Um sonho desfeito!

 

Para me juntar à luta pela defesa do Planeta e lutar contra as alterações climáticas, eu tinha decidido vender o meu automóvel (antiga palavra portuguesa caída em desuso) e comprar um burro. Não um cavalo ou uma mula - há muita gente que mal sabe a diferença entre estes animais - mas um burro, animal mais dócil e menos exigente em termos de tratamento. Assim uma espécie de Volkswagen do mundo animal.

Mas surgiu-me um problema, a seca. Com ela a palha tornou-se mais rara que o petróleo e o aumento de preço foi muito maior e impediu-me de realizar o meu sonho. Eu até já tinha arrendado um terreno que estava a monte, há bastantes anos, e tinha pensado em comprar uma pequena moto-cultivadora para dar uma esgantandela na terra e provocar o nascimento de algumas ervas com que o burrito pudesse enganar a fome. É que o pobre animal não pode comer apenas palha, precisa de alguma coisa mais macia que o ajude a deglutir  a seca palha.

Quem tem fome cardos come, lá diz o ditado. E eu lembro-me de, em pequeno, ver os burros comer mato. Mas como não são burros de todo, só mastigavam os rebentos mais tenros, em que os picos do mato ainda se dobram á força das suas mandíbulas. Dar uma fresada na terra, espalhar umas sementas de erva molar e esperar que as chuvas da Primavera as fizessem nascer e depois promover o meu burro a rei daquele pedaço, foi um sonho que caiu por terra com a falta de chuva. Não choveu no Inverno e dizem que também não choverá na Primavera e assim a palha será pouca para tanto burro e cada vez mais cara. Talvez o burro que eu tinha em vista vá parar ao matadouro e eu nada poderei para o desviar do seu triste destino.

Se calhar, é melhor fazer o mesmo ao meu Ford Mondeo, já que o pitrol vai continuar a subir - se o Putin insistir em invadir a Ucrânia pode mesmo chegar, ou até ultrapassar, os 150 dólares por barril. Vou perguntar quanto me oferecem pelo abate e depois decido. Afinal, não penso ir para o cemitério no meu carrinho, outros me levarão!