alzheimer, eram "tolinhos", «coitados já se esquecem de tudo e não dizem coisa com coisa». Enfim...tudo o que mais desejo, para mim e para todos, é que Deus nos leve na posse de todas as faculdades mentais.
O físico? Ah, pois...vai-se degradando como tudo na vida, mas quem o comanda...é quem nele manda. O cérebro!
Boa sorte, que tudo (nos) corra na medida dos nossos desejos.
Saúde!
Bom dia
ResponderEliminarHá cerca de dois anos que estou a ser medicado para essa maldita doença que me está a afetar a braço esquerdo.
Até tenho medo de ouvir , ou falar nela.
JR
Este já é o segundo caso de camaradas do Dest. 11 que tenho conhecimento que adoeceram e sinceramente sinto arrepios ao ler isto. Lembro-me que o David mencionou estar doente mas nunca pensei ser Parkinson. Saber que um dia tivémos toda a pujança da nossa juventude e agora precisamos de ajuda dá que pensar. Conhecedor dos efeitos do Parkinson resta-me desejar ao 1491/68 que consiga manter uma vida com a dignidade que todos os ex:combatentes merecem.
ResponderEliminarA coisa está difícil, cada dia que passa perde mais autonomia!
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