segunda-feira, 3 de julho de 2023

O Charroco!

 


Charroco é um peixe feio com'ó caraças!

E quando se atribui a alcunha de charroco a um dos nossos camaradas, isso quer dizer o quê? Que é feio? Não sei, não me lembro da cara do meu camarada de recruta (16679), o Manel Morais, para testar essa teoria. A primeira vez que ouvi o nome foi na Escola de Fuzileiros que fica numa zona em que a maré que entra pelo rio Coina dá vida a muitos bichinhos que se comem e dão a muitas famílias a chance de ganhar alguns cobres extra. Mariscos de vária espécie e o charroco que fica enterrado no lodo, quando a maré desce, estão nessa lista.

A Escola fica na margem direita do Coina, um pouco a jusante da povoação do mesmo nome e não muito longe da confluência com o Tejo. Quando a maré estava no seu ponto mais baixo, o rio era apenas um fiozinho de água que corria pelo meio de um imenso lodaçal. Era nessa altura que os habitantes de Coina e outros vindos da margem direita, talvez da aldeia de Paio Pires, se aventuravam pelo meio do lodo à procura do famoso peixe que é feio, mas sabe muito bem no prato. Se lhe juntarmos umas ameijoas, umas conquilhas e umas lambujinhas fica um petisco de se lhe tirar o chapéu.

Petiscos aparte, o que aqui vim dizer é que o Charroco morreu. Não me lembro da cara dele e nunca mais o vi, depois do curto período que passámos na Sagres para aprender um pouco de Marinharia. Enquanto estive na Sagres ele ficou na Escola e poucos dias depois de regressar à Escola fui destacado para o Corpo de Marinheiros, com mais 80 camaradas que tinham dado o número para entrar na Companhia 2 que estava em preparação para seguir para Moçambique. O Charroco ficou para trás, não quis entrar no Curso de Especiais e passados 6 meses já estava na Guiné, na Companhia 3 e nunca mais os nossos destinos se cruzaram. Agora, recebeu a Guia de Marcha para o outro mundo e só lá nos poderemos encontrar de novo.

Morrer nesta idade, depois dos 80, não é novidade nenhuma e limitamo-nos a encolher os ombros e dizer entre dentes: - hoje tu, amanhã eu! E a vida continua. Paz à sua alma e que Deus lhe dê o lugar que ele merece!

2 comentários:

  1. Como para começar este comentário tenho de lhe pegar por algum lado, decidi que o melhor lado seria essa alcunha do seu camarada Manel Morais. A minha teoria é outra, pode que o então jovem recruta não fosse assim tão feio quanto lhe parece feio o peixe charroco.
    A particularidade deste peixe está no tamanho da cabeça e não na sua feiura.

    Esse peixe que vive no lodo faz-me lembrar um outro que vive no fundo do mar; o tamboril.
    As ideias, tal como as conversas, são como as cerejas. Vai daí, veio-me à ideia o arrozinho de tamboril, com meia dúzia de camarões a nadar por cima, que fiz ontem para o meu almoço. Ficou de lamber os beiços...e chorar por mais.

    Este tamboril de pele dura e difícil de arrancar, comprei-o congelado, limpo e sem pele, numa peixaria que abriu recentemente perto de minha casa. Uma delícia de sabor, porque tive o cuidado de o cozer previamente em água temperada com sal, uma folha de louro, um dente de alho e uma casca de limão. Aproveitei a água depois de coada por um passador para dar gosto ao arroz.

    Como sei que já está a salivar, vou dar-lhe a receita completa para a sua cara-metade lhe fazer a vontade!
    Fiz um bom refogado (por aí deve dizer-se estrugido) com uma cebola média, um dente de alho, um tomate maduro, escaldado para lhe sair facilmente a pele, e sem deixar queimar nem dourar em demasia - para isso costumo locar a tampa no tacho - deixei que o tomate se desfizesse o mais possível, mexendo de vez em quando. Acrescentei a água de cozer o tamboril e, quando levantou fervura, juntei o arroz.

    Só quando estava quase pronto é que coloquei as postas de tamboril e os camarões. Tacho tapado, lume no mínimo, e passados dois minutos provo, rectifico os tempêros e polvilho de salsa picada.

    Tivesse eu umas amêijoas dessas negras, do nosso Algarve, ah, isso teria sido um perfeito manjar desta deusa, que também gosta de se auto-mimar... :)

    Boa semana.

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    1. Isto é que é um comentário! Maior que o texto do autor! Não sou muito entendido em peixes e pensava que charroco e tamboril era o mesmo peixe! Hei-de ver se arranjo tamboril congelado nas peixarias aqui da zona e vou atrever-me a executar a receita.

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