sábado, 15 de julho de 2023

O "Burro" Humano!

 A primeira vez que embarquei para uma viagem a sério, a bordo de um navio de guerra, foi em 1963 e o navio era o «Bartolomeu Dias», irmão gêmeo do «Afonso de Albuquerque» que perdemos para o Nehru, em fins de 1961. Eram avisos de 1ª, altos e com o convés em madeira que era preciso calafetar, de vez em quando, para evitar que pingasse nas cobertas do piso abaixo. E devido à sua altura, maior que o habitual em outros navios, e ao peso, que o habitual. o fazia dançar em cima das ondas que era uma beleza. Só os de estômago forte aguentavam sem enjoar a bordo desta pérola que ainda anda por aí para ensinar História aos novos marujos.


A viagem programada ia até à Ilha de Moçambique, com passagem por Inhambane e pela Beira. Lá chegados, a maior novidade foi o táxi de duas rodas puxado por um burro humano. Eu nunca tinha visto um riquexó, nem em filmes, e aquilo pareceu-me um tanto ou quanto imoral. Pôr um homem a trotar para passear dois turistas, a troco de umas poucas moedas, não me caiu no goto e fui incapaz de montar nele.


Alguns camaradas o fizeram, para registar a ocasião em fotos que depois mostravam a quem não acreditava que aquilo podia existir de verdade. Felizmente a Ilha mal saía da água para evitar ser alagada e o percurso era sempre em terreno plano. Mesmo assim o negro que trotava entre os varais escorria suor pelo peito abaixo, mas agradeciam as poucas moedas que recebiam e lhes permitiam comer uma refeição ao fim do dia de tralho.


Depois desta primeira experiência, comecei a ver os riquexós, mais nos países orientais em filmes e muito mais tarde, ao vivo, quando visitei a Índia. Mas o burro humano fora já substituído por um ciclista, o que apagou definitivamente a imagem de escravidão que davam os riquexós da Ilha de Moçambique.


E com o mundo não para e a evolução é constante, em breve, apareciam os riquexós motorizados, como os milhares que encontrei, em Bombaim, quando lá fui, em 1999. Nunca andei pelo Oriente, mas parece que por lá não faltam, nos dias de hoje, e cada vez mais e mais modernos. Acabou o burro humano, agora chamam-se taxistas.


Na imagem acima, os riquexós lisboetas, baptizados de Tuk-Tuk, sabe Deus o que esse nome traduz e de onde veio. Tal como vi em Bombaim, agora é em Lisboa que existe uma verdadeira poluição deste meio de transporte para passear os turistas que nos visitam. E, muito diferente do que vi em Moçambique, aqui largam uns euritos e não umas meras moeditas que sobravam no fundo dos boldos de um marinheiro português.

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2 comentários:

  1. Bom dia
    Mais uma publicação com princípio , meio e fim .
    Aprende-se sempre algo de bom com o amigo .

    JR

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  2. Desta vez, vou fazer minhas as palavras do JR, pois penso o mesmo acerca da sua escrita.
    Acrescentaria apenas uma pequena 'rectificação' ao título escolhido pelo autor: em vez de "burro" eu diria condutor.
    O burro transportava no lombo a carga e o dono, agora o condutor, independentemenrte do veículo usado, faz o mesmo... ;)

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