... convida à preguiça, ficar na cama até ao meio-dia, etc. e tal. Mas para isso é preciso ter uma cozinheira em casa que nos prepare o almoço. Ou fazer como alguns, armados em ricos, que se levantam tarde, rapam a barba e dizem para a mulher: - hoje vamos almoçar fora!
Eu pertenço a um grupo de pessoas que não é amigo da preguiça, levanto-me cedo todos os dias e tenho uma rotina muito simples. Fico-me pela ala de estar a ver televisão ou a jogar um jogo de paciência, pois antes da 8 não gosto de tomar o desjejum. Hoje eram 8.30 horas quando fui para a cozinha e liguei a cafeteira elétrica para ferver a água para o café.
A minha cara-metade ainda dormia a sono solto, diz ela que o melhor sono é o aquele que acontece antes de se se espreguiçar e dizer: - oh, já é tão tarde! E eu grito-lhe lá da cozinha: - continua a dormir que depois vamos à Casa dos Frangos comer um "pito" com batatas fritas. Está bem, responde ela. Mas depois de acordar e fazer a higiene matinal, ela já mudou de ideias e acrescenta: - afinal almoçamos em casa, ando mal do fígado e não estou para batatas fritas.
E eu, sossegadinho no meu canto, não tenho mais que dizer: - está bem, tu é que sabes! E depois desta curta frase, pus-me a pensar na vida e naquilo que se tem passado nos últimos 30 anos. Sim, porque os anos passam depressa, depois dos 50 anos de idade. Se vocês já por lá passaram sabem ao que me refiro. Tudo são recordações, como cantava o outro, fazer já não fazemos nada. Razão têm os ingleses para usar dois verbos (To do e to make) que separam bem as coisas. To do nothing else than thinking ou então, to make someting useful.
Pois, a pensar é que vocês me apanharam e já vos contarei que pensamentos me passavam pela mente, antes pegar no meu novo "Lenovo" e vir até junto de vós para vos pôr a par o que eu penso, embora pense que talvez se estejam a borrifar para isso que nem vos aquenta nem arrefenta.
Pois, aconteceu que um dia, há mais de 30 anos, me sentia meio adoentado e, depois de sair do emprego passei pelo Centro de Saúde e perguntei se havia um médico que me pudesse atender. Era no tempo em que havia um ou dois médicos que faziam o chamado reforço - para as consultas de urgência - entre as 18 e as 20 horas. Segundo ouvi dizer, o actual Ministro da Saúde vai implementar isso para funcionar também aos sábados e domingos, dias em que o Centro está encerrado. Boa sorte, espero que o consiga, antes de ir de vela, pois no hospital é pouco menos que impossível entrar.
O médico que temos aqui a esta hora é a Drª Fernanda, responderam-me quando fiz aquela pergunta. Para mim serve qualquer um, já sei que me mandam para casa e tomar paracetamol ou brufen. Mas não foi bem assim, a Dr.ª Fernanda (que eu nunca mais encontrei na minha vida) pegou no seu aparelhinho e começou por medir a pressão arterial que, pelos vostos, devia estar para lá do segundo andar, pois ela perguntou-me: - você é hipertenso? Que eu saiba não, foi o que eu lhe respondi, pois até àquele dia a minha pressão arterial nunca me tinha dado problemas.
Saí do Centro com uma guia para ir fazer EC (electrocardiograma) a título de urgência, pois a minha doença, o mal-estar que senti, durante todo o dia, não passava de um descontrolo da dita pressão, o que nos diz que algo não está a funcionar bem, dentro da nossa caixa torácica. No seguimento disso, fui ao cardiologista (que ainda hoje é o mesmo a quem recorro para estas coisas), fiz o exame e saí de lá com a palavra «Hipertenso» escrita na testa e uma receita para comprar um hipotensor que dá pelo nome de Aprovel.
Tomei-o durante alguns anos e, um certo dia, perguntei à minha médica de família se não havia outro remédio para o mesmo fim e que fosse mais barato, pois o Aprovel era só para quem tinha carteira de rico que não era o meu caso. Há disso aos montes, respondeu ela, tem alguma preferência. Claro que não tinha e ela receitou-me algo de que eu já nem o nome recordo. Depois de anos a tomar isso e muitos EC's depois, receitaram-me Enalapril, mais adequado às minhas circunstâncias.
O tempo foi passando e o coração a falhar cada vez mais, a minha médica de família entregou-me a um seu antigo colega de faculdade que era, agora, o cardiologista do Hospital cá da terra. Disse ela que eu precisava de um acompanhamento personalizado. E lá andei com esse médico, durante meia dúzia de anos que além dos habituais EC's me mandou fazer outros exames e me substituiu o Enalapril por um tal Lisinopril que tomo até hoje.
Pelo meio e por conta dos exames feitos ele descobriu que eu "morria" várias vezes, durante a noite, e tivera muita sorte em ressuscitar sempre a tempo de continuar a respirar. Durava apenas alguns segundos, tempo esse em que eu ficava no limiar do outro mundo, à espera de ordem para avançar ou recuar. O S. Pedro foi sempre meu amigo e mandou-me continuar a viver, pois achava que era ainda cedo para eu ir aumentar as hostes dos que por lá andam a cantar hossanas, dia e noite.
À conta disso, lá ganhei um pace-maker que não me deixa passar para o outro lado. Cada vez que o coração para leva um chuto que o faz acordar e seguir em frente. Parece que oi há meia dúzia de meses, mas já lá vão 8 anos e já tenho uma reserva no bloco operatório do Pedro Hispano para daqui a dois anos.
Entretanto, tenho visto muitos amigos e antigos camaradas fuzileiros tombar e seguir viagem para a eternidade. E eu por aqui vou ficando, enquanto o meu nome não surgir no quadro electrónico que deve existir lá no céu, avisando para eu m dirigir à porta de embarque respectiva. Aquilo deve ter um movimento danado e só com a ajuda da electrónica lá vai.
Bom domingo para vós todos com saúde e alegria !!!